Desligar, estar e aprofundar – as propostas da Comunidade Inaciana de Évora

Até mesmo nós, enquanto católicos, por vezes esquecemos o essencial do nosso serviço ao outro, deixando de lado os valores que Jesus nos ensinou: amor, compaixão e solidariedade.

Até mesmo nós, enquanto católicos, por vezes esquecemos o essencial do nosso serviço ao outro, deixando de lado os valores que Jesus nos ensinou: amor, compaixão e solidariedade.

Desligar, na natureza com Deus

Acordamos com o alarme do despertador e, imediatamente, as notificações do telemóvel começam a bombar. No carro, sintonizamos o rádio para ouvir as notícias e, quando chegamos ao trabalho, ligamos o computador para despachar uma série de e-mails e outras tarefas. Com as tecnologias constantes à nossa volta, seja em casa, no trabalho ou até em restaurantes, vivemos momentos de muito barulho. Há sempre um zum-zum em todo lado, e parece que o nosso cérebro acompanha estas modernices, incapaz de se desligar. Damo-nos conta de que a nossa cabeça está a mil e desejamos um pouco de espaço e silêncio para recuperar o nosso equilíbrio interior.

Proposta:

Lembre-se de tirar uma hora por dia para sair de casa e ir para uma zona silenciosa na natureza, seja na praia ou no campo. Vamos deixar os telemóveis e todas as tecnologias em casa, aventurando-nos como antigamente e redescobrindo a simplicidade de estar em contacto com a natureza.

 

Oração para esse momento de silêncio:

Dá-me, Senhor, a humildade para reconhecer a Tua generosidade,

para agradecer por tudo aquilo que tenho e que, por vezes, não valorizo.

Derrama sobre mim o dom da empatia, do serviço ao outro e da entrega sincera.

Que eu não deseje ser mais do que ninguém, nem ter mais do que alguém.

Que eu não viva na expectativa das heranças terrenas, mas sim na alegria da Tua companhia.

Ensina-me a ver beleza em todas as coisas, até nas mais difíceis e incompreensíveis.

Que as minhas vontades nunca sejam mais fortes do que as Tuas.

Mesmo quando me sinto distante, não deixes de caminhar ao meu lado;

sou grata por cada segundo da Tua constante presença e amor.

 

Estar
Atualmente, vivemos numa sociedade profundamente polarizada, onde a falta de empatia pelo próximo é cada vez mais evidente. As pessoas parecem incapazes de compreender e aceitar realidades diferentes das suas, fechando-se nas suas bolhas de conforto e opinião. Até mesmo nós, enquanto católicos, por vezes esquecemos o essencial do nosso serviço ao outro, deixando de lado os valores que Jesus nos ensinou: amor, compaixão e solidariedade. A importância de estar presente e disponível para o próximo, escutando e tentando compreender as suas vivências, não pode ser subestimada.

Proposta:

Para ajudar a ver as coisas de forma diferente e promover uma maior compreensão e empatia, recomendo os seguintes filmes: Favores em Cadeia, Filadélfia, Amigos Improváveis, O Pianista, Danças com Lobos, Escola de Homens e I Am Sam.

Estes filmes mostram outras perspetiva sobre diversas realidades e desafios humanos, incentivando-nos a refletir sobre a nossa própria humanidade e o papel que desempenhamos na vida dos outros. Saber estar com pessoas diferentes, aprender com as suas histórias e partilhar momentos autênticos é um bem necessário para podermos construir uma sociedade mais justa e solidária.

 

Aprofundar
É difícil fugirmos às modas que entram pelo ecrã do nosso telemóvel. Num tempo em que a sociedade se concentra intensamente no culto da imagem e da aparência, nunca foi tão urgente refletir sobre a morte e a velhice. A obsessão por procedimentos de beleza, dietas mirabolantes e cosméticos revolucionários criou um ambiente em que envelhecer se tornou quase um tabu. Aos 50 e 60 anos, muitos esforçam-se para manter um rosto jovem, enquanto os mais jovens, temendo parecer envelhecidos, seguem tendências dos mais velhos sem necessidade. Em qualquer lugar, os comentários sobre a aparência são incessantes: “aquele está com um ar envelhecido para a idade”, “aquela, que era cheinha, agora está impecável”, “aquele está demasiado magro, até lhe fica mal”, “aquele era tão giro e agora parece um trambolho”. E se não são comentários sobre a aparência, são sobre o estilo e a maneira de vestir. Todos parecem ser críticos de moda e especialistas em estética, criando uma constante pressão para nos conformarmos com padrões muitas vezes superficiais e irreais.

Esta constante obsessão e os juízos incessantes sobre o corpo e a imagem revelam uma profunda falta de interesse pelas questões realmente significativas da vida. É exaustivo e desalentador ver como as conversas e preocupações giram quase exclusivamente em torno da aparência, como se não houvesse temas mais substanciais a explorar.

Proposta:

Leitura do livro “A Morte contada por um Sapiens a um Neandertal” Juan José Millás  e Juan Luis Arsuaga

O livro A Morte Contada por um Sapiens a um Neandertal oferece uma perspetiva reveladora ao ensinar-nos a encontrar beleza nas coisas que normalmente nos assustam, como a velhice e a morte. Esta obra desafia a visão superficial e passageira da aparência, encorajando-nos a refletir sobre o valor intrínseco da vida e a beleza que reside na aceitação e na compreensão profunda da nossa própria mortalidade. Ao abordar estes temas com sensibilidade e profundidade, o livro ajuda a redefinir o que significa viver uma vida significativa, livre da pressão constante para atender a padrões efémeros e desumanizadores.

Referências:

•       Editora: Presença

•       Categorias: Livros – Ciências Sociais e Humanas – História

•       Ano: 2023

•       Preço: 17,90€

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.