Deficiência. Custa-me ouvir falar sobre o tema. Sobre as limitações e incapacidades, os níveis baixos de cognição e falta de destreza ou de discernimento, sobre o futuro e a dependência. Sobre as barreiras e soluções, sobre a discriminação, as consequências em geral, a falta de emprego, a falta de aceitação… Parece sempre que estou perante uma montanha de problemas que dificilmente conseguirei ultrapassar ou resolver.
A deficiência ocupa um espaço tão grande, é uma carapaça de tal maneira dura de partir que não me deixa ver a pessoa que está por debaixo dessa grande cobertura. É uma camada espessa, coberta de preconceito, de tal maneira que me torna cego quando encontro uma pessoa que a carrega. É uma ironia não é? Eu é que fico cego perante a deficiência. Não consigo ver a pessoa que tenho pela frente!
Então quem tem um problema sou eu. Porque quem tem deficiência encontra alternativas produtivas, caminhos de comunicação, amizades fortes e inabaláveis. E sou eu com o meu problema de não me interessar pela deficiência que fico a perder. É quando não me interessa a deficiência que eu perco a oportunidade de conhecer as pessoas – o Tito, o Miguelinho, o Bernardo, a Maria, a Xiquinha, a Leonor, o Xalo…
No próximo dia 3 comemora-se o dia internacional das Pessoas com Deficiência. Este ano o tema escolhido pelas Nações Unidas é “Capacitação/empoderamento das pessoas com deficiência e assegurar a sua inclusão e igualdade” – vamos tentar? Capacitar, ‘empoderar’, incluir e tratar como igual? Para podermos ver as pessoas para além da sua deficiência? Para não perder a oportunidade de conhecer seres humanos incríveis, resilientes e amáveis que nos ensinam a sermos melhores pessoas, a sermos mais humanos.
A deficiência ocupa um espaço tão grande, é uma carapaça de tal maneira dura de partir que não me deixa ver a pessoa que está por debaixo dessa grande cobertura.
Para quem está na diocese de Lisboa haverá uma missa celebrativa do dom e da riqueza das pessoas com deficiência na Igreja e no mundo. Vai ser no Estoril, na igreja Sra Boa Nova às 11h00 no dia 2 de Dezembro. Que melhor maneira de começar o advento deste ano?
No Algarve, no dia 8 de Dezembro, vai haver uma caminhada inclusiva na zona ribeirinha da Fuzeta que começa às 9.30 e termina com a Eucaristia na Sé de Faro.
Em Braga, no dia 9 de Dezembro, 15 fiéis da comunidade surdos vão celebrar o sacramento do Crisma na Basílica dos Congregados.
Será que neste advento podemos preparar um grande presente para o menino Jesus que vai nascer e abrirmos os nossos olhos a todas as pessoas que estão à nossa volta independentemente da sua capacidade ou produtividade? Melhor ainda podemos tentar olhar com os olhos de Cristo para as pessoas que estão na nossa casa, no nosso trabalho, na rua, nas lojas e dar-lhes o nosso melhor sorriso como presente. Acredito que assim conseguiremos limpar os nossos olhos e ver as pessoas que se cruzam connosco como seres humanos, filhos do nosso Deus Pai que nos ama com todo o Seu coração.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.