Amélie, 16 anos, sofria de depressão.
E se a fragilidade fosse uma bênção?
Amélie, 16 anos, sofria de depressão.
Há pessoas que vivem em autênticos infernos. Não sei dizer de outro modo. Nos recônditos ou no subterrâneo da Vida, a luz, tantas vezes, teima em se ausentar. No porão da existência é onde o sofrimento mais magoa.
Como te posso dizer que não faz mal não estar bem? A verdade é que não é o mais fácil ou apetecível afirmar-se humanamente frágil e com dificuldades em caminhar diante das sinuosidades que se afiguram diante de nós.
Porém, talvez seja importante dizer, em viva e alta voz, que esse modelo que nos impõem de uma humanidade perfeita e implacável, sem fragilidades nem limitações, não é verdadeiro! Não é! Esse paradigma de perfeição tenta moldar-nos sem o nosso consentimento. E, pior ainda, é quando configura a nossa vida, obrigando-nos a querer parecer perfeitos e sem manchas, vivendo através de comportamentos que a sociedade espera de nós para que sejamos aceites. Dá ideia que se cultiva a altivez de quem não percebe as dúvidas, a dureza de quem não aceita as fragilidades e a hipocrisia de quem cumpre todos os princípios, mas esquece as pessoas.
A ideia da perfeição, que reclama de nós uma suposta existência sem fragilidades ou feridas, não corresponde à nossa verdade. Somos frágeis. A vida é marcada pela sombra e pelo limite e, quiçá, seja possível aí saborear a experiência de salvação. E se a fragilidade fosse uma bênção?
Talvez, por isso, nunca tenha acreditado na expressão, com a qual fomos inundados nestes dois últimos anos, vamos todos ficar bem. Eu compreendo o que quer ser dito, mas é pouco verdadeiro, porque nem sempre está tudo bem! Nem tudo fica, de um dia para outro, bem! Não é fácil pensar que das adversidades podem surgir oportunidades.
Por isso, são luminosas as palavras de Mimi Froes, quando canta: não faz mal não estar bem, não faz mal querer chorar, se num abraço quiseres cair, eu vou cá estar para te agarrar, que no colo cabes sem pedir. Somos uns com os outros e seremos tanto mais humanos quanto mais nos responsabilizarmos e cuidarmos dos outros. Não terá, cada um, entre mãos, a possibilidade de colaborar para a salvação do outro?
Aos pais
Não consigo imaginar a dor de quem perde um filho. Não é possível. Como canta Pedro Abrunhosa, em Meu Querido Filho, tão tarde que é, ninguém cala a dor de uma mãe que te perdeu.
Nós conseguimos descrever outras dores. És viúva ou viúva, órfão ou órfã. Porém, não tens como denominar a dor de um pai ou de uma mãe que perdem um filho. A gramática não sabe dizer essa dor. É uma dor sem nome.
Como imaginar a dor daqueles que te dizem, dia após dia, em refrão: está frio, leva o casaco. Manda mensagem quando chegares. Está mau tempo, cuidado ao conduzir. Estou bem, não te preocupes. Depois diz-me como correu. Estás bem? Eu avisei-te. O almoço está pronto. Deixa-me ver isso. Não quero que venhas tarde. Não dormi enquanto não chegaste. Parabéns. Adoro-te.
Como abraçar a vossa dor?
Linhas de Apoio
SOS Voz Amiga
Contacto: 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660
Horário: todos os dias das 16h00 às 24h00
Site: www.sosvozamiga.org
SOS Palavra Amiga
Contacto: 808 237 327 | 210 027 159
Horário: dias úteis das 15h00 às 22h00 | fins de semana das 19h00 às 22h00
SOS Estudante
Contacto: 96 955 45 45 ou 808 200 204 (das 20h à 1h, chamada local)
SOS Adolescente
Contacto: 800 202 484
Telefone da Amizade
22 832 35 35
Horário de Atendimento
Todos os dias
16h-23h
Fotografia patente na exposição ad gentes 2.0, de Paulo Teia, sj, na Casa da Torre.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.