A moderação perante o populismo

Diogo Belford Henriques, do CDS-PP, responde ao artigo do P. Francisco Mota, sj, que se refere à posição do candidato centrista às eleições europeias sobre o tema dos migrantes e refugiados.

Diogo Belford Henriques, do CDS-PP, responde ao artigo do P. Francisco Mota, sj, que se refere à posição do candidato centrista às eleições europeias sobre o tema dos migrantes e refugiados.

O artigo do P. Francisco Mota, SJ pede uma resposta ao CDS, com clareza e também sem rodeios. Para alguém, como eu, envolvido na campanha eleitoral, ver o seu discurso retratado como “grave” desafia, de facto, ao esclarecimento – que é, acredito, o papel das campanhas eleitorais.

Concordando em grande parte com o referido artigo, sobre o princípio da subsidiariedade (que ao nível europeu teve origem nos partidos da democracia  cristã) e a necessidade da sua reafirmação no plano europeu, é sobre a posição do CDS quanto as Migrações que a vontade de esclarecer se impõe.

Francisco Mota, SJ escreve que Nuno Melo disse que “os ataques terroristas – não especificados – em solo europeu tiveram refugiados como agentes”, disto infere que então “insinua que o acolhimento de refugiados é algo a evitar porque coloca em risco a segurança dos cidadãos.” O autor não especifica o contexto da afirmação e, por isso, vou presumir que se tratou do debate da TVI, onde Nuno Melo disse que “os autores de vários dos ataques cometidos na Europa tinham pedido asilo”.

Poderíamos então especificar os ataques – como os de Paris em 2015 – mas o problema do autor é antes com a tal “insinuação”, e cito: “Para quem a ouve de passagem, não diz que “alguns requerentes de asilo mal intencionados são terroristas” mas sim que “todos os refugiados são potencialmente terroristas”. E isto é uma insinuação mentirosa.”

Este salto ilógico, e a acusação, pode resolver-se com a “solução” proposta pelo Francisco Mota, SJ: “estudar os programas políticos, as problemáticas sociais complexas como imigração ou automatização da indústria, é estudar a história política da Europa. Senão as acusações de populismo são também populistas.”

Ora o programa político do CDS nestas eleições diz, na página 7: “Em paralelo, queremos e temos a obrigação de acolher com humanismo todos quantos tentem escapar das atrocidades que o mundo enfrenta. Mas para que o consigamos fazer, com recursos necessariamente limitados, impõe-se rigor na entrada, que distinga o que tem de ser distinguido.: refugiados, merecedores ao direito de asilo, de migrantes à procura de trabalho, obrigatoriamente sujeitos às leis da imigração existentes.”

Esta é uma posição de humanismo realista: temos a “obrigação de acolher”, com o rigor para distinguir “o que tem de ser distinguido” que, portanto, não “abdica também de cuidar de maneira particular “do órfão, da viúva e do estrangeiro” (Deuteronómio 10:18)”, como bem escreve Francisco Mota, SJ.

Como escreve o P. Francisco Mota, SJ, “não há outra solução para este problema que não passe por discutir informadamente”. Espero, com esta resposta e informação, poder contribuir para esta discussão.

Este é um problema com muitos lados e é normal, desejável e bom, que cada um traga o seu foco particular, o seu lado do problema e da solução. Quem salva as vidas tem de lutar por elas, quem luta contra o tráfico de pessoas humanas tem o dever de mostrar que isso existe, no meio da catástrofe. Numa política europeia há que ver o quadro geral, incluindo o órfão e a viúva. E esse, entendemos, é o papel de um partido moderado e responsável.

E qual é a situação atual? Uma enorme pressão migratória, a impreparação para o acolhimento, desentendimento na distribuição por entre os países, um medo perante “os outros”, acrescido pelos ataques terroristas, e o crescimento dos partidos e movimentos populistas graças a esse medo exponenciado pelas fake news.

Para o CDS, é preciso trabalhar em todas estas frentes – na relação com as fontes do problema, na solidariedade, no acolhimento, na integração de quem chega e na segurança de quem recebe. Para isto é necessário entender esse medo e as suas razões, e a forma mais segura de o diminuir é reduzir a insegurança. Isso, acreditamos, é ser responsável e não a tal “insinuação mentirosa” que, como se vê, não existiu.

Aliás, Nuno Melo disse também: «“Obviamente que os refugiados não são terroristas, mas temos que saber à entrada quem vem e a que a vem”. E isso só será possível se forem postos em funcionamento nas fronteiras externas de entrada os hotspot para refugiados, que neste momento não estão a operar, sustentou Nuno Melo. (…) “A Europa tem a obrigação e a lucidez de assegurar aos seus povos a segurança. E depois, porque está em segurança, tem a obrigação de fazer bem aos outros e acolher os refugiados com humanismo”https://verdadeiroolhar.pt/2016/04/03/nuno-melo-nao-romantismo-gere-crise-dos-refugiados-2/

Só com segurança poderemos acolher, senão – por melhores que sejam as intenções de quem ajuda – estamos a deixar aumentar uma reação contrária que se inflama com o medo.

Este é o papel do CDS, reconhecer o problema – não deixando que outros partidos extremistas tentem representar quem tem esta ansiedade – e apresentar soluções humanistas e realistas, como é dever de um partido democrata-cristão. Por isso é importante falar e discutir as Migrações – “Se não tiver os partidos moderados, se não tiver o PS, o PSD e o CDS, a falarem de migrações e a explicarem o que racionalmente querem para gerir um problema que existe, está a deixar toda essa agenda aos outros. E os outros vão crescer”. https://observador.pt/2019/04/28/nuno-melo-quer-os-partidos-mais-moderados-a-falar-de-migracoes/

Como escreve o P. Francisco Mota, SJ, “não há outra solução para este problema que não passe por discutir informadamente”. Espero, com esta resposta e informação, poder contribuir para esta discussão.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.