A palavra “rede” situa-nos neste tempo de redes digitais, que atravessam continentes, criam proximidades tantas vezes íntimas, permitem um fluxo de conhecimentos e acontecimentos que parecem desconhecer limites.
Mas se nos deixarmos interpelar pela verdade da palavra, paramos em beira-mares, que em movimentos seculares nos lançam para outras redes. E podemos ver homens destemidos em barcas de nada, capazes de enfrentar o medo e a coragem, a miséria e a abundância. Vemos mulheres sofridas, pés enterrados nas areias de tantas praias e olhares perdidos à procura de regressos.
Se nos deixarmos interpelar pela verdade da Palavra, vemos Pedro e André e Tiago e João a largarem as suas redes porque Jesus os chama para serem pescadores de homens. Com outras redes…redes que unem e reúnem, redes que deixam escapar, redes que saciam e redes que se atiram ao mundo, sem saber como voltar ou se voltam.
O desafio de pensar, fazer e viver hoje, a comunicação social enquanto cristãos, não é maior nem menor do que noutros tempos, mas é, e sempre foi, diferente.
Já todos percebemos que a evolução da tecnologia é permanente. Tal como a capacidade criativa de quem hoje lança o Facebook, amanhã o Instagram, de quem hoje rentabiliza um site e amanhã um Twitter.
O que escapa a todas estas realidades é a humanidade de quem alimenta todas estas redes, com conteúdos personalizados, fotografias pessoais, citações escolhidas, imagens procuradas e trabalhadas.
E quando esta humanidade está tocada pela consciência da presença de Jesus, pelo impacto do amor de Deus, toda a sua comunicação está marcada por um desejo de comunhão em tudo diferente de uma comunicação sustentada por objectivos a alcançar, métricas de audiências, retorno de investimento ou apenas a consolidação de um ego que procura o seu altar a qualquer custo.
Na mensagem deste 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco interpela-nos a “(…) descobrir, nos vastos desafios do atual panorama comunicativo, o desejo que o homem tem de não ficar encerrado na própria solidão.”
Na mensagem deste 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco interpela-nos a “(…) descobrir, nos vastos desafios do atual panorama comunicativo, o desejo que o homem tem de não ficar encerrado na própria solidão.”
E afirma: “(…) O panorama atual convida-nos, a todos nós, a investir nas relações, a afirmar – também na rede e através da rede – o caráter interpessoal da nossa humanidade. Por maior força de razão nós, cristãos, somos chamados a manifestar aquela comunhão que marca a nossa identidade de crentes. De facto, a própria fé é uma relação, um encontro; e nós, sob o impulso do amor de Deus, podemos comunicar, acolher e compreender o dom do outro e corresponder-lhe. (…)”
E exemplifica: “(…) Se a rede for usada como prolongamento ou expetação de tal encontro, então não se atraiçoa a si mesma e permanece um recurso para a comunhão. Se uma família utiliza a rede para estar mais conectada, para depois se encontrar à mesa e olhar-se olhos nos olhos, então é um recurso. Se uma comunidade eclesial coordena a sua atividade através da rede, para depois celebrar juntos a Eucaristia, então é um recurso (…)”
E termina: “(…) Esta é a rede que queremos: uma rede feita, não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas livres. A própria Igreja é uma rede tecida pela Comunhão Eucarística, onde a união não se baseia nos gostos [«like»], mas na verdade, no «amen» com que cada um adere ao Corpo de Cristo, acolhendo os outros.”
Pensar, fazer e viver hoje, a comunicação social enquanto uma imensa rede, que se multiplica em inúmeras redes é talvez um dos maiores desafios do nosso tempo, porque tal como conhecemos as suas mais valias, estamos cada vez mais conscientes das suas fragilidades e perigos.
Um desafio para todos os profissionais de comunicação social, mas também para professores, artistas, cientistas, homens e mulheres responsáveis por traçar limites, gerir recursos, definir leis e fazê-las cumprir. Um desafio para todos.
Pensar, fazer e viver hoje, a comunicação social enquanto cristãos, continua a ser um desafio que exige trabalho, discernimento, oração. E, apesar de não ser fácil o seu reconhecimento, este é um desafio que também exige humildade. Humildade na procura da verdade, na atenção repetida aos outros. Humildade perante erros e fragilidades que nos marcam enquanto pessoas e nos impedem da comunhão que queremos.
Mas sabemos que não estamos sós. Desde os dias da Galileia que sabemos que não estamos sós.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.