As eleições nos EUA motivaram o ensaio de Lívia Franco sobre a América de Biden e o mundo. Uma América partida ao meio e ideologicamente polarizada, que se questiona e que desconfia, atormentada pela pandemia, mas que, nos últimos quatro anos, parte considerável do mundo teve dificuldade em reconhecer.
Neste mês em que passam quarenta anos sobre a trágica morte de Francisco de Sá Carneiro, o economista Miguel Cadilhe homenageia o político social-democrata numa breve síntese do seu pensamento sobre a “democracia regional” e concluí que ele dificilmente aceitaria o centralismo que Portugal ostenta, e que destoa flagrantemente dos principais países europeus.
Seguem-se dois ensaios sobre temas económicos. No primeiro, Humberto Ayres Pereira reflete sobre o poder efetivo que têm no mercado as grandes empresas tecnológicas, concluindo que estas se movem sobretudo em terreno legal, mas que têm comportamentos recorrentes de legalidade questionável. No segundo, Nuno Ornelas Mendes advoga que o trabalho de Thomas Piketty fez reaparecer o tema da desigualdade como objeto de estudo da economia.
Em religião, propõem-se dois ensaios. O primeiro, de Carlos Pinto, pensar a função do altar a partir do encontro que este nos chama a fazer, que é, em certa medida, um (re)encontro do homem com Deus. Adentrar na problemática espacial-litúrgica do altar resulta da compreensão simbólica do objeto, mas também de uma familiaridade com Aquele que ele é chamado a manifestar, a tornar presente – Cristo. O segundo, de Vasco Pinto de Magalhães SJ centra-se na recente encíclica de Francisco, Fratelli Tutti, e mais especificamente no seu terceiro capítulo Pensar e gerar um mundo aberto, constatando que da tríade liberdade, igualdade e fraternidade, esta última é a “perna curta” do tripé, pelo que se questiona se é ou não possível pensar uma humanidade diferente.
Uma efeméride, os 300 anos da fundação da Academia Real da História Portuguesa, por D. João V, motivou uma pequena evocação, de António Júlio Trigueiros SJ, sobre o papel que sete jesuítas do século XVIII tiveram no nascimento daquela que foi primeira academia nacional.
Num ensaio literário, Carolina Vaz Pinto reflete sobre a perceção do tempo na poesia portuguesa contemporânea. A poesia tem a característica de trabalhar o tempo a seu favor, prolonga-o ou desacelera-o para demonstrar a importância de uma experiência e fazer com que o leitor seja imergido nessa experiência.
A recente morte do ensaísta e pensador Eduardo Lourenço, abre e fecha o caderno principal da revista. O editorial evoca as pertinentes considerações que Eduardo Lourenço deixou sobre a Brotéria no prefácio do volume comemorativo do centenário da revista. No final, um ensaio de Isabel Almeida evocando o volume Requiem para Alguns Vivos sublinha que Eduardo Lourenço foi um guardador de livros e papéis e o acervo com o seu nome, agora integrado na Biblioteca Nacional de Portugal, conserva esses materiais.
No caderno cultural, para além das habituais propostas de cinema, séries, exposições, património e livros, destaca-se o Legómena do escultor Rui Chafes, Ser escultor; e o convite a visitar duas exposições, uma em Évora, Saudade dos Cartuxos, de José Alberto Machado; e outra em Lisboa, dedicada ao mundo criativo de René Lalique, na Gulbenkian, de Patrícia Ferrari.