Um país triste
O excesso erode a gravitas da personalidade e a importância da palavra. Diminui-lhe a eficácia. A morte de Ihor Homeniuk exigia palavra e acção por parte do homem que sempre falou. Não mereceu nem uma coisa nem outra.
O excesso erode a gravitas da personalidade e a importância da palavra. Diminui-lhe a eficácia. A morte de Ihor Homeniuk exigia palavra e acção por parte do homem que sempre falou. Não mereceu nem uma coisa nem outra.
Uma coisa parece certa: não é possível derrotar os que nos ameaçam sem compreender as razões de quem os apoia. E às vezes essa vitória implica pactuar com o próprio diabo – pois nele votaram pessoas que vivem ao nosso lado.
Ter de explicar que debater livremente propostas com perspectivas ideológicas distintas é um dos traços definidores da democracia é quase embaraçoso. Não é preciso restringir a liberdade por decreto. Neste país a servidão é voluntária.
A fiscalização escrupulosa da atuação de um Governo com poderes acrescidos sobre uma população é precisamente o que uma oposição patriótica deve fazer. E senão nessa altura, quando?
É urgente que os governantes não escondam que podemos viver uma segunda tragédia na sequência das medidas adoptadas para combater a primeira. Querer inocular esperança a um país sem lhe dizer toda a verdade é uma outra forma de mentir.
Tornou-se velha e enfadonha a prédica segundo a qual “os partidos têm de se abrir à sociedade civil”. Se quisessem por em prática o que pregam, então o caminho talvez passasse por convencer a “elite” a ingressar na vida pública.
Não há desculpa para que não estejamos atentos aos sinais que outros antes de nós não conseguiram – ou não quiseram – ver; para que saibamos ler nas entrelinhas e reconhecer o recrudescimento de males antigos ainda que com novas roupagens.
Podemos não gostar do que vemos, mas o estado da política e a qualidade dos políticos é em grande medida o reflexo da sociedade em que vivemos.
Numa altura em que recrudescem os nacionalismos e extremismos, convém lembrar que a História da Europa é também a da sucessão de sangrentos conflitos. A paz tem sido a excepção. O mundo não começou ontem. É bom lembrá-lo.
Entre o deslumbramento mais ou menos primário e as gritarias indignadas a roçar o ódio contra o imperialismo norte-americano, talvez falte alguma moderação.