1. Como mel para a boca
A festa de Pentecostes celebra entre os cristãos o envio do Espírito Santo, que desce do céu sobre os discípulos. Em Spirit in the Sky, Norman Greenbaum esperava subir ao céu, no Espírito, depois da morte. Um bom som dos velhos sixties, para começar…
2. Um texto bíblico
Depois de atravessarem a Paixão do Senhor, de se encontrarem com o Ressuscitado e de contemplar a Sua Ascensão, os discípulos recebem um Espírito que os faz entrar numa nova embriaguez…
«Quando chegou o dia do Pentecostes, encontravam-se todos reunidos no mesmo lugar. De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam.
Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem.
Ora, residiam em Jerusalém judeus piedosos provenientes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou estupefacta, pois cada um os ouvia falar na sua própria língua.
Atónitos e maravilhados, diziam: “Mas esses que estão a falar não são todos galileus? Que se passa, então, para que cada um de nós os oiça falar na nossa língua materna? Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egipto e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus!”
Estavam todos assombrados e, sem saber o que pensar, diziam uns aos outros: “Que significa isto?! Outros, por sua vez, diziam, troçando: “Estão cheios de vinho doce.”»
Act 2, 1-13
3. O esclarecimento
Para coroar o nosso ciclo Paixão-Ressurreição-Ascensão-Pentecostes, Sixtine Vié volta a guiar a nossa contemplação na escola de um grande pintor.
Pentecostes de El Greco é uma obra monumental que, na sua origem, fazia parte de um retábulo*.
Com a sua composição religiosa reluzente e extravagante, El Greco sacode as convenções artísticas da época:
| Elementos do quadro |
- O quadro totalmente na vertical exagera o mais que pode as formas das personagens que recebem o fogo divino vindo do Céu. O jogo dos tecidos parece mesmo evocar as chamas!
- As personagens vibram de vida: a paleta de cores é cintilante, os rostos são todos muito expressivos.
- Dominado pela pomba, o quadro exalta a força do Espírito Santo, que vem colmar a Virgem e os discípulos. Todos os olhares estão dirigidos para a pomba, com exceção dos dois que observam a Virgem Maria e de um último, que observa o espectador.
| Uma dupla realidade |
El Greco escolheu mostrar o acontecimento de Pentecostes na sua dupla realidade:
- ·Celeste, com o céu que deixa descer o Espírito, sob a forma de uma pomba;
- Terrestre, com a transfiguração dos que recebem o Espírito, cujo aspeto muda visivelmente aos olhos do observador exterior. A vida deles nunca mais será a mesma depois deste acontecimento fundador da vida da Igreja: de ali em diante, estão preparados para anunciar a boa nova da Ressurreição em todo o mundo.
4. Uma palavra final
Para concluir, Paul Ricœur, no seu melhor:
«A Ressurreição é o sinal de que a promessa é para todos; o sentido da ressurreição está no seu futuro, que é a morte da morte, a ressurreição de todos de entre os mortos. […] Conhecer a ressurreição de Jesus Cristo é entrar no movimento da esperança da ressurreição de entre os mortos, é esperar a nova criação ex nihilo, ou seja, a criação para além da morte.»
Paul Ricœur (1913-2005), “La Liberté selon l’espérance” (1968),
em Le conflit des interprétations, Paris: Seuil, 1969, 393-415
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
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