A playlist de João Pedro Filipe – uma arte que transforma

O artista e Coordenador de Comunicação do Magis 2023 apresenta-nos uma playlist que é capaz de nos levar a uma viagem ao nosso interior. Ajuda-nos a sermos capazes de zarpar sem medo, rumo a novos horizontes.

O artista e Coordenador de Comunicação do Magis 2023 apresenta-nos uma playlist que é capaz de nos levar a uma viagem ao nosso interior. Ajuda-nos a sermos capazes de zarpar sem medo, rumo a novos horizontes.

1 – Holocene – Bon Iver

“And at once, I knew I was not magnificent”

Reconhecer a nossa pequenez é relativamente fácil quando estamos fisicamente perto de algo enorme – um céu estrelado, uma tempestade brutal, por exemplo. Mas recordar o nosso tamanho real quando tudo o que aparentemente vemos é mais pequeno que nós é um grande desafio; e esta música ajuda, muito.

 

2 – The Dreaming Tree – Dave Matthews Band

“Long before these crowded streets, here stood my dreaming tree.”

De uma infância serena ao colo do pai a ruas movimentadas de confusão, sinto que nos é proposto olhar o presente como fonte de destruição. Partindo da perda da árvore dos sonhos vemos como toda a perspetiva futura se vai destruindo, através de uma auto-sabotagem humana. Mas o objetivo é contrariar esta (des)evolução.

 

3 – Byegone – Volcano Choir

“Set sail! Set sail!”

Com uma música emocionante – e videoclip hipnotizante -, cria-se, de facto, um espaço galvanizador. Somos movidos para ir, fazermo-nos à estrada, zarpar.

 

4 – Bons dias – Deolinda

“Esse bom dia que dás é outro dia que nasce.”

Há uns tempos fui ao supermercado e quando chegou a minha vez na caixa, naturalmente, saiu-me um “Viva! Como está?”. E a senhora que me estava a atender parou, levantou a cabeça e respondeu “Obrigado. Sabe que é a primeira pessoa que me pergunta como estou hoje.” Eram 19h. Por vezes, nem sabes o bem que fazemos com um simples bom dia.

 

5 – Corpus Christi – Jeff Buckley

“And on this bed there lyeth a knight, His wound is bleeding day and night”

Um cântico medieval inglês (anterior a 1550) fala-nos de um cavaleiro que sangra dia e noite e por cima da sua cama pode-se ler “Corpo de Cristo”. Ao falar de Jesus, que sangra e dá a sua vida por nós, a voz de Jeff Buckley transporta-nos imediatamente para a oração.

 

6 – Heavenly Father – Bon Iver

“I was never sure how much of you I could let in”

Pela extraordinária beleza da capacidade humana, pela elevação da alma e pelos arrepios que deixa: Heavenly Father.

 

7 – Baltimore – Tokio Myers

“Who told you brother that love has two sides”

Num contexto de crescente perseguição e instabilidade, é cada vez mais importante o diálogo e a seriedade na discussão. No nosso contemporâneo, os meios artísticos – a música, de um modo particular – podem ser a base mais eficaz para alertar e denunciar a injustiça.

 

8 – Unmade – Thom Yorke

“Come under my wings”

A simplicidade de um piano com as possibilidades da eletrónica criam novos mundos no contemporâneo. Apoiado na experimentação de Radiohead, Thom Yorke enche a sala com Unmade.

 

9 – Lindisfarne – James Blake

“Beacon don’t fly too high”

A arte tem o poder de transformar. Partindo da ideia mais ordinária, consegue fazer ver o extraordinário. Lindisfarne transforma – e renova – completamente o panorama interior e artístico.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.