Vivemos tempos de múltiplas crises, oportunidades e, certamente, desafios. As nossas escolhas de hoje definirão o curso da história. A sociedade civil, em particular as organizações não-governamentais de ambiente no seio da sua federação europeia, o European Environmental Bureau, têm refletido muito sobre o que tem sido e deverá ser o papel da União Europeia no futuro. Precisamos, efetivamente, de uma agenda pioneira – um farol de esperança que liberte o potencial para todos os cidadãos, comunidades e empresas sustentáveis para impulsionarem uma transição justa para um futuro onde as pessoas prosperem dentro dos limites do nosso planeta.
As crises interligadas do clima, da biodiversidade e do excesso de consumo de recursos e poluição estão a mudar o nosso mundo e a aprofundar as divergências entre e dentro dos países a nível mundial. A pobreza e as profundas desigualdades, agravadas pela inflação, estimularam uma crise no custo de vida, corroendo as nossas sociedades. O atual sistema económico gerou riqueza para alguns, mas a um custo elevado para muitos, e está, todos os anos, a exacerbar a degradação do planeta, a tripla crise e os riscos para o nosso futuro. As campanhas de desinformação e o abuso de posição e de poder económico prejudicam as eleições e colocam a democracia em risco. As escolhas difíceis que a humanidade enfrenta agora sublinham a necessidade de mudança do sistema. No entanto, nem tudo é sombrio e a resignação à dificuldade de angariar apoio para os esforços de transformação não é uma opção. Há toda uma esperança que nos deve inspirar e ser ampliada. A mudança para energias renováveis, tecnologias limpas e desenvolvimento de produtos circulares criará milhões de empregos qualificados de boa qualidade. Os meios de subsistência dos agricultores e pescadores podem ser melhorados através de preços justos, práticas agroecológicas e pesqueiras e esforços de proteção e restauro da natureza. Os rendimentos familiares disponíveis podem aumentar através de uma tributação justa e redistributiva, de condições de trabalho dignas, de salários justos, da renovação de edifícios que permitam poupar energia e de políticas de habitação socialmente justas, do acesso a alimentos saudáveis e acessíveis e de transportes públicos mais acessíveis. É também necessário um compromisso com um melhor acesso a infraestruturas e serviços e a produtos reparáveis e isentos de tóxicos que torne a escolha segura e sustentável a escolha mais fácil. Podemos e devemos reorientar as nossas economias, centrando-nos, não em gerar lucros a curto prazo, mas satisfazendo as necessidades humanas e a viabilidade e sustentabilidade a longo prazo, abrindo caminho para uma economia futura próspera em harmonia com as realidades planetárias.
Podemos e devemos reorientar as nossas economias, centrando-nos, não em gerar lucros a curto prazo, mas satisfazendo as necessidades humanas e a viabilidade e sustentabilidade a longo prazo, abrindo caminho para uma economia futura próspera em harmonia com as realidades planetárias.
A força da Europa reside numa política progressista enraizada em normas sociais e ambientais. O Pacto Ecológico Europeu foi um ponto de partida, catalisando parte da mudança de sistema de que necessitamos, fortalecendo a credibilidade internacional da União Europeia, mas temos de avançar mais. Devemos comprometer-nos com uma agenda de esperança e confiança, um programa exequível e viável para o nosso futuro comum e uma mudança de sistema sem deixar ninguém para trás. Precisamos de uma Transição Justa global na qual todos possam fazer parte da solução. É evidente que uma parceria europeia e global deste tipo deve proteger os mais vulneráveis contra as externalidades negativas.
É necessário um Pacto Europeu para o Futuro, um novo acordo verde e social. Este plano de ação de esperança e coragem é para agora, para amanhã, para as gerações jovens e futuras, permitindo à geração mais velha deixar um legado de um mundo em que vale a pena viver.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.