Desligar, estar e aprofundar – as sugestões da comunidade inaciana do Algarve

Dá para sentir que não estamos sós, antes somos devedores de um mundo maravilhoso e que só Alguém com um amor tão profundo nos poderia dar tanto!

Dá para sentir que não estamos sós, antes somos devedores de um mundo maravilhoso e que só Alguém com um amor tão profundo nos poderia dar tanto!

DESLIGAR

É a “falta” de tempo que nos “consome”… mas como “há um tempo para cada coisa” (Ecl.3,1), a proposta que hoje publicamos vai apresentar-lhe um Algarve que ainda não conhece através de uma série de sugestões da comunidade inaciana local.

Iniciamos as sugestões com uma caminhada sem tempo e sem relógio, aprovisionados de calçado confortável e máquina fotográfica para mais tarde recordar! Dirija-se até à rotunda à entrada da Mexilhoeira Grande e rume até à Ria de Alvor, onde vai poder exercitar o físico, desfrutar de paisagens deslumbrantes, descansar a cabeça e ainda observar lindos flamingos. Vá antes do nascer do sol ou perto do pôr do sol e deixe-se desinstalar pela beleza da Criação, vale a pena!

Deixamos ainda outras sugestões de locais para “desligar”. Costuma ser muito eficaz para atingir esse objetivo ir até uma praia natural e passar lá umas boas horas a carregar baterias (literalmente) sem se dar conta do tempo a passar, e, de preferência, onde a rede internet não funciona ou é escassa, e onde o mar se ouve mais que as vozes humanas e o ruído dos motores.

Há inúmeras praias maravilhosas para este propósito em Portugal e no Algarve pode-se sugerir:

Praia da Amoreira, em Aljezur  

Praia do Amado, em Aljezur 

Praia da Ingrina, em Vila do Bispo  

Vale da Lama-Ria de Alvor, em Lagos  

 

ESTAR

A caminho da Ria de Alvor (na tal rotunda) não deixe de passar pela Igreja da Mexilhoeira Grande. Permita-se parar no tempo, observar, re-encontrar-se entre o silêncio e as memórias de uma Igreja com 500 anos. A sua arte fala por si e convida-nos a saborear a história, nomeadamente a época das rainhas, dos Santos (de altar), ou de Santo Inácio. Conheça melhor as suas histórias nas várias publicações espirituais e culturais disponíveis na paróquia.

Para aproveitar a sua estada no Algarve e deixar-se “estar” recomendamos mais um lugar tranquilo para uma caminhada, ou para uma conversa entre amigos ou família, num contacto intimo com a Criação. Há muitos lugares para este propósito, a sul sugerem-se alguns:

Uma caminhada na Ponta da Piedade, em Lagos, no trilho dos Pescadores. Este lugar conduz-nos a umas vistas e a um cenário muito bonito, onde a Criação continua a evoluir o seu curso. A nascente, e ao longe, pode observar os areais da Ria de Alvor e a poente as arribas calcárias que persistem no tempo com as suas formas únicas e pendentes.

Quando sair da praia dirija-se ao Cabo de São Vicente, em Vila do Bispo, e bem agasalhado aguarde para ver um pôr do sol único! Este ponto no extremo Sul de Portugal, proporciona-nos uma vista ampla do Oceano Atlântico que aparenta não ter fim e que levou os nossos antepassados a descobrir outros destinos.

Recomendamos também a visita a Pedras del Rei em Santa Luzia (Tavira) onde se encontram as mais antigas oliveiras do Algarve, têm mais de 2200 anos! Este sítio transporta-nos para o passado onde desde há muito a humanidade está presente.

Depois de apenas “estar” nada como um bom repasto:

Em Vila do Bispo, Budens: Pizzeria da Aldeia

Em Lagos: Prato Cheio

Em Santa Luzia: Casa do Polvo Tasquinha

 

APROFUNDAR

Para “aprofundar” aconselhamos também a visita a um monumento que relembra o passado e nos ajuda a identificar com as raízes culturais que ainda estão presentes no território:

Igreja de São Lourenço em Almancil. Para melhor reconhecer nos azulejos a vida de São Lourenço, o mártir cristão que no século III, que foi “assado” vivo numa grelha. A lenda diz que “durante sua execução, Lourenço exibiu uma coragem e compostura notáveis, até mesmo dizendo aos seus algozes para virá-lo, pois já estava pronto de um lado.” O dia festivo de São Lourenço é a 10 de agosto e segundo algumas tradições católicas os meteoros das Perseidas que podem ser vistos neste mês são conhecidos como “as lágrimas de São Lourenço”.

Pode-se visitar a Igreja de S. Lourenço – em Almancil  nos seguintes horários:

De 15 de Abril a 15 de outubro (Horário de Verão):

Segunda-feira: 15h00 – 18h00

Terça-feira a Sábado: 10h00 – 13h00 e 15h00 – 18h00

(Nota: Vale a pena pedir a quem estiver na entrada da Igreja uma explicação, isto caso não haja muitos visitantes!)

 

Museu de LagosDr. José Formosinho, em Lagos, Fundado em 1930 pelo seu patrono, José Formosinho, este equipamento museológico integra a Igreja de Santo António. “Edificada em 1707, foi reconstruída em 1769. A decoração em talha dourada barroca é considerada das mais belas do país. As paredes são revestidas por painéis de azulejos em azul e branco do século XVIII. Em toda a sua extensão a Igreja é coberta por uma abóbada em madeira (imitando uma abóbada de berço). A pintura desta pelo seu colorido e justeza do desenho é uma maravilha! A perspetiva tão rigorosa dá-nos a impressão de realidade que encanta.”

Horários:

Terça a Domingo – 10h às 13h e das 14h às 18h

Última admissão: meia-hora antes do encerramento

(Nota: Vale mesmo a pena pedir a quem estiver na entrada da Igreja do museu sobre a possibilidade de uma explicação, isto se não houver muitos visitantes!)

 

Enquanto “desliga”, o encontro e o contacto com a Natureza vai tecendo um fio entre si, as pequenas maravilhas da Criação e o nosso Criador. Experimente observar atentamente uma florzinha nascida entre as pedras do muro da Ria, mas não a colha; experimente pegar num lingueirão saído do buraquinho na Ria mas volte a colocá-lo onde estava. Dá para sentir que não estamos sós, antes somos devedores de um mundo maravilhoso e que só Alguém com um amor tão profundo nos poderia dar tanto!

Finalmente para “aprofundar” a Poesia, relembramos um ensaísta, poeta, ficcionista e professor universitário português: Nuno Manuel Gonçalves Júdice Glória. Nasceu em Portimão, na Mexilhoeira Grande, a 29 de abril de 1949 e morreu a 17 de março de 2024.

 

Astronomia

Vou buscar uma das estrelas que caiu do céu, esta noite.

Ficou presa a um ramo de árvore, mas só ela brilha,

único fruto luminoso do verão passado.

Ponho-a num frasco, para não se oxidar; e vejo-a apagar-se, contra o vidro,

à medida que o dia se aproxima, e o mundo desperta da noite.

Não se pode guardar uma estrela.

O seu lugar é no meio de constelações e nuvens, onde o sonho a protege.

Por isso, tirei a estrela do frasco e meti-a no poema, onde voltou a brilhar,

no meio de palavras, de versos, de imagens.

 

Princípios

Podíamos saber um pouco mais da morte.

Mas não seria isso que nos faria ter vontade de morrer mais depressa.

Podíamos saber um pouco mais da vida.

Talvez não precisássemos de viver tanto, quando só o que é preciso é saber que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais do amor.

Mas não seria isso que nos faria deixar de amar ao saber exactamente o que é o amor,

ou amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada sabemos do amor.

 

Bons passeios, boas fotografias e bom descanso!

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.