Pensação do Menino
O Natal, como celebração do nascimento de Jesus Cristo, foi acolhido, ao longo da história, pelas várias culturas, que procuraram aproximar as circunstâncias deste acontecimento da sua realidade. Uma verdadeira “recriação”, como acontecia (e acontece ainda nalguns locais) na minha Madeira, com a chamada “Pensação do Menino”: uma longa composição em verso, os cuidados dedicados ao Menino Jesus após o parto.
Aguinaldo Criollo
O “meu” Natal tem outra tradição muito importante, a da Venezuela, onde vivi a minha infância. Ajuda-me a pensar como os vários povos foram, sucessivamente, procedendo à introdução de elementos da vida local e contemporânea – um sinal da importância da evocação do nascimento de Jesus, como acontecimento religioso, para o seu quotidiano. Neste Aguinaldo, conta-se a história do que teria acontecido com o nascimento de Jesus não na Palestina, mas na Venezuela.
Adeste Fideles
Esta famosa composição natalícia, de autoria incerta, é vulgarmente atribuída ao rei D. João IV de Portugal. Uma música obrigatória no Natal, inclusive o do Vaticano, numa proclamação de fé na realeza divina do Menino que nasceu entre os mais pobres dos pobres.
Le noel de la rue
Há outro “Natal” por trás da celebração cristã. Com valores próprios e, infelizmente, também com aproveitamentos e comportamentos meramente comerciais, que apenas reforçam a exclusão dos últimos. Piaf canta em nome dos que apenas podem ficar a olhar para as montras e sofrer, com a neve, o frio, a rejeição da sociedade.
Evoco, a este respeito, o dramaturgo alemão Bertolt Brecht:
«Vem, bom Senhor Jesus, a nós!
Volta o olhar:
porque Tu és-nos realmente necessário».
Gesubambino
A nona música do disco Construção (1971) é uma versão de Chico Buarque a partir do original italiano de Lucio Dalla; não é, de todo, uma música de Natal. Mas naquele homem, com vícios confessos, persiste a marca deixada pela sua (na prática) mãe-solteira, um nome: Menino Jesus.
Desde o momento do seu nascimento, Jesus Cristo vai ao encontro dos que são considerados impuros, do que é tabu, daqueles que a religião do seu tempo interditava. Isso também é Natal.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.