P. Adolfo Nicolás em Portugal

Entre 1 e 4 de junho de 2014 o P. Adolfo Nicolás, sj visitou a Província Portuguesa da Companhia de Jesus. Nessa ocasião fez diversas intervenções. Aqui fica o registo de algumas das afirmações mais marcantes que fez nessa ocasião.

Entre 1 e 4 de junho de 2014 o P. Adolfo Nicolás, sj visitou a Província Portuguesa da Companhia de Jesus. Nessa ocasião fez diversas intervenções. Aqui fica o registo de algumas das afirmações mais marcantes que fez nessa ocasião.

O P. Adolfo Nicolás, sj, antigo Geral da Companhia de Jesus que faleceu esta manhã no Japão, esteve duas vezes em Portugal. Em 2008, em Fátima, para participar na Assembleia Mundial da CVX, e mais tarde, em 2014, para uma visita mais prolongada à Província Portuguesa, passando por Lisboa, Coimbra, Braga e Porto. É desse último encontro que ficam as principais memórias, que aqui se recordam.

1 de junho, Lisboa

No encontro que teve com jesuítas, colaboradores das diferentes obras da Companhia de Jesus, membros da Comunidade de Vida Cristã (CVX) e dos movimentos de campos de férias, o P. Adolfo Nicolás abordou a temática da colaboração na missão. Nessa ocasião, ficou célebre o convite a ser como uma girafa: ter “um olhar largo (como quem vê de cima) e um coração grande” e a insistência para um “descentrar-se”, que, como dizia, “é deixar de se centrar em algo para se centrar em Cristo.”

Numa ligação muito prática à realidade, o Padre Geral referiu a importância do papel dos centros universitários que, enquanto centros pastorais, assumem “o objetivo de acompanhar os universitários, de os ajudar a integrar o que estudam com a vida”. Por outro lado, lançou aos membros da Comunidade de Vida Cristã (CVX) o desafio de “encontrarem na sua vida concreta a dimensão que os abre aos outros, não imitando os religiosos, mas descobrindo a sua vocação profissional”.

Neste mesmo dia, houve uma missa no Colégio São João de Brito. Na homilia, o Padre Geral interpelou de modo particular os pais, convidando-os a promoverem a autonomia dos filhos, fazendo uma alusão às espécies de aves em que a própria mãe empurra a cria para fora do ninho para a obrigar a voar sozinha, para que saia e parta para a sua própria vida.

 

“Não tenham pressa para nada, as coisas importantes levam tempo. (…) Há muitas coisas para aprender e a primeira é como entendemos as pessoas, a vida de família, de trabalho, e a sociedade.”

Diálogo com os noviços em Coimbra P. Adolfo Nicolás

 

2 de junho, Coimbra 

Na conversa que teve com os noviços, em Coimbra, o P. Adolfo Nicolás recomendou: “não tenham pressa para nada, as coisas importantes levam tempo”. E acrescentou: “há muitas coisas para aprender e a primeira é como entendemos as pessoas, a vida de família, de trabalho, e a sociedade”. Destacou ainda que a Igreja espera dos jesuítas três atitudes fundamentais: a profundidade, “porque estamos num mundo muito superficial e a Igreja é também tentada a ser superficial”; a criatividade, “porque as perguntas novas são inéditas e há que procurar respostas onde não se procurou antes”; e a Vida no Espírito, “porque, se não temos vida no Espírito, se não estamos afinados com o Espírito, vamos perder muitas oportunidades de servir e de ir mais além”.

(Transcrição completa da conferência aos noviços)

Ainda em Coimbra, o Padre Geral deu uma conferência sobre liderança na qual referiu que uma verdadeira liderança deverá ser espiritual, sábia e prática. O antigo Geral dos jesuítas sublinhou ainda que “a liderança parte de um caminho interior, usa as fontes normais de aprendizagem e, se não é prática, não serve”.  Apontou como aspetos principais da liderança a visão e as pessoas, dizendo que, “o líder é uma pessoa que vê não só o presente, mas o futuro”, e que a visão “é uma condição básica para que um líder tenha credibilidade entre os seus seguidores”.

Quando à visão do líder, alertou que “necessita de cuidados contínuos” e que é essencial que recorde com regularidade à sua equipa a visão que os orienta, o que contribui também “para que os outros participem na missão com o nosso mesmo entusiasmo”. (…) Na sua conferência, o Padre Geral referiu igualmente a necessidade de formação “correspondente às suas responsabilidades”, que muitos leigos têm requerido, reforçando que não é possível “exigir a uma pessoa que responda a uma série de desafios sem antes lhe dar a formação e os instrumentos adequados para os enfrentar profissionalmente”.

Abordando o segundo fator, as pessoas, o Padre Geral vincou que “o líder não funciona sozinho” e que uma das suas primeiras ações “é criar uma equipa de trabalho com outros”, pois é necessário uma comunidade, “um grupo de pessoas que querem caminhar todas em conjunto e na mesma direção”. As suas palavras chamaram ainda a atenção para o equívoco sobre liderança, que “não significa limitar a liberdade, nem impor, nem tão pouco organização.”

 

3 de junho, Porto

Na sua passagem pelo Porto, o P. Adolfo Nicolás teve um encontro informal com os jesuítas, um encontro com os educadores do Colégio das Caldinhas e deu uma conferência aberta sobre Educação.

Nessa ocasião explicou que a razão de os jesuítas estarem envolvidos com a educação se prende com a visão de Santo Inácio de que “o melhor serviço que podemos prestar à humanidade é contribuir para o crescimento e a transformação das pessoas, e o sítio melhor para essa transformação é a educação”. Referindo-se ainda aos ensinamentos do fundador da Companhia de Jesus, afirmou: “A educação não planta, mas retira de dentro da criança. É deixar que de tudo o que a educação deixa na pessoa, no cérebro, no coração, na sensibilidade, saia o melhor”. O objetivo da educação nos colégios, acrescentou, é que haja um processo de crescimento que leve a uma transformação de valores, de visão, de sentimentos, e proporcione o desenvolvimento e o crescimento da pessoa como pessoa de qualidade.

4 de junho, Braga

Mais a norte, em Braga, o Padre Geral abordou o tema “Fé e Cultura”, num encontro no auditório da Faculdade de Filosofia. Nesse encontro, referindo a diversidade e algumas características das várias culturas do mundo, o P. Geral afirmou: “A cultura dá-nos respostas, modos de responder à realidade, aos outros, a uma série de situações conflituais da vida humana, portanto é uma grande ajuda para responder e para viver.” Mas acrescentou que, sendo cada uma limitada pelas suas próprias características e preconceitos, são precisas todas as culturas para encontrar uma certa plenitude da vida humana.

O Padre Geral sublinhou ainda a grande busca de toda a cultura pela sabedoria de viver juntos. “Creio que a grande aventura da humanidade é a aventura de encontrar um modo de viver juntos em que todas as pessoas possam viver humanamente e em paz, uma paz ativa, uma paz dinâmica onde se estão sempre a buscar caminhos humanos de viver. A grande busca da humanidade é a sabedoria.” Referindo ainda os valores principais das várias culturas – a vida em África e na América Latina: o caminho ou o ‘como’ na Ásia; a verdade ou o “quê” na Europa e na América do Norte, recordou a necessidade de a comunicação e a evangelização serem inculturadas, adaptadas às características e limitações culturais.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.