Fauda – uma verdadeira série de ação

Deste “terreno politicamente minado” - conflito israelo-palestiniano - não é fácil sair incólume. Fauda foi acusada por certos jornalistas de promover o racismo (com os palestinianos na mira) e escamotear a realidade da ocupação israelita.

Deste “terreno politicamente minado” - conflito israelo-palestiniano - não é fácil sair incólume. Fauda foi acusada por certos jornalistas de promover o racismo (com os palestinianos na mira) e escamotear a realidade da ocupação israelita.

Talvez uma série de ação só tenha o dever de ser isso mesmo, uma “série de ação”. E no capítulo “ação”, a série israelita Fauda (esta palavra árabe significa simplesmente “caos”) preenche totalmente as medidas. Somos transportados ao convulso dia-a-dia de uma unidade de contraterrorismo israelita, que tenta a todo o custo travar novos atentados e neutralizar a liderança do movimento palestiniano Hamas. A personagem central, Doron Kabilio (Lior Raz), que tem o perfil de um John McClane (o protagonista da série de filmes Die Hard, interpretado por Bruce Willis), nem pestaneja à hora de voltar ao terreno, e isso é a garantia de que nunca morreremos de tédio ao acompanhar as suas aventuras. Tudo ou quase tudo na série está ao serviço das cenas de rua, onde militares e terroristas entram num perigoso jogo do “rato e do gato” e tudo pode suceder.

Esta imprevisibilidade empresta realismo e emoção à série e tem o condão de nos manter expectantes e motivados. Contudo, a série é também – e isto não é um detalhe! – sobre o conflito israelo-palestiniano. E deste “terreno politicamente minado” não é fácil sair incólume. Fauda foi acusada por certos meios jornalísticos de promover o racismo (com os palestinianos na “mira”) e de escamotear a realidade da ocupação israelita.

Realmente, ou melhor, na prática, a série é construída sobre uma oposição básica (unidade militar/ terroristas) que coloca as personagens de palestinianos sob o prisma do crime ou, pelo menos, da cumplicidade com este último. E, sim, dá-se pouca ou nenhuma visibilidade ao drama diário dos checkpoints militares e às consequências para a população civil de um conflito que dura há mais de sete décadas.

Dito isto, Fauda está longe de pintar a realidade e o conflito israelo-palestiniano à maneira dos filmes hollywoodescos da época da guerra fria, nos quais os “irrepreensíveis americanos” levam (sempre!) a melhor sobre os “nefastos russos”. Israel e o seu exército são inteiramente “humanos” na sua maneira de pensar e de agir; passíveis, por isso, de decisões moralmente muito duvidosas e tantas vezes irascíveis ou vingativos no seu proceder.

Esta honestidade na caracterização revela um desejo de resistir aos apelos cegos da propaganda e isso é meritório, mais ainda no tempo de polarização em que nos é dado viver. Tudo pesado, a série em questão, não sendo imperdível, tem qualidade e conteúdo, e conta com um bom elenco de atores. Não oferece, nem pretende oferecer uma perspetiva nova ou renovada sobre o conflito histórico; é, com tudo isto, uma aposta segura para os fãs de séries de ação.

 

FAUDA

Género: drama policial

Duração: 32–50 min

País: Israel

Idioma original: Hebraico e árabe

Produtor Liat Benasuly, Shimrit Yekutieli, Avi Issacharoff, Lior Raz, Maria Feldman

Distribuição: NETFLIX

Data de estreia: 15.02.2015

N.º de temporadas: 3

N.º episódios: 36

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.

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