Com o número duplo de maio-junho, completamos o volume 190 da Brotéria, indicador dos seus 95 anos de vida como revista cultural. Após um editorial sobre rutura-deserto e integração, dois artigos assinalam este período de desconfinamento: um texto do consagrado escritor Gonçalo M. Tavares, num dialogo em diferido com o texto de José Tolentino Mendonça publicado no número de abril, onde com uma lucidez mais alegre e uma alegria mais lúcida, reflete sobre a singularidade do tempo presente, integrando o projeto aosvossoslugares promovido pela Brotéria durante o tempo de confinamento. Por seu turno, um colaborador habitual da revista, o médico portuense, Walter Osswald centra o nosso olhar sobre a situação dos idosos nestes tempos difíceis em que há que tomar precauções e encontrar ocupações.
A atribuição do Prémio Árvore da Vida Padre Manuel Antunes 2020, ao professor e filósofo Eduardo Lourenço, resultado da decisão de um júri de que a Brotéria faz parte, é alvo de um texto de Guilherme d’Oliveira Martins sobre esta figura impar da cultura portuguesa, quase centenária.
Na secção de Sociedade e Política dois olhares sobre diferentes realidades, levantam-nos interrogações: Será o feminismo monopólio da esquerda? Qual o lugar dos Católicos no espaço público? Os dois textos da autoria da deputada Ana Rita Bessa e do cientista político João Labareda desconstroem ideias feitas e esboçam caminhos.
A fechar esta secção um terceiro texto desloca a nossa atenção para a China, a propósito de uma experiência social levada a cabo naquele país na qual se combina o controlo social com novas tecnologias associadas à Inteligência Artificial, que estão a promover aquilo que se pode designar como uma “ditadura digital”. A autora deste ensaio, Raquel Vaz Pinto, é uma das maiores especialistas em Portugal em política chinesa.
Na secção de Religião um ensaio resultante do encontro entre um cientista e um padre – João Carlos Paiva e Vasco Pinto de Magalhães SJ – , problematizam a relação entre as causas dos santos e os modelos científicos, discutindo a pertinência atual da convocatória de cientistas -principalmente médicos- e dos seus pareceres nos processos de canonização, do ponto de vista epistemológico, teológico e apostólico. Na seguinte secção de Filosofia, a figura recentemente desaparecida do filósofo britânico, Sir Roger Scruton é evocada num texto de Manuel Vilhena onde apresenta as suas principais linhas de pensamento e como se entrelaçam com a sua biografia.
A encerrar o caderno principal a secção de Artes e Letras oferece dois ensaios; o primeiro sobre espiritualidade e catolicismo na sétima arte de Manoel de Oliveira, de Eduardo Paz Barroso e o segundo sobre o notável contributo do Movimento de Renovação de Arte Religiosa da passada década de cinquenta, para a modernidade e uma maior qualidade plástica na arte e nos edifícios religiosos em Portugal, numa oposição formal à manutenção dos modelos tradicionalistas promovidos pelo Estado Novo, da autoria do arquiteto João Alves da Cunha.
O Caderno Cultural, para além das propostas habituais de leitura, de séries, de teatro, de exposições, de património e de música coloca em diálogo dois textos críticos sobre desenho: o primeiro de José Souto de Moura, a propósito da exposição ‘Biografia do traço’ e o segundo de João Sarmento SJ, a propósito de uma conversa sobre desenho publicada em livro com o artista plástico Pedro A. H. Paixão. Será este dialogo entre os dois críticos que teremos oportunidade de seguir numa transmissão em live, disponibilizada no canal Youtube da Brotéria que será transmitida no próximo dia 19 de junho, às 18.00.