O Natal, a Espera e a Esperança

A espera é mais passiva, a esperança é activa: é uma virtude, uma força interior (e um dom do Espirito) para pôr em prática aquilo que pode ter futuro, aquilo que cada um está convencido que vale a pena e se pode, e deve, manifestar.

A espera é mais passiva, a esperança é activa: é uma virtude, uma força interior (e um dom do Espirito) para pôr em prática aquilo que pode ter futuro, aquilo que cada um está convencido que vale a pena e se pode, e deve, manifestar.

São duas realidades e atitudes bem distintas, embora, por vezes, não pareça e a nossa linguagem nos confunda. A espera tem mais a ver com algo ou alguém que vem de fora. A esperança diz respeito ao cuidado e à atenção com o que levamos dentro e queremos dar à luz, ou queremos que cumpra a sua função. Maria estaria à espera que Jesus lhe caísse nos braços, vindo do céu? Não. Não é como quem espera o autocarro ou a vez no dentista. Maria cuidava de viver a sua gravidez, atenta e responsável por aquele que, já presente e desejado na longa história da humanidade, deveria ser dado à luz por ela. A espera é mais passiva, a esperança é activa: é uma virtude, uma força interior (e um dom do Espirito) para pôr em prática aquilo que pode ter futuro, aquilo que cada um está convencido que vale a pena e se pode, e deve, manifestar. Esse trabalho de parto chama-se esperança. No Natal, a esperança é a fortaleza de criar condições para que Jesus venha à luz: seja reconhecido e amado.

Neste Natal (2022), fez dez meses que começou a lamentável invasão da Ucrânia pela Rússia. E agora? Há quem esteja à espera que alguma coisa, algum “milagre” aconteça ao senhor Putin e ao mundo… Sim, poderia ser! Outros, porém, têm esperança no diálogo e “vamos lá a ver como pode ser possível…”, ou apostam nas retaliações que acordem o bom senso, etc. Outros põem a sua esperança no ajudar as vítimas desta agressão arriscando, de modo criativo, animando, oferecendo-se nessa luta pela justiça, mesmo quando parece uma gota de água e não se vê o fundo do túnel… mas se tem a consciência de que esse é o único caminho. Essa convicção está baseada na Fé, que é a certeza de que Deus nos ama e só nos pede que cada um faça o que realmente pode e o faça do melhor modo. Esta é a virtude da Esperança: o uso da inteligência e da boa vontade humana que, sob a inspiração do Espirito de amor e de verdade, poderá dar à luz uma humanidade nova e um mundo de justiça e de paz. Assim, há também os que rezam, porque rezar não é acordar ou mobilizar Deus; é discernir sobre o que Deus nos pede que façamos, solidários com quem sofre e responsáveis por um mundo melhor. Esta oração é um acto de Esperança.

O mundo sem Deus está à espera da sorte… de gozar alguns momentos! E, como não acredita em milagres, afasta-se das questões, ocupa-se de fantasias, fecha-se com medo ou torna-se indiferente; discute sobre as culpas e sobre quem vai ganhar; vai-se divertindo com anedotas que “é o que se leva desta vida!”

O Natal – Deus connosco – é fruto da Esperança de um povo que crê no amor.

O Papa Francisco quando veio a Fátima (Maio de 2017) resumiu assim a sua mensagem aos portugueses: “não deixem que vos roubem a esperança!”

Bom Natal.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.