Os pensamentos mais aterradores, e que as notícias confirmam, são os cenários dantescos que se passam nas salas de urgência, durante este período absolutamente atípico, no nosso jardim à beira mar plantado.
Um dos maiores problemas é a falta de material! É isso que tem preocupado de sobremaneira as altas autoridades responsáveis por dar resposta e evitar uma crise. E é isso mesmo que se pode conferir na sala da Família Matos. Falta material do Afonso. Ele já virou o quarto, a cozinha, a casa de banho e não faz a mínima ideia onde deixou o transferidor. Por isso não consegue fazer os 86 cadernos de exercícios que a professora Elsa de EV enviou para manter os alunos em momento de aprendizagem.
O menino Manelinho é uma autêntica urgência na sala dos Machado. Já aprendeu melhor do que ninguém a lição sobre a fundação de Portugal e está farto de bater na mãe. “Esta casa é pequena demais para nós dois” diz ele com uma colher de pau em punho. Mas meio trapalhão que ele tem 2 anos.
Nas urgências do Santo António o teste ao CABID-19 veio positivo. Foram agora confirmadas 3 crianças fechadas dentro de um roupeiro para as próximas duas horas “Só para despachar uns emails”.
As urgências Ribeiro acabam de receber um caso de um pai com falta de ar, o primeiro dos tão temidos sintomas do afamado vírus. As crianças tomaram conta do televisor e “já não é fisicamente possível ouvir mais Panda e os maricas”. O prognóstico é ataque de pânico.
Prevê-se que o panorama não melhore nos próximos dias. São cada vez mais os infetados, os números não têm reduzido, pelo contrário não param de aumentar.
Ontem em Itália aconteceu a primeira morte com Corona Filhus. Um homem na casa dos 40 anos, com problemas de matemática do filho do meio por resolver e com complicações ao nível da Geografia da filha. Mais casos destes são esperados num futuro bem próximo.
Há também um casal com filhas gémeas nos cuidados intensivos ligado às máquinas com o Rei Leão e o Toy Story a dar em repeat de modo a passarem esta fase mais difícil.
O estado de emergência já foi declarado pelo Primeiro Ministro, que sensatamente manteve os passeios ao ar livre. Os testemunhos dizem que são “10 minutos que sabem a 4 anos”. Mas as medidas pecam por escassas e os teletrabalhadores com filhos sentem que é preciso ir mais longe. Talvez um estendal para miúdos. Quem sabe uns tampões de ouvidos para juntar à máscara e às luvas. Ou mesmo o Valium ao almoço. E ao Jantar já que aqui estamos.
Com a informação que se dispõe de momento podemos afirmar com segurança que estamos a ser testemunhas daquilo que se prevê como o fim do mundo em cuecas. Ou fralda. #FicaTuEmCasa
*este texto foi escrito por uma pessoa sem filhos, mas solidário com a causa
Ilustração: Teresa Dias Costa
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
