Uma Igreja em escuta: Austen Ivereigh reúne com comunicadores

Mais de 30 jornalistas e comunicadores estiveram reunidos esta sexta-feira, 11 de abril, com o escritor e biógrafo de Francisco, para refletir sobre o legado do Papa e o futuro da Igreja.

Depois de ter apresentado o seu novo livro Em primeiro lugar, pertencer a Deus: Exercícios Espirituais com o Papa Francisco, e de ter dado uma conferência pública no Colégio S. João de Brito, em Lisboa, Austen Ivereigh encontrou-se hoje, 11 de abril com um grupo restrito de comunicadores, na Brotéria, o centro cultural dos jesuítas no Bairro Alto. O encontro, promovido pelo Ponto SJ e pelas Paulinas Editora, reuniu jornalistas, cronistas e profissionais da comunicação que acompanham a atualidade religiosa, e constituiu uma oportunidade de formação e diálogo com um dos mais reputados intérpretes do pontificado do Papa Francisco.

A sessão abriu com as boas-vindas do P. Manuel Cardoso sj, diretor-geral da Brotéria, que recordou o simbolismo de acolher Austen na casa que, segundo o jesuíta, pretende ser “um espaço da Igreja Católica a partir dos cruzamentos das culturas urbanas contemporâneas, onde se procuram ideias, pessoas e projetos que ajudem a construir um mundo mais justo, verdadeiro e bom”.

Durante cerca de vinte minutos, Austen Ivereigh partilhou a sua leitura sobre o atual momento da Igreja, oferecendo uma análise densa e acessível do pontificado de Francisco, do processo de reforma da cúria romana, do papel da sinodalidade e das suas implicações do próximo conclave. Seguiu-se mais de uma hora de questões e debate, num ambiente informal e próximo, onde os participantes puderam colocar questões e partilhar reflexões com quem tem procurado, mais do que relatar os gestos do Papa, captar a alma deste pontificado.

Neste ano jubilar, Ivereigh sublinhou que vivemos uma mudança de época — uma policrise, como lhe chama — que exige à Igreja uma “profunda conversão pastoral”. Referiu que já é bastante notória a mudança de mentalidade na cúria romana, um dos frutos mais visíveis da ação de Francisco. “A atitude de escuta, hoje, é notada por todos”, afirmou.

Com um olhar otimista, sublinhou que o próximo conclave será diferente dos anteriores, por acontecer após uma experiência sinodal que teve como ponto de partida o maior processo de escuta de sempre da Igreja Católica. “Este será o primeiro conclave em que houve um Sínodo sobre a sinodalidade antes”, lembrou. A Igreja está apenas a começar esse caminho de renovação espiritual e de reforma estrutural, que, para Ivereigh, será longo, mas necessário, e cuja maior força é precisamente o processo e não os resultados imediatos.

O encontro na Brotéria foi uma oportunidade rara para os profissionais da comunicação dialogarem com quem acompanha de perto os bastidores da Igreja e o pensamento de Francisco, e para refletirem, juntos, sobre como comunicar uma Igreja em processo de conversão.

Num tempo de mudanças profundas, Austen Ivereigh ajudou a pensar a Igreja com realismo e esperança. Como disse, a sinodalidade ainda agora começou — e talvez esteja aí o maior legado de Francisco.