Vestida de branco: a imagem de Nossa Senhora de Fátima

A exposição intitulada Vestida de Branco pretende comemorar o centenário da primeira escultura de Nossa Senhora da Fátima, executada em 1920. Esta exposição está patente até 15 de outubro na Basílica da Santíssima Trindade em Fátima.

A exposição intitulada Vestida de Branco pretende comemorar o centenário da primeira escultura de Nossa Senhora da Fátima, executada em 1920. Esta exposição está patente até 15 de outubro na Basílica da Santíssima Trindade em Fátima.

A exposição intitulada Vestida de Branco: a imagem de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, aberta ao público no espaço Convivium de Santo Agostinho, na Basílica menor da Santíssima Trindade (até ao dia 15 de Outubro de 2020), pretende comemorar o centenário da primeira escultura de Nossa Senhora da Fátima (executada em 1920). Desenvolve-se ao longo de sete núcleos pelos quais se dispõem 152 peças. A produção está a cargo do Santuário de Nossa Senhora de Fátima, comissariada por Marco Daniel Duarte estando o projecto museográfico a cargo dos arquitectos Humberto Dias e Pedro Gândara.

Ao entrar no espaço expositivo o visitante é confrontado com uma enorme tarja para a qual converge e percorre o olhar e onde se apresentam o título e o mote da exposição, repetido em cada núcleo, e que recorda as palavras da vidente Lúcia, as quais se tornaram matriz ou fonte para a iconografia da primeira imagem da Virgem de Fátima. Embora cada núcleo se apresente numerado e seguindo uma imagem gráfica padrão, o percurso estabelecido confunde o visitante na forma como foi delineado com estruturas divisórias, sendo para tal necessário orientá-lo, como fazem alguns assistentes dispersos pelas instalações. Os núcleos são diversos em tipologias de objeto, o que confere ao percurso uma estimulante experiência de observação ao longo do percurso, mas para um visitante sem qualquer conhecimento sobre Arte poderá parecer confusa a sucessão e a relação dos objectos entre si, ainda que as devoções e as iconografias presentes possam sugerir alguma linearidade. É importante pensar que o público-alvo que visita e visitará a exposição será constituído, cremos, maioritariamente por fiéis que acorrem ao santuário. No dia em que a visitamos (12 de Janeiro), dezenas de pessoas circulavam no percurso expositivo, algumas com mera curiosidade por cumprir o percurso e menos com atenção aos conteúdos nele exibidos.

Os núcleos são diversos em tipologias de objeto, o que confere ao percurso uma estimulante experiência de observação ao longo do percurso, mas para um visitante sem qualquer conhecimento sobre Arte poderá parecer confusa a sucessão e a relação dos objectos entre si,

A escolha dos núcleos, dos seus objectos e as razões inerentes a tal sequencialidade caberá, naturalmente, ao comissário, e embora pareça lógica a organização que procura uma genealogia da iconografia mariana, não surge clara a escolha de algumas peças, tanto mais que existe já em Portugal (ao contrário de outras iconografias) um conjunto de levantamentos e inventários que permitiriam justificar a escolha de uma amostragem relevante para a temática em questão. É caso para recordar os trabalhos: O Culto de maria Santissima na Diocese do Porto (1904), O Culto de Maria no Patriarcado (1926) e a obra mais recente, dirigida por Carlos Moreira Azevedo, Vigor da Imaculada (1998). Não se reconhece, pois, nem uma representatividade estilística, nem tipológica, nem geográfica das invocações e respectivas iconografias. Ainda assim entende-se, por exemplo, a presença da extraordinária escultura da Virgem da Conceição de Leça, que é uma das peças mais notáveis da exposição.

O diálogo com as artes contemporâneas, quase obrigatório no contexto expositivo religioso católico actual, permanente ou temporário, parece um pouco inesperado e não acrescenta valor visual ou estético ao percurso, até porque neste núcleo (III) o nosso olhar é imediatamente atraído, dentre todas as obras, pela colorida pintura proveniente da Igreja de São Francisco de Lamego (peça n.º 29), repleta de imagens alegóricas relativas às qualidades espirituais da Virgem.

 

A utilização de suportes audiovisuais e digitais é uma mais-valia da exposição que tenta articular imagem e som com os objectos uma interpretação do tempo e do contexto a eles associados.

 

A utilização de suportes audiovisuais e digitais é uma mais-valia da exposição que tenta articular imagem e som com os objectos uma interpretação do tempo e do contexto a eles associados. E ainda que dissonantes entre si em extensão ajudam a compreender melhor a ideia desta exposição, a de explorar a origem e difusão da imagem e culto da Virgem do Rosário de Fátima. Nesse sentido o núcleo V é o mais importante, o mais interessante e o mais necessário de todos. A exposição dos instrumentos dos artistas da oficina que executou os primeiros modelos da imagem, a associação de objectos e fontes primárias torna, a partir daqui a exposição numa verdadeira experiência pedagógica sobre o modo de pensar, criar e difundir a representação de um culto nascido quase no início do século XX e sem dúvida a mais importante devoção católica desta centúria. A propagação do modelo, a sua projecção a nível global, por variados meios apresenta-se de uma grande riqueza na apresentação dos conteúdos e dos objectos entre os números 40 e 114. Também a questão da conservação da escultura nos parece de sobremodo interessante para completar esta visão integrada de uma escultura religiosa com 100 anos. Espanta, por isso, que se sigam a este núcleo algumas peças aqui extemporâneas, como o manto da malograda rainha D. Amélia (número 142), que não obstante o seu valor material e estético, não constituiu, de modo algum, um objeto que contribua para a História da devoção de Fátima. Pelas suas dimensões e «impacto» histórico anula outras peças «menores» que atrás no percurso mereciam destaque.

O catálogo de exposição, de cuidado e limpo grafismo (19 páginas, a cores), distribuído gratuitamente, é um bom instrumento de consulta imediata sobre os objectos expostos, ainda que algumas peças merecessem uma explicação e descrição mais aprofundadas e, naturalmente, desse a conhecer a filosofia de composição desta exposição – absolutamente necessária passado o centenário sobre a criação da imagem mais reverenciada em Portugal.

 

 

VESTIDA DE BRANCO
Exposição comemorativa do centenário da primeira escultura de Nossa Senhora de Fátima – Informação no site do Santuário 
30 de novembro de 2019 a 15 de outubro de 2020
Convivium de Santo Agostinho | Basílica da Santíssima Trindade (mapa Google)

Horário
Terça-feira a domingo
09h00 às 12h45 (última entrada) e 14h00 às 17h45 (última entrada).
Encerra à segunda-feira.

Entrada livre.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.

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