A radicalidade e a profecia a que somos chamados

"Quem morre não desaparece nem se evapora, mas fica mais presente, em corpo espiritual. E o luto (não esquecer!) é aprender e exercitar esta nova relação.", disse o P. Vasco Pinto Magalhães, que presidiu à missa.

Celebrou-se no sábado, dia 1 de julho, um ano da morte do P. António Vaz Pinto, na Igreja de S. Roque, igreja da qual “cuidou com entusiasmo” durante o tempo em que lá foi Reitor.

A celebração foi presidida pelo P. Vasco Pinto de Magalhães sj, com quem sempre manteve uma estreita relação durante os 57 anos que fez parte da Companhia de Jesus. Foi uma bonita cerimónia que reuniu família e amigos de uma vida, e que contou com a presença do P. Provincial, do P. António Ary, do P.  António Júlio Trigueiros e do P. João Nórton. Através das palavras do P. Vasco, que aqui transcrevemos, gostaríamos de relembrar esta vida que teve um impacto apostólico tão marcante na nossa Província:

“Juntamo-nos para agradecer! É uma eucaristia, uma acção graças! Cada um agradeça a relação que teve ele. A que teve e a que pode ainda ter. Há dias, eu distraído, pensei em ligar-lhe para Évora. Mas agora é mais direto do que com o telemóvel… é como com Deus. Quem morre não desaparece nem se evapora, mas fica mais presente, em corpo espiritual. E o luto (não esquecer!) é aprender e exercitar esta nova relação.

Comecemos a Missa pondo no altar as nossas intenções. E proponho, antes de mais, que sejam as que o P. António poria se fosse ele a presidir a esta celebração: rezar pela sua família, os amigos, os inimigos, os grupos e as comunidades, as obras e os mais necessitados, todas as vocações e, particularmente, pela nossa Província Jesuítica, que neste tempo concreto enfrenta desafios graves e complexos.

Apenas duas notas breves, partindo dos textos de hoje, sobre a radicalidade e a profecia a que somos chamados.
Tudo se resume, afinal, na afirmação S. Paulo (Rom 6, 3-4) que acabamos de ouvir: “se morremos com Cristo, também com Ele viveremos”. Acreditamos nisto? Acreditamos que naqueles que nos morrem temos uma nova ponte com Deus, reforçada e mais próxima, e podemos pedir-lhes que nos façam chegar a fortaleza, o discernimento e a inspiração… que hoje tanto precisamos. Fortaleza, discernimento, inspiração! Nem que seja algo como o tal “copo de água fresca” de que falava o Evangelho: dom profético que nos garante o futuro.

Este Evangelho (Mt 10,37-42), é o breve e conciso discurso de envio em missão dos doze discípulos, depois de os ter escolhido e ensinado o essencial. No texto Jesus diz-nos: Quem é quem! Quem é com quem! E tudo se pode resumir assim: só Quem se põe totalmente do lado de Deus – relativizando tudo o mais – nos poderá dar a graça profética de que tanto precisamos. Ou seja, a graça de Ver o Caminho que tem futuro e os meios para o percorrer. Sabemo-lo bem, o profeta não é o adivinho, não adivinha o futuro; o profeta “vê”, “fala” e “age”; denuncia o que não tem futuro e mostra, aponta, o que tem futuro. Ele fala diante (do outro) e para diante (do que faz história).”

 

Recorde aqui a última entrevista que o P. António deu ao Ponto SJ.