O livro de Rui Tavares trata de um tema muito interessante. De facto, podemos dizer que há uma revolução cultural no século XVIII que, ao contrário do que acontece por exemplo em França, se dá mais por acção do Estado do que pelo combate filosófico iluminista. É certo que há uns pós revolucionários nos oratorianos, em Verney, Manuel do Cenáculo ou Teodoro de Almeida; no entanto, trata-se em geral de Homens da Igreja, sem o ódio à religião de Voltaire ou Diderot; a revolução portuguesa é, assim, muito mais subtil.
Diz Rui Tavares que uma das charneiras desta revolução está nos pareceres da Real Mesa Censória. De facto, os ilustres censores que encontramos ao longo do século XVIII, bem como os pareceres pormenorizados e eruditos que produzem, mostram o investimento de Pombal na Censura. Ora, esta censura serve para mostrar de que forma o Estado pretendia moldar o pensamento português. Há várias censuras ao fanatismo e a tudo aquilo que rejeita o bom uso da razão, bem como um rigor nunca antes visto em relação aos relatos descuidados de milagres e de misticismos desajustados.
Tão interessante como o livro é a noção, que Rui Tavares transforma em problema, de que neste tempo a censura contribui para uma sociedade mais livre ou, pelo menos, mais esclarecida. A censura, um dos pilares do obscurantismo, está com Pombal ao serviço da razão.
Porém, tão interessante como o livro é a noção, que Rui Tavares transforma em problema, de que neste tempo a censura contribui para uma sociedade mais livre ou, pelo menos, mais esclarecida. A censura, um dos pilares do obscurantismo, está com Pombal ao serviço da razão. Rui Tavares usa isto para uma interpretação da sociedade Pombalina como uma sociedade cheia de contradições, em que liberdade e opressão coabitam constantemente; no entanto, o que nos parece é que a Censura Pombalina deve ser encarada de outra forma. Isto é, o tempo de Pombal é um tempo em que a tolerância ainda não é vista como um valor em si próprio. É a razão que é um valor em si, e a tolerância deve ser usada enquanto servir para que quem usa a razão a possa usar. Tavares raciocina ao contrário: pela razão chegaremos ao valor da tolerância – daí a sua perplexidade com estes “censores iluminados”.
Editora: Tinta da China
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Entrevista a Rui Tavares sobre o livro
https://www.youtube.com/watch?v=iTDMGilGfBo
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
Sugestão Cultural Brotéria
Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.
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