O Célio Dias, um gambozino judoca do Pragal agora com 23 anos, marcou presença nos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Alegramo-nos muito com as suas conquistas e quisemos saber mais sobre elas.

Como foi o percurso antes dos Jogos Olímpicos e como foi chegar ao Rio de Janeiro como atleta olímpico?

Chegar aos Jogos Olímpicos e ter a honra (e orgulho!) de representar Portugal no mais importante evento desportivo do Mundo foi a melhor experiência da minha carreira; nunca me tinha sentido tão agradecido, não só pelo meu talento, mas também pelo facto de viver a experiência na primeira pessoa – como protagonista. O percurso até este objetivo foi sinuoso como qualquer outro – as dificuldades fazem parte de tudo na vida -; no entanto, voltaria a repetir todos os treinos e ultrapassar todos os obstáculos para estar novamente nesse palco – como disse um amigo meu – de sonhos.

O que mudou agora na tua vida? Há um antes e depois de ser atleta olímpico?
Infelizmente, perdi na primeira ronda na fase de qualificação. Foi uma experiência muito dura; portanto, sim: existe um antes e depois de ser atleta olímpico. O que existe em mim de diferente é a aceitação de que mesmo quando fazemos tudo certo, há fatores que não conseguimos controlar – o meu adversário, no meu caso. Temos que ter a humildade de aceitá-lo e guardar todos estes “desaires” como lições para a nossa vida. Como diz Oprah Winfrey: nós nunca erramos ou perdemos, ganhamos sempre.

Ser gambozino influenciou a tua postura nos J. O. ou em alguma parte da tua vida? Se sim, como?
A experiência dos Gambozinos influenciou a minha vida em dois sentidos: Muitas vezes, temos que ter a capacidade de ver para além da realidade; no meu caso, sempre acreditei que existia um projeto maior para além do dia a dia decadente no bairro. Neste sentido, os Gambozinos foram a primeira de muitas concretizações desta ambição pois desde muito cedo tive a oportunidade de viver experiências e conviver com o “diferente”, sair da minha zona de conforto. Por outro lado, sendo eu anteriormente bastante individulista, foi aqui – nos Gambozinos – que percebi como trabalhar em equipa é muito mais gratificante do que um percurso solitário – uma lição essencial no meu percurso como atleta de alta competição: “Se queres ir rápido, vai sozinho. Se queres ir mais longe, vai junto”.

Que mensagem deixas aos gambozinos mais novos?
Quero deixar duas mensagens. A primeira: “Saiam da vossa zona de conforto”. Enquanto atleta de alta competição, ao realizar os treinos que não gosto (treino de ginásio e treino cardiovascular), ao permitir-me sair da minha zona de conforto, foi nesses momentos que evolui mais e cresci como pessoa. O Judo (“via da suavidade” em japonês) é uma proposta de caminho para a felicidade tal como são os Gambozinos. Por isso, quero dizer aos mais novos: “Tenham a coragem de sair e ver o mundo à vossa volta”. Segunda mensagem: “Lutem sempre – sempre – pelos vossos sonhos”. Isto funciona como o imperativo categórico de Kant: não existe outra forma de viver a vida sem ser a lutar por aquilo que mais nos apaixona nela.
Célio Dias