Quando as férias são para servir os outros

Maria Portela gasta parte do seu tempo de descanso a animar outras crianças e jovens. Fá-lo para poder proporcionar a outros experiências que foram transformadoras para si própria. Um serviço bidirecional, em que se conhece e dá a conhecer.

Maria Portela gasta parte do seu tempo de descanso a animar outras crianças e jovens. Fá-lo para poder proporcionar a outros experiências que foram transformadoras para si própria. Um serviço bidirecional, em que se conhece e dá a conhecer.

Escrevo estas linhas em consequência de um desafio que me foi lançado, o de partilhar um testemunho sobre como dedico o meu tempo de descanso “ao serviço dos outros”.

Deixem-me já desfazer o romance com dois avisos. Primeiro, se é verdade que sou animadora nos Gambozinos (campos de férias ligados à Companhia de Jesus que juntam crianças e jovens de várias proveniências), também é verdade que muitas destas atividades são extremamente ricas para mim, e é preciso cautela para que não seja o egoísmo o motor deste serviço. Depois, sou uma estudante universitária. Acredito que seja muito mais fácil dedicarmo-nos a este tipo de atividades quando sabemos que temos mais do que 22 dias úteis de férias para gozar.

Dito isto, passo a explicar os critérios que uso na altura de selecionar atividades para as férias de verão. Estamos a falar da única época do ano em que não há rotinas, horários ou prazos de entrega. É uma liberdade que pode ser esmagadora e se pode facilmente gastar  – pelo menos, no meu caso – em horas exageradas de preguiça ou a vaguear entre vídeos de bricolage. Ou pode ser uma oportunidade de experimentar aquilo que não é possível fazer noutras alturas, e que sei que me ajuda a crescer.

Algumas destas experiências acabam por se traduzir em formas de serviço, mais ou menos visíveis.

Um apelo forte é a responsabilidade que sinto de ajudar a proporcionar experiências, que para mim foram transformadoras, a outros. É parte do que me leva a animar campos de férias dos gambozinos, dez dias de acampamento com crianças e jovens de meios sociais contrastantes, em que se fazem atividades que procuram estimular o crescimento pessoal e espiritual. Foi aí que aprendi a rezar, e que não é preciso viajar muito para conhecer alguém bem diferente de mim; e espero que os meus animados o possam aprender também. É também o que me leva a regressar este ano às Olimpíadas Internacionais de Biologia, desta vez como voluntária, depois de já ter sido participante.

Outro é o conhecer mundo e abrir horizontes, que incluo como forma de serviço por ser um processo bidirecional, em que eu simultaneamente conheço e dou a conhecer. Curiosamente, isto acontece – de formas diferentes, é claro! – tanto no ambiente internacional e multicultural das Olimpíadas, como no isolamento do mundo, centrado no essencial e na relação pessoal, dos campos de férias.

Finalmente, considero importante dedicar tempo a desenvolver e a usar os dons que tenho, e que não consigo explorar tanto em tempo letivo, pelo que este verão participarei ainda no labOratório, uma semana dedicada à música litúrgica, bem como numa digressão com um coro de que sou membro. Pelo meio, conto riscar uns quantos títulos na minha lista de leitura, e passar tempo com a família e amigos que a vida de emigrante me faz ver menos vezes.

Ginástica de datas à parte, tudo isto se passa de forma relaxada e sem grandes pressões. Desta maneira, sei que me consigo divertir, conhecer gente interessante, aprender algo novo e, no geral, passar um bom bocado. E saber que não vou ser a única a sair melhor destas férias torna tudo muito mais bonito.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.