Exposição – Todas as Coisas: Brotéria 1902–2020

Todas as Coisas: Brotéria 1902-2020 percorre um vastíssimo arquivo documental, um património colectivo e um legado de memória partilhada. A exposição que faz memória dos 118 anos da Brotéria decorre até maio.

Todas as Coisas: Brotéria 1902-2020 percorre um vastíssimo arquivo documental, um património colectivo e um legado de memória partilhada. A exposição que faz memória dos 118 anos da Brotéria decorre até maio.

Todas as Coisas surge de um encontro num lugar. Um lugar, primeiramente, imaginado – a Brotéria, como espaço de portas abertas, a nascer de uma revista centenária. Ao longo das décadas, nas várias casas da revista, o pó dos livros e a luz rasada foram protagonistas silenciosos na vontade de sentir e marcar o tempo, e os tempos, numa leitura aprofundada do real. Em 118 anos de publicação mensal ininterrupta, a Brotéria transitou de revista de ciências naturais a revista de cultura contemporânea. Este imenso itinerário, desenhado com raiz na zoologia, na botânica e na genética, configurou-se simultaneamente na crítica literária, na teologia, na filosofia, na ética e na estética. A Brotéria é hoje um vastíssimo arquivo documental, um património colectivo e um legado de memória partilhada.

© Rita RA

A exposição aqui apresentada parte do desafio lançado pelo P. Francisco Mota, director-geral da Brotéria, para pensar a galeria enquanto espaço de apresentação da sua identidade. A Brotéria_galeria é um lugar de porosidades entre o público e a casa, onde a convocação dos sentidos se encontra na liberdade para a experimentação artística.

A vontade de mostrarmos ao público aquilo que entendemos da Brotéria – como revista, como espaço, como arquivo, como objecto gráfico, como acumulação de coisas, colecções, livros, tempo e pensamento – fez-nos indagar, com a inevitável contaminação do nosso olhar contemporâneo, acerca das suas narrativas de origem, procurando dar volumetrias e visibilidades às suas variadas biografias e territórios. Resulta assim numa exposição colaborativa, imersiva, que se esboçou a partir da reapropriação dos materiais da antiga Biblioteca, do património gráfico e das heranças dos fundadores. Desejámos ver os frutos do assombro que tanto se estampa ‘na imensidade dos mundos’, como ‘na extrema pequenez de miríades de animais e plantas, cuja existência só o microscópio nos revela’(Do primeiro editorial da revista Brotéria, publicado em 1902).

Fomos ao reencontro das colecções científicas exiladas e transmigradas nas vicissitudes da História do país. Em 1908, os jesuítas portugueses tinham reunido as suas coleções no Museu de História Natural do Colégio de Campolide. Dois anos depois, a 5 de Outubro, o colégio foi bombardeado e invadido por militares numa pesquisa infrutífera por armas de fogo e material explosivo. O material encontrado pelos republicanos foi este: várias colecções de grande importância cientifica, resultado das inovadoras metodologias de ensino implementadas nos laboratórios dos colégios. Exilados os naturalistas e destituídos das suas colecções, o material estaria para estes irremediavelmente perdido.

© Rita RA

Não foi o caso. Em Santo Tirso foi-nos possível, mais de cem anos depois, entrar no núcleo museológico do Instituto Nun’Álvares, onde nos deparámos com uma parte significativa destes arquivos errantes. A riqueza das recolhas científicas dos jesuítas responsáveis pela fundação da revista Brotéria está nos incontáveis álbuns, herbários, caixas, envelopes e gavetas com espécimes meticulosamente classificados e etiquetados que iam sendo revelados à medida do nosso fascínio.

Cecídeas, musgos e lepidópteros, lado a lado com inúmeras plantas e flores prensadas entre papeis amarelados, mostram ao mesmo tempo uma fragilidade estonteante e uma resistência surpreendente. Traçam, através desta escala da natureza olhada ao microscópio, uma apaixonante micronarrativa, uma pequena-grande história da atenção ao sagrado detalhe do mundo.

TODAS AS COISAS é a história das coisas, visíveis e invisíveis, descobertas nos meses em que ensaiámos as formas de ocupação deste espaço. Com todas estas coisas queremos revelar uma identidade delineada com o entusiasmo de um projecto que ousa acarretar com uma bagagem centenária. É uma história que se exige preservar e homenagear. Aqui, não para descrever, organizar e classificar o mundo natural, mas antes, ao reagrupar as matérias, para dar início à natureza do espanto.

A Galeria,
João Norton de Matos, SJ
João Sarmento, SJ
Matilde Torres Pereira
Rita RA

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©Teresa Chow

Exposição: Todas as Coisas: Brotéria 1902–2020
Até maio de 2020
Horário: de segunda a sábado entre as 10h e as 18h.
Rua de São Pedro de Alcântara 3 – 1250-237 Lisboa (Mapa Google)
Contacto: [email protected]

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.

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