A “obsessão” pela alegria e a “chave de leitura” da misericórdia

No lançamento de "Alegria e Misericórdia", o coordenador do livro que reflete sobre a Amoris Laetitia, P. Miguel Almeida, sj sublinhou a importância que estes dois temas têm no pontificado de Francisco.

O desejo era o de que a Exortação Apostólica Amoris Laetitia não ficasse esquecida no fundo de uma gaveta e continuasse a suscitar a reflexão e a ação da Igreja, dada a sua “riqueza enorme”. Por isso, surgiu a ideia de um livro que reunisse o pensamento de alguns teólogos sobre a família. “Alegria e Misericórdia” é o resultado deste desejo do P. Miguel Almeida, sj e foi ontem lançado, ao final da tarde, na Brotéria, em Lisboa. Esta apresentação contou com a presença do coordenador da obra, e de dois casais que testemunharam o impacto nas suas vidas das palavras do Papa Francisco contidas neste documento, bem como agora a reflexão suscitada pelos autores do livro editado pela Frente e Verso. . Entre os autores dos 14 textos desta obra, editada pela Frente e Verso, estão Austen Ivereigh, Antonio Spadaro, sj, James Keenan, sj, Irene Guia, aci, ou Stella Morra.

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Fotografia de Carlota Tareco

Nas primeiras palavras que proferiu no pátio da Brotéria, o Provincial dos Jesuítas afirmou que a Amoris Laetitia não devia ficar refém do seu capítulo oitavo (onde é abordada a questão do acesso aos sacramentos por parte dos divorciados recasados), até porque contém muitos outros conceitos teológicos importantes para a vida conjugal e familiar, como a liberdade, a consciência e o acompanhamento. O P. Miguel Almeida, que aprofundou os estudos teológicos sobre o tema da família no tempo em que viveu nos Estados Unidos, sublinhou ainda o que diz ser a “quase uma obsessão” do Papa Francisco pelo tema da alegria e a “chave de leitura” que a misericórdia tem no seu pontificado. “Se a misericórdia fosse os óculos com os quais lemos este pontificado, muitas das tensões que vêm ao de cima talvez ficassem dirimidas”, afirmou. O Provincial dos Jesuítas considerou ainda que “Jesus seria bastante crítico do conceito de família supostamente cristão que temos hoje, pelo menos junto de uma classe média alta”.

“Se a misericórdia fosse os óculos com os quais lemos este pontificado, muitas das tensões que vêm ao de cima talvez ficassem dirimidas”, afirmou o P. Miguel Almeida, sj.

Bernardo e Teresa Cunha Ferreira, casal ligado à Companhia de Jesus e que atualmente acompanha pastoralmente casais de namorados, sublinharam a “relação íntima que a Amoris Laetitia tem com a realidade das famílias e não com uma idealização da mesma”, destacando que o Papa parte dessa realidade, conhece-a e destina-a. Nas palavras que pronunciaram sobre o livro “Alegria e Misericórdia”, o jovem casal destacou ainda que “o Espírito Santo trabalha na consciência daqueles que procuram Deus na sua vida”, pelo que se torna essencial o “respeito que a Igreja tem pela consciência das pessoas”. Testemunhando o seu trabalho pastoral com os casais de namorados, Bernardo e Teresa reconheceram a importância de apelar aos jovens que “pensem e decidam com base na sua consciência e não na dos pais, dos avós ou dos pares”.

No seu testemunho, Ana e Jorge Wemans, casados há 43 anos, consideraram que “Alegria e Misericórdia” é uma “obra muito importante a vários títulos. As diferentes áreas de investigação e reflexão de que partem os vários autores, bem como a qualidade dos textos que assinam, permitem perceber que a Amoris Laetitia tem um alcance muito mais vasto do que  uma simples revolução no campo da pastoral familiar, pois implica o aprofundamento da renovação teológica pastoral, doutrinal, espiritual e eclesiológica iniciada por Francisco na Evangelii Gaudium”.

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Fotografia de Carlota Tareco

O casal destacou outros tipos de família, diferente da sua, mas que “revelam tanto ou mais sobre o amor do Pai” e que “têm sido luz no mundo”, sublinhando, contudo, que vivemos num “mundo que se habituou a julgar antes de acompanhar”. Ana e Jorge consideraram que “somos muito lentos a reconhecer que Deus está presente nas relações que não são exatamente como achamos que deviam ser ou que não estão de acordo com as normas”. Afirmaram ainda a dificuldade que a Igreja continua a ter em abordar o tema da sexualidade.

Fotografia de capa: Ponto SJ

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