Peças que evocam o P. Manuel Antunes, sj

Instalações artísticas criadas pelo artista plástico Rui Aleixo em exibição na Igreja de São Roque, em Lisboa.

Instalações artísticas criadas pelo artista plástico Rui Aleixo em exibição na Igreja de São Roque, em Lisboa.

O centenário do nascimento do P. Manuel Antunes, sj, ilustre pensador e pedagogo, foi o mote para a criação destas duas peças que estão em exibição na Igreja de São Roque, em Lisboa.

Aqui fica a explicação do que são e porque foram criadas.

Dos porquês desta encomenda

Para além de professor na Faculdade de Letras, o jesuíta Manuel Antunes foi também director da revista de cultura Brotéria. Com um olhar atento e de pensamento fino, Manuel Antunes multiplicou-se em artigos sobre literatura, política, pedagogia, estudos clássicos, mostrando neles abertura, capacidade de diálogo e espírito crítico. Os seus textos foram, por isso, lugares de encontro com a cultura.

Ao convidar um artista plástico contemporâneo, a Brotéria quis cumprir essa missão de abertura e de diálogo, ao mesmo tempo que celebra o centésimo aniversário do nascimento deste jesuíta.

Sobre a realização das peças

Ao visitar os espaços da Brotéria, o artista plástico Rui Aleixo foi inspirado, inicialmente, pela cadeira de Manuel Antunes, que figura em certas fotografias emblemáticas do jesuíta. De imediato, a antecipação do contraste entre o ambiente barroco de S. Roque, com os seus dourados, e o design contemporâneo daquela cadeira de arame sugeriu-lhe, por si só, uma forma de diálogo cultural.

A peça Brotéria nasceu do próprio desafio lançado pelos jesuítas de usar como matéria escultórica as revistas Brotéria, ao jeito de evocação simbólica do legado de Manuel Antunes.

Foram vários os elementos que contribuíram para a composição desta peça. Desde logo, as cores vivas das lombadas das revistas. Em seguida, a ideia de estante – também ela contrastando com o ambiente fulgurante da igreja -, que logo evoluiu para a noção de prisma (7 prismas, cada um com 7 blocos de revistas sobrepostas, alternando as cores das lombadas com o branco do papel). Finalmente, essa forma desaguou na ideia de torre: seja a bíblica Babel, ou as antigas torres-biblioteca, ou a própria intuição de uma ponte ligando terra e céu – esforço que, de algum modo, atravessa a arte e a cultura.

Estas torres-prismas jogam também com o próprio espaço, ao jeito de balaustradas, embora atravessadas de fragilidade, que a madeira fina envolve quase como se fora uma pele.

Notas para uma leitura

Instalada no interior da igreja de S. Roque, a cadeira gera uma presença-ausência cheia de significado. Por outro lado, uma escultura construída com esta matéria prima, a revista, lembra o diálogo tão caro ao padre Manuel Antunes entre culto e cultura, e celebra a própria missão da Brotéria. Finalmente, a introdução de uma peça contemporânea num espaço barroco aponta para um trabalho sempre inacabado de reflexão sobre a interacção entre tradição (religiosa e/ou artística)  e actualidade.

Brotéria (escultura/instalação)

Rui Aleixo

Revistas Brotéria, velatura e verniz sobre contraplacado 2018

 

Diamond (instalação)

Rui Aleixo

Cadeira ‘Diamond’, de Harry Bertoia, utilizada pelo padre Manuel Antunes

2018

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.