A batalha moral: Ficarão os Estados Unidos, na América?

A decisão final deve ser orientada por uma procura genuína pelo bem comum, por uma sociedade mais justa e equilibrada, e pelo respeito pela dignidade humana em todas as suas formas.

A decisão final deve ser orientada por uma procura genuína pelo bem comum, por uma sociedade mais justa e equilibrada, e pelo respeito pela dignidade humana em todas as suas formas.

À medida que os Estados Unidos se aproximam das próximas eleições presidenciais, o cenário político mantém-se polarizado e com tendência para aprofundar essas diferenças. De um lado, o ex-presidente Donald Trump, numa tentativa de regresso ao cargo marcada por controvérsias e por um forte apoio das bases conservadoras. Do outro, a vice-presidente Kamala Harris, que representa a continuidade do governo Biden, com uma postura mais progressista em relação a questões sociais e económicas. Haverá espaço fora de extremos? Haverá um olhar mais equilibrado?

Princípios de Justiça e Bem Comum

A procura e o desejo por um mundo mais justo e equilibrado é um valor compartilhado por muitas tradições, não apenas filosóficas e religiosas, mas também políticas. Se na Europa estamos mais familiarizados com princípios como a promoção da justiça social e a procura pelo bem comum, assim como o respeito pela dignidade humana, embora mais evidentes em países concretos, os EUA têm uma visão mais particular sobre estes valores fundamentais.

Donald Trump, durante o seu período na Casa Branca, implementou políticas que, para muitos, refletiam valores tradicionais, como a defesa da vida e a liberdade de expressão. Também o seu apoio entre grupos conservadores deveu-se, em parte, à nomeação de juízes para o Supreme Court que favorecem interpretações estritas da Constituição, especialmente em questões morais e sociais.

Por outro lado, Kamala Harris e o governo Biden têm estado concentrados em temas como equidade racial, justiça social e mudanças climáticas, questões que também são essenciais para a construção de uma sociedade justa e sustentável. No entanto, a polarização em torno de temas como direitos reprodutivos e identidade de género continua a desafiar o diálogo construtivo entre diferentes perspetivas.

A importância da Vida em todas as fases

A defesa da Vida é um valor central em muitas culturas e tradições, que enfatizam a importância de proteger a vida desde a conceção até a morte natural. Trump, durante a sua presidência, adotou uma postura clara contra o aborto, o que lhe garantiu o apoio de muitos eleitores conservadores e até católicos, que veem essa questão como prioritária, esquecendo porém a violência de outras ações e medidas tomadas.

Kamala Harris, em contraste, defende os direitos reprodutivos das mulheres, incluindo o direito ao aborto. Para aqueles que consideram a Vida como um valor inegociável, essa diferença pode ser significativa. No entanto, a visão de uma Vida plena também inclui o cuidado dos pobres, dos marginalizados e dos vulneráveis, áreas nas quais o governo Biden-Harris tem estado mais dedicado.

Justiça social e equidade

A promoção da justiça social é essencial para qualquer sociedade que queira prosperar de maneira equilibrada. Isso inclui o cuidado com os pobres, o combate às desigualdades e a criação de oportunidades para todos. Kamala Harris tem defendido reformas na justiça criminal, a promoção da equidade racial e o acesso universal à saúde, temas que ressoam com a necessidade de um mundo mais justo.

Por outro lado, Trump foi elogiado pela sua base de apoio, por políticas económicas que, segundo eles, beneficiaram a criação de empregos e fortaleceriam a economia, especialmente para as classes trabalhadoras. No entanto, foi também criticado por políticas que alguns consideram prejudiciais aos imigrantes e às minorias, por não estarem centradas na dignidade humana, mas no egoísmo e no preconceito.

Liberdade e Direitos Humanos

A liberdade, seja de expressão, religiosa ou política, é um valor fundamental para qualquer democracia. Um valor tido como o mais alto na sociedade americana. Durante o governo de Trump, houve um foco na proteção dos direitos de indivíduos e de instituições para viverem de acordo com suas convicções. Isso incluiu a assinatura de ordens executivas para proteger organizações religiosas de agirem contra as suas crenças.

Kamala Harris apoia uma interpretação da liberdade que procura equilibrar direitos individuais com o bem-estar coletivo, especialmente em questões de igualdade de género e direitos civis. Para muitos eleitores, a forma como esses valores são interpretados e implementados pode ser um fator decisivo na escolha do próximo líder.

Haverá uma conclusão possível para esta reflexão? Podemos ficar a analisar diferentes temas, olhando para as características de cada candidato, mas o que me parece evidente é que, no período pré-eleitoral, os eleitores americanos têm a oportunidade de refletir profundamente sobre suas escolhas, considerando não apenas as promessas de campanha, mas também os valores que guiarão o futuro da nação. A decisão final deve ser orientada por uma procura genuína pelo bem comum, por uma sociedade mais justa e equilibrada, e pelo respeito pela dignidade humana em todas as suas formas.

De resto, e independentemente do resultado das eleições, é essencial que o diálogo e o respeito mútuo prevaleçam, permitindo a construção de pontes entre diferentes perspetivas e a promoção de um mundo mais pacífico e harmonioso. Não parece nem é fácil. Não parece nem é totalmente possível. Mas é por isso mesmo que não se deve desistir, para a criação de um país, de uma nação e de um mundo verdadeiramente mais Humano.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.