Em 1542/43 os portugueses desembarcaram na ilha de Tanegashima[1], no Japão. A partir daí, a configuração do Japão no Mundo mudou radicalmente para os ocidentais, através dos primeiros contactos estabelecidos com os comerciantes e missionários portugueses que iam chegando. Esses contactos permitiram criar um especial relacionamento com os japoneses e as autoridades locais. Através deste relacionamento, estabeleceram-se também laços e intercâmbios do Japão, com outras regiões, como a China, mediante a intermediação de portugueses.
Numa primeira fase, o Cristianismo no Japão conheceu um desenvolvimento fulgurante, estimando-se que, se por volta de 1554 haveria cerca de 4000 convertidos, em 1586 seriam cerca de 170.000 os japoneses convertidos.[2]
Esse encontro entre duas diferentes culturas e pessoas, aprofundou-se no decurso do tempo, e passados quatro séculos, é hoje motivo de não apenas de revivalismo, mas de mútuo interesse a redescoberta daquilo que constituiu o legado desse rico intercâmbio estabelecido, em vários planos, entre Portugal e Japão: humano, económico, cultural e espiritual, e social.
Esta exposição, cujo cuidado exigiu uma preparação que durou cerca de dois anos, é promovida pelo Palácio Nacional da Ajuda, com o apoio do Diretor de Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Foi gizada por uma equipa científica liderada pelas Professoras Doutoras Alexandra Curvelo e Ana Fernandes Pinto, comissárias da exposição.
Tal como no título escolhido para a exposição, ASSOMBRO, sugere espanto, pasmo, grande admiração, que os portugueses e japoneses experimentaram no encontro que tiveram; mas também pelos temas e obras expostos, e um olhar colocado sobre alguns dos momentos mais marcantes dessas relações, estabelecidos ao mais alto nível. Mas também pode sugerir susto, ou medo, por uma situação ou situações vividas e identificadas, emergentes dessas relações.
Tal como no título escolhido para a exposição, ASSOMBRO, sugere espanto, pasmo, grande admiração, que os portugueses e japoneses experimentaram no encontro que tiveram,
No percurso da exposição os visitantes são convidados a olhar para obras ou situações, ou temas, que os fazem oscilar entre vários polos, mas também compreender melhor aquilo que viveram e experimentaram, quer portugueses, quer japoneses em vários momentos mais marcantes, desde o Século XVI ao Século XX (até 1952).
Desde os momentos dos primeiros encontros no século XVI, com a presença de comerciantes e missionários portugueses – espelhado em pinturas integradas em vários biombos Nanbam -, ao progressivo conhecimento mútuo e adaptação; mas também a alguns momentos de rutura, como a expulsão dos missionários, determinada logo em 1614. Um pouco mais tarde, também com a expulsão de comerciantes espanhóis (1623) e portugueses (1629)[3], e adopção de uma política de isolamento para com o exterior.
Até ao reencontro e restabelecimento de relações diplomáticas, culturais, e económicas, a partir de 1860.
Aos visitantes é facultado o conhecimento de obras e peças, quer das coleções do próprio acervo do Palácio da Ajuda, quer pertencentes a outras entidades públicas e privadas, que também cederam obras para esse efeito.
É animador e também motivo de admiração conhecer o que de melhor se pode fazer a nível de recuperação de objetos ou obras de valor artístico notáveis, de que são exemplo a Armadura Japonesa de Samurai e o Arroio de Samurai,a primeira, do século XVIII-XIX, a segunda do Século XVII, expostas ao público, que refletem alguns dos sinais mais marcantes dos símbolos do poder e da cultura japonesa daquele tempo.
Noutros espaços expositivos, os visitantes são confrontados com a mudança de rumo nas relações estabelecidas, e os choques e perseguições aos missionários e religiosos europeus, com a sua expulsão no decurso das primeiras décadas do século XVII, na sequência de uma reorientação da política interna e externa operada no Japão, no quadro de uma reunificação do poder a nível central.
Noutro núcleo da exposição, as peças expostas e a linguagem do percurso, evidenciam alguns dos sinais vitais da mudança radical realizada pelo Japão, na abertura ao exterior no decurso do século XIX. Num primeiro momento, na sequência de uma política e imposição militar externa dos Estados Unidos da América; num segundo momento, decorrente da política interna e clara opção pela industrialização, e pela afirmação de uma pujante economia, e pela divulgação da especificidade da cultura Japonesa no mundo.
Essa abertura ao exterior permitiu uma nova aproximação e, de novo, também à construção de relações mais estreitas entre Portugal e Japão, espelhado formalmente no Tratado de Paz, Amizade e Comércio entre Sua Majestade o Imperador do Japão e Sua Majestade o Rei de Portugal, assinado em 1860 pelo Rei D. Pedro V. E também evidenciado na recepção que, pouco tempo depois, os reis D. Luís e D. Maria Pia de Saboia concedem na Sala do Trono do Palácio da Ajuda a uma embaixada do Japão, que ofereceu vários presentes diplomáticos, agora também integrados nesta exposição.
A crescente admiração pela cultura japonesa, e o forte desenvolvimento económico do Japão, é transmitido de forma muito interessante e muito impressiva por alguns dos principais diplomatas portugueses colocados na legação junto da corte imperial japonesa, cujos testemunhos integram seguramente alguns dos principais aspectos ou dimensões, valores e realidade das relações luso-nipónicas.
Percebemos e confirmamos a razão de ser da paixão do escritor Venceslau de Morais pela cultura e história, e modo de vida no Japão, de que era um grande admirador.
Para melhor completar a visita, nada melhor do que consultar, ler e olhar para o excelente Catálogo da Exposição, cujo rigor científico e cultural é assegurado pelos seus autores, sobre os temas tão marcantes como:
«O Japão no Mapa-Mundo», «A bordo da Nau do Trato», «A Missão Cristã no Japão (,,,) (1549-1614)», e «Revivalismo (s) “Nanban”», por Alexandra Curvelo;«O Reencontro (…)1854-1900)», «Os diplomatas (…)1903-1952)», por Ana Fernandes Pinto;«”Assombro” o projeto da exposição», por João Herdade.
Claro, também nós ficamos admirados!
Por último, será de aproveitar fazer uma visita guiada.
Todas as imagens cedidas pelo Palácio Nacional da Ajuda
EXPOSIÇÃO UMA HISTÓRIA DE ASSOMBRO
Informações úteis:
Morada: Palácio Nacional da Ajuda, Largo da Ajuda 1449-021 Lisboa (Mapa Google) I Telefone +351 213 637 095 / 213 620 264
Data: Até 26 março 2019 I Horário: de quinta a terça das 10h00 às 18h00
Preçário
Visita Guiada ainda com lugares disponíveis:
14 de março | | quinta feira | 18h15
Maria José Gaivão Tavares
Conservadora do Palácio Nacional da Ajuda
Comissária Executiva da Exposição
Contacto: [email protected]
Notas:
[1] Catálogo, p.18.
[2] COSTA, João Paulo Oliveira, O Cristianismo no Japão e o Episcopado de D. Luís Cerqueira, Dissertação de Doutoramento, UNL-FCSH, 1998, p.99
[3] PINTO, Ana Fernandes, Catálogo, Palácio Nacional da Ajuda, 2018, p.76
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
Sugestão Cultural Brotéria
Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.
Conheça melhor a Brotéria