Dois temas atuais abrem este número de janeiro da revista Brotéria: a presidência de Portugal no Conselho da União Europeia, que se iniciou a 1 de janeiro; e a vacinação anti-covid 19, que começou no nosso país em finais do passado mês de dezembro. No primeiro artigo, o antigo deputado europeu Carlos Coelho afirma que, nos tempos desafiantes que vivemos, o mais urgente é recuperar a economia e fazê-lo de modo sustentável, adaptando-a aos desafios da transição verde e digital, bem como lutar contra a pandemia e ser eficiente nas políticas de saúde pública. O segundo, um texto de ética médica da autoria dos médicos Walter Osswald e Olga Osswald, constata que, mesmo se algumas inquietações éticas ainda não encontram resposta nas circunstâncias em que ocorre a planeada vacinação, o argumento da defesa de vidas sobreleva as reservas e indica com clareza a opção a tomar. Na mesma linha, o editorial apresenta a mensagem do Papa Francisco para o novo ano sobre a cultura do cuidado como percurso de paz.
Raquel Vaz Pinto faz-nos voltar o nosso olhar para a dura realidade da violação dos direitos humanos na China. Tendo em conta o endurecimento da repressão desde 2011, fala-nos da situação dos uigures, membros de um grupo étnico minoritário, face à preponderância Han da população da República Popular da China.
O Cardeal Michael Czerny SJ oferece-nos um ensaio sobre as grandes reformas desejadas pelo atual pontífice para a Igreja. Iniciar processos de conversão é uma prática radical de governo e a única garantia real de que a estrutura institucional da Igreja possa empreender e prosseguir com sucesso o caminho comunitário do seguimento de Jesus. Este caminho chama-se sinodalidade.
Mário Garcia SJ, num ensaio de espiritualidade inaciana, analisa as implicações da afirmação dos Exercícios Espirituais «Toda a vocação divina é pura e limpa» (EE 172, 4), nas suas diversas ocorrências.
A história da missionação jesuíta é o tema de um texto de Roland Jacques OMI sobre a vida e a obra do jesuíta seiscentista Francisco de Pina, missionário na Cochinchina (atual Vietname) que foi responsável pela romanização da língua vietnamita. A sua visão teve um significado crucial para a evolução do Vietname em direção à autonomia cultural e para o enraizamento do cristianismo na cultura vietnamita.
Na secção de Artes e Letras, Amadeo e Manoel de Oliveira são alvo de dois ensaios. O primeiro, de Filipa Iglésias, toma o exemplo de Amadeo, que através da sua pintura nos revela o património cultural imaterial de Amarante. No segundo, de Eduardo Paz Barroso, a propósito da exposição «Manoel de Oliveira Fotógrafo» patente em Serralves, propõe-nos um ensaio sobre a revolução que foi o aparecimento das máquinas Leica, o reconhecimento da fotografia enquanto arte no século XX português e a prática de Oliveira, enquanto fotógrafo amador, que revela algumas das categorias importantes da sua faceta de cineasta: a dúvida, o respeito e o amor à verdade.
Um filme, uma obra de arte sacra e um livro, são os destaques do caderno cultural deste mês: o documentário Amor Fati, de Claudia Varejão, pelo olhar de Pedro Franco; o Cristo românico articulado do Museu Grão Vasco, em Viseu, que constitui segundo Inês Abreu, uma verdadeira action figure da Idade Média; a recensão por Miguel Pedro Melo SJ de um livro de poesia chinesa contemporânea, Poética Não Oficial, traduzido recentemente para português.