Fotografia 1 – 18 agosto de 2017
Num fim de tarde, trinta minutos antes da hora da Missa, sentado numa cadeira de verga sozinho debaixo de um alpendre. Entre a pressa de um traço e a lentidão do descanso, as letras daquele livro pareciam mais demoradas, as frases mais deslumbrantes e a leitura mais pausada. Pedia adiamento. Como se aproximasse a despedida de um bom livro.
E por isso estranhamente por ser tão bom, o livro parecia que não queria ser lido.
Fotografia 2 – 20 agosto de 2017
Trocam-se cartas, jogam-se estratégias, recolhem-se pontos, reclamam-se vitórias, contam-se histórias, faz-se um ou outro brinde.
Ali ao fundo, quase sem horários, a noite lembra-nos que o horizonte é dos maiores brindes desta vida. Distante, intocável e apetecível, vista e desejável.
Uma espécie de margem distante, uma promessa real.
E ainda bem.
Estranhamente, assim, mantém-se aberto esse nosso desejo.
Fotografia 3 – 22 agosto de 2017
Uma criança de mão dada com o pai, perto da falésia.
Ele, o pai, parecia estar num museu. Ela, a criança, num parque. Mas, a falésia era a mesma. O pôr-do-sol também.
Ele apreciava um quadro e ela vivia na autenticidade e a simplicidade.
Mesmo assim e não tirando a mão do pai, a criança despediu-se do sol. Disse-lhe até amanhã.
E acenou-lhe.
Fotografia 4 – 23 agosto de 2017
Passeava pela praia quando por pouco, tropeçava neste senhor.
Estava abstraído. Completamente abstraído. Tinha tudo diante de si. A natureza, a visão, o tempo, e talvez a eternidade porque quase eterna foi esta a posição em que se encontrava.
Não tinha ar de monge, místico ou eremita.
Estava de férias, simplesmente, isto. A aproveitar bem as férias e o tempo que lhe estava a ser dado e oferecido naquele instante.
E por isso, ele foi para mim motivo de escândalo. Pedra de tropeço. E desenhei-o.
Desenhei a liberdade de não fazer nada irrepreensivelmente bem interpretada por este senhor.
Fotografia 5 – 26 agosto 2017
Que biografias se encontram ali no meio daquele areal? Que ano lhes foi dado a viver? Que ambição e esperança trazem consigo?
O que vê aquela mãe quando aprecia o filho a brincar na praia? O que sente aquele pai pela própria mãe que se movimenta com acrescida dificuldade? O que ambicionam aqueles namorados e o que prometem ainda aqueles avós?
Que livros são lidos e que conversas são tidas?
Que dias são estes que nos são dados a viver?
Que Deus nos é mostrado nestes dias?
Consulte as propostas anteriores da rubrica Férias com Deus:
Proposta 5 – Férias: tempo em família para criar e fazer memórias
Proposta 4 – Ser herói ou ser santo?
Proposta 3 – Pode a oração ser uma luta?
Proposta 2 – Dilatar o coração
Proposta 1 – Só avança quem descansa
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.