1 – Holocene – Bon Iver
“And at once, I knew I was not magnificent”
Reconhecer a nossa pequenez é relativamente fácil quando estamos fisicamente perto de algo enorme – um céu estrelado, uma tempestade brutal, por exemplo. Mas recordar o nosso tamanho real quando tudo o que aparentemente vemos é mais pequeno que nós é um grande desafio; e esta música ajuda, muito.
2 – The Dreaming Tree – Dave Matthews Band
“Long before these crowded streets, here stood my dreaming tree.”
De uma infância serena ao colo do pai a ruas movimentadas de confusão, sinto que nos é proposto olhar o presente como fonte de destruição. Partindo da perda da árvore dos sonhos vemos como toda a perspetiva futura se vai destruindo, através de uma auto-sabotagem humana. Mas o objetivo é contrariar esta (des)evolução.
3 – Byegone – Volcano Choir
“Set sail! Set sail!”
Com uma música emocionante – e videoclip hipnotizante -, cria-se, de facto, um espaço galvanizador. Somos movidos para ir, fazermo-nos à estrada, zarpar.
4 – Bons dias – Deolinda
“Esse bom dia que dás é outro dia que nasce.”
Há uns tempos fui ao supermercado e quando chegou a minha vez na caixa, naturalmente, saiu-me um “Viva! Como está?”. E a senhora que me estava a atender parou, levantou a cabeça e respondeu “Obrigado. Sabe que é a primeira pessoa que me pergunta como estou hoje.” Eram 19h. Por vezes, nem sabes o bem que fazemos com um simples bom dia.
5 – Corpus Christi – Jeff Buckley
“And on this bed there lyeth a knight, His wound is bleeding day and night”
Um cântico medieval inglês (anterior a 1550) fala-nos de um cavaleiro que sangra dia e noite e por cima da sua cama pode-se ler “Corpo de Cristo”. Ao falar de Jesus, que sangra e dá a sua vida por nós, a voz de Jeff Buckley transporta-nos imediatamente para a oração.
6 – Heavenly Father – Bon Iver
“I was never sure how much of you I could let in”
Pela extraordinária beleza da capacidade humana, pela elevação da alma e pelos arrepios que deixa: Heavenly Father.
7 – Baltimore – Tokio Myers
“Who told you brother that love has two sides”
Num contexto de crescente perseguição e instabilidade, é cada vez mais importante o diálogo e a seriedade na discussão. No nosso contemporâneo, os meios artísticos – a música, de um modo particular – podem ser a base mais eficaz para alertar e denunciar a injustiça.
8 – Unmade – Thom Yorke
“Come under my wings”
A simplicidade de um piano com as possibilidades da eletrónica criam novos mundos no contemporâneo. Apoiado na experimentação de Radiohead, Thom Yorke enche a sala com Unmade.
9 – Lindisfarne – James Blake
“Beacon don’t fly too high”
A arte tem o poder de transformar. Partindo da ideia mais ordinária, consegue fazer ver o extraordinário. Lindisfarne transforma – e renova – completamente o panorama interior e artístico.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.