Gulbenkian: o elogio da sombra

Gulbenkian a preto sob fundo branco é a única palavra que podemos ler na lombada do livro, da editora Monade, que a Brotéria nos sugere esta semana

Gulbenkian a preto sob fundo branco é a única palavra que podemos ler na lombada do livro, da editora Monade, que a Brotéria nos sugere esta semana

Gulbenkian a preto sob fundo branco é a única palavra que podemos ler na lombada do livro, da editora Monade, para o qual vos chamo à atenção. Este título desvenda, em parte, o que em imagens e algum texto contam as páginas deste livro. E digo “em parte” porque quase todos nós temos uma relação metonímica com o universo Gulbenkian: os espetáculos de música, as exposições, idas à Biblioteca, passeios pelo jardim e uma quantidade de memórias que acrescem dificuldade em trazer um novo olhar.

Este livro, editado em 2019, ano em que se assinalaram os 50 anos da inauguração do Edifício Sede, do Museu e dos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, é dividido em três discursos que nos fazem revisitar este universo de um novo modo. Na primeira badana do livro podemos encontrar um excerto da memória descritiva do projeto do edifício assinado pelos arquitetos Ruy Jervis d’Athouguia, Alberto Pessoa, e Pedro Cid que adivinham as memórias e a relação que o público foi criando com este espaço de referência ao longo deste meio século, evocando sempre a fluidez dos espaços e a importante relação com a envolvente do jardim.

Na badana do fim do livro encontra-se uma passagem da memória descritiva do projeto de paisagem, assinado pelos arquitetos paisagistas António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles, que relembra que não se tratou apenas de “integrar uma edificação num parque, nem de construir um jardim para servir um edifício. Há que encontrar de facto uma relação total, de tal forma íntima, entre ambos os elementos que compõem o todo que a composição abranja a área inteira, que a própria vida do edifício se prolongue naturalmente (…)”.

É importante referir que os textos estão traduzidos para inglês, o que evidencia a missão da editora de levar pelo mundo esta história ilustrada. Nas páginas de guarda do livro podemos contemplar desenhos técnicos dos projetos que acompanham as memórias descritivas dos mesmos. O miolo do livro é composto por 66 imagens a preto e branco, interrompidas por sete encartes a cores da autoria do fotógrafo André Cepeda, que com o seu olhar preciso, nos ajuda a revisitar este lugar sob perspetivas peculiares.

As fotografias têm uma dimensão interessante, o que nos permite ter um grande detalhe do edifício e dos elementos que o compõem, sejam: a estrutura que permite que o espaço se abra ao jardim, as peças de Darciano Costa ou os painéis de Almada Negreiros.

A escolha do preto e branco assume-se como um verdadeiro “elogio da sombra”, na medida em que, esquecendo a cor, se torna mais óbvia a poética do betão amaciado pela madeira e a serenidade dos espaços que chamam a uma “calma monumentalidade” (1ª badana). Apesar de ser um livro de fotografia, não deixa de ser um livro de histórias em que o texto ilustra, tal como a fotografia narra, este mundo habitado da Gulbenkian. Este livro imortaliza o estado do edifício e do jardim tal e qual ele foi quando celebrou 50 anos.

Gulbenkian
SÁ, Daniela;
SIMÕES, João Carmo (Editores) GULBENKIAN
134 PÁGS., MONADE, 2019 (35€)

Fotografia: Manuel V. Botelho – Obra do próprio, CC BY-SA 3.0, 

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.

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