Novo livro de memórias do P. José Augusto Sousa apresentado na Covilhã

O P. José Augusto Sousa publicou em 2015 um livro sobre as suas memórias como missionário em Moçambique, onde esteve 44 anos. Uma nova obra, apresentada hoje na Covilhã, relata as suas memórias depois do regresso a Portugal.

É hoje apresentado ao final da tarde, no Hospital Pêro da Covilhã, o mais recente livro de memórias do P. José Augusto Sousa, sj publicado pela editorial A.O.. O Ponto SJ publica um excerto deste testemunho da vida apostólica deste jesuíta que integra a comunidade jesuíta da Covilhã.

Pórtico de entrada

O Padre José Frazão, deu uma entrevista recente ao Jornal Observador que me levou a fazer uma breve memória dos grandes Papas da minha vida desde o Papa Pio XI até  ao papa Francisco, ou seja, desde os primeiros anos de minha Catequese, na Infância e na Adolescência, a partir    de 1938, até aos dias de hoje, até aos meus 84 anos, 44 dos quais passados em Moçambique e noutros países para  efeitos de estudos. O Padre Frazão, nessa entrevista, fala sobre o seu percurso de vida de fé, sobre o momento actual da Igreja Católica e garante que vai buscar inspiração ao Papa Francisco, outro jesuíta, e gaba-lhe a energia. Mas não lhe atraem só os pormenores e acrescenta:   “Se a novidade do Papa fosse simplesmente ter sapatos pretos em vez de sapatos vermelhos, penso que seria uma coisa quase ridícula. Até viver numa casa em vez de outra casa é uma coisa significativa, mas confesso que acho pouco relevante”, afirma mesmo, o Padre Frazão, que prefere destacar a “coerência de um estilo de vida” que o Papa mantém, numa altura em que o Cristianismo já não é a norma para a sociedade europeia.

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P. José Augusto Sousa apresenta segundo livro de memórias. © João Ferrand/Companhia de Jesus

Outra experiência que me leva a recordar os Grandes Papas da minha vida são as mais diversas conversas que tenho com um bom número de pessoas, conversas frutuosas, porque espirituais, mas onde verifico, também que a vida de alguns Papas faz esquecer a rica mensagem que outros nos deixaram, e, até, as respostas dadas aos mais diversos problemas do tempo em que viveram. Parece, até, que as suas figuras, em vez de serem inspiradoras, como afirma o Padre Frazão são até a sombra de Papas que conheci, desde a minha Infância, pelo seu amor à Igreja e pelas respostas dadas à sociedade em tempos de crise, como foram os tempos das grandes ideologias (fascismo, nazismo, marxismo, comunismo, laicismo…), das grandes guerras na Europa e das guerras para as independências de povos, sob o Regime colonial, as diversas chamadas de atenção para as ideologias demolidoras e destrutivas da Paz dos indivíduos, das famílias e dos Povos, sem deixarem de insistir, a tempo e contratempo, para elucidarem os cristãos a não aderirem, sem mais, aos chamados Cristãos pelo Socialismo que facilmente caíram na ratoeira duma análise marxista da sociedade, como se fosse um absoluto, ou então, o virarem-se para doutrinas extremas que não respeitam ou mutilam a dignidade da pessoa humana, naquilo que hoje é tão propalado como o aborto, a eutanásia ou liberdade da escolha do género em idade precoce (16 anos).

Mas também a Igreja evoluiu naquilo que não pertence à sua essência e o Papa Francisco manda os cristãos a entrarem, sem medo, na política a favor dos mais desprotegidos e marginalizados da sociedade.

Muitos, no interior da Igreja, defenderam, é certo, a separação da Igreja do Estado em muitos dos seus escritos e que o Vaticano II parece aplaudir, como uma vitória da Igreja, fundada no mote evangélico de Jesus: “Dai a César o que e é de César e a Deus o que é de Deus”. Mas alguns governos, logo se aproveitaram deste dito de Jesus, para dizerem que os cristãos nada têm a ver com o temporal e com o político, mas também a Igreja evoluiu naquilo que não pertence à sua essência e o Papa Francisco manda os cristãos a entrarem, sem medo, na política a favor dos mais desprotegidos e marginalizados da sociedade, a não ser que a política seja uma luta do poder pelo poder e não a busca do bem comum da sociedade. Já antes Paulo VI na Octogesima Adveniens (Carta Apostólica, por ocasião dos 80º Aniversário da Rerum Novarum) tinha focado esse tema com muita abertura. Entrar na Política para defender o bem comum e o bem das sociedades, das famílias, é arte nobre, mas o mesmo já não se poderá dizer da política como luta partidária ao serviço duma classe ou de interesses pessoais e colectivos. Esta exige uma maior reflexão e análise. Feitas estas considerações, com elas não se pretende afirmar, que todos tenhamos de amar do mesmo modo todos os Papas. Devemos amá-los, porque eles são os sucessores dos Apóstolos e acolher o que dizem, em questões relativas à fé a e aos costumes. Mas cada um tem o seu estilo e o modo de estar no mundo e alguns podem atrair-me mais do que outros.

O Papa Francisco, certamente que se sente um Papa muito próximo das pessoas e disso todos gostamos, pedimos por ele e agradecemos esse dom que Deus lhe concedeu para o pôr ao serviço de cristãos e não cristãos. Faço memória também aqui da grande Encíclica que nos deixou o Papa anterior ao Papa Pio XI, o Papa Bento XV, que nos deixou a grande Encíclica Maximum Illud que muito avivou o meu entusiasmo missionário.

P. José Augusto Sousa, sj

Foto do destaque: Igreja Paroquial de São Pedro – Covilhã – . © João Ferrand/Companhia de Jesus