O Povo Ucraniano e o Presidente Volodymyr Zelensky merecem a nossa total solidariedade, admiração e um enorme agradecimento pela coragem demonstrada na defesa da liberdade e democracia. Também estão a lutar por nós. A força deste povo e a liderança de Zelensky são inspiradores, e contagiaram a opinião pública mundial que por sua vez obrigou os governantes a ações firmes contra a invasão injustificada e bárbara da Rússia na Ucrânia. No Parlamento Europeu, assisti à intervenção de Zelensky que a todos nos apela, nos toca e comove.
A guerra que Putin está a concretizar não é uma surpresa. Os sinais eram evidentes. Putin envenenou opositores em território da UE, não respeitou nem acordos nem a lei, anexou a Crimeia, fez permanentemente chantagem e bullying sobre a Suécia e a Finlândia, interferiu em várias eleições sendo o exemplo mais claro a eleição do Presidente dos EUA, defendeu o regime Sírio na esperança que uma vaga de refugiados dividisse e desintegrasse a UE. Preparou-se financeira e militarmente, à vista de todos, para atacar e invadir a Ucrânia. O seu sonho é alargar o território e é previsível que o próximo alvo seja a Moldávia.
A UE, apesar de saber do perigo, ficou dependente da Rússia em termos energéticos. Foi ingénua mas também interesseira do ponto de vista económico na ânsia de gás e petróleo mais barato. No entanto, não é aceitável nem inteligente importarmos gás e petróleo da Rússia. A UE paga anualmente à Rússia um valor muito superior ao do seu orçamento militar. Na verdade, estamos a financiar a Rússia para fazer a guerra com o dinheiro resultante da venda de energia.
No Parlamento Europeu, assumimos o compromisso de financiarmos a ajuda humanitária e o apoio aos refugiados que for necessário, através do orçamento da UE. Há ainda que atuar à escala da UE para evitar a degradação da nossa situação económica. A escalada dos preços da energia e dos cereais obriga a que tudo se faça para a proteger os cidadãos europeus, sobretudo os mais pobres. Os Estados-membros devem utilizar os fundos disponíveis do orçamento europeu para promover a coesão. Os governos terão de fazer a sua parte no que respeita aos impostos que cobram no setor da energia. É no mínimo imoral que o Governo de Portugal lucre tanto mais, quanto maior for o preço do barril do petróleo.
É urgente a União da Energia. Temos de apostar na nossa independência energética e, no mínimo, na nossa não-dependência energética face à Rússia. Não faltam recursos financeiros para estes objetivos.
Tenho repetido várias vezes: na UE temos governantes mas não temos líderes. Por isso, reagem em vez de agirem. Deveríamos ter capacidade militar mas desinvestimos. Ficou agora claro que é urgente a União da Defesa. Não basta a UE ser uma potência económica. A Rússia tem um PIB semelhante ao da Espanha mas tem força bruta resultante do seu poder militar. A única linguagem que Putin percebe, é infelizmente a linguagem da força das armas. É necessário reforçar a NATO. Mas não estamos livres dos EUA elegerem um novo Trump e, por isso, a máxima cooperação com os EUA não pode significar que a UE possa relaxar na sua autodefesa. É urgente a União da Energia. Temos de apostar na nossa independência energética e, no mínimo, na nossa não-dependência energética face à Rússia. Não faltam recursos financeiros para estes objetivos.
A agressão da Rússia à Ucrânia isolou a Rússia. Aliás, só a Bielorrússia, Coreia do Norte, Síria e a Eritreia votaram contra uma resolução da ONU que condena a Rússia. A NATO saiu reforçada, como prova o facto da Finlândia e da Suécia pretenderem aderir. A UE demonstrou ser uma mais valia, reagiu de forma unida e viu a Ucrânia, Moldávia e Geórgia pedirem a sua adesão à UE. Pela primeira vez o orçamento da UE financiará a compra de armas. A Alemanha comprometeu-se a investir já 100 mil milhões de euros na defesa e, anualmente, 2% PIB.
Putin vai perder. Mas o caminho será longo e exigente. A UE tem de continuar firme e cada vez mais unida. Temos de reforçar os nossos valores europeus, a democracia, liberdade, o estado de direito. É com base neste chão comum que construímos o progresso e a coesão e que pretendemos, para que que cada europeu se sinta livre, realizado e feliz.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.