O APSI (Arquivo Português Societatis Iesu) recolhe um património e uma herança cultural da espiritualidade e da missão da Companhia de Jesus no mundo e em Portugal. Tem uma dimensão científica e apostólica que permite contemplar a nossa origem e carisma.
Na sua dimensão científica conserva um património documental que permite estudar com todo o rigor histórico a missão (vida religiosa, pedagogia, espiritualidade, compromisso social, etc.) da Companhia de Jesus em Portugal e no mundo.
Tem uma dimensão apostólica porque conserva uma história que é expressão viva da ação evangelizadora da Companhia e fortalece a sua identidade carismática por conservar uma documentação que manifesta, em situação contextualizada, a missão da Companhia.
O APSI não possui documentação original anterior à expulsão da Companhia de Jesus de Portugal e Colónias, pelo Marquês de Pombal (1759). Depois, aconteceu a sua extinção pelo Papa Clemente XIV (1773), pressionado por uma conjuntura política na Europa do século XVIII que considerava a Companhia uma ameaça ao poder estatal e um perigo pela influência na autoridade da Igreja. Com a sua restauração, pelo Papa Pio VII (1814) as Províncias jesuítas foram-se organizando e os Arquivos surgem como lugares de memória.

O APSI começa a ter documentação a partir de 1829, ano em que a Companhia entrou em Portugal a convite de D. Miguel. Ao pedido, oficializado pelo duque do Cadaval, deu resposta o Provincial de França que encarregou o P. Filipe Delvaux de organizar a chamada “Missão Francesa”. O grupo de seis padres e dois irmãos chegou a Portugal no dia 13 de agosto de 1829. Trabalharam em missões populares, abriram o noviciado no antigo colégio de Santo Antão o Velho e, em 1832, receberam o colégio das Artes de Coimbra e estavam, também, para orientar o colégio do Espírito Santo, em Évora. Em 1834, os jesuítas foram expulsos, assim como outras congregações religiosas, pelo regime liberal, entretanto, instaurado.
Para este período há uma documentação significativa: manuscritos sobre as negociações da vinda dos jesuítas para Portugal; cópia de uma carta do Arquivo da Nunciatura referindo a proteção do Rei para com os jesuítas; breve relação do que existe no Arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros sobre os jesuítas; correspondência; manuscritos dos padres que estiveram no Colégio das Artes; um relatório da saída dos jesuítas de Coimbra até ao embarque para Itália; diários.
Em 1848 o P. Rademaker entrou em Portugal depois de ter feito parte do noviciado em Turim e trabalhou arduamente na restauração da Província Portuguesa. A partir dessa altura temos documentação abundante no Arquivo apesar de ter passado por mais uma expulsão, a da Primeira República portuguesa, com a revolução de 1910. Foi graças ao P. António Vaz Serra (1884-1943) que conhecia bem o Arquivo, pelos cargos que ocupou na Cúria Provincial, que ainda possuímos tal riqueza documental. Em setembro de 1910, pressentindo o que poderia acontecer aos jesuítas, pediu a cooperação de amigos da Companhia que guardaram e depois fizeram chegar ao Colégio de La Guardia, propriedade dos jesuítas espanhóis, de forma disfarçada, mas muito cuidada, baús e caixas com toda a documentação do Arquivo. De La Guardia foi, todo este material, enviado para uma residência de jesuítas portugueses exilados, em Tuy, Pontevedra. Daí passou por Alsemberg, Bruxelas, onde estava a Cúria Provincial, no exílio, e, em 1913, voltou para Tuy, Rua de San Telmo, onde se instalou a Cúria provincial.

Em setembro de 1910, pressentindo o que poderia acontecer aos jesuítas, pediu a cooperação de amigos da Companhia que guardaram e depois fizeram chegar ao Colégio de La Guardia, propriedade dos jesuítas espanhóis, de forma disfarçada, mas muito cuidada, baús e caixas com toda a documentação do Arquivo.
Em 1932, foi instalada, no Porto, Rua das Valas, 107, a casa provincial. Fez a trasladação o Provincial, P. Cândido d’Azevedo Mendes (1874-1943, Provincial 1919-24 e 1927-33), mas antes de chegar ao Porto esteve um mês e meio na “Casa da Rocha” em Caminha (Valença) alugada em 1931, depois da “queima dos conventos”, alusão à violência anticlerical contra edifícios e instituições da Igreja católica em Espanha.
Em 26 de novembro de 1933 é nomeado Provincial o P. Paulo Durão (1893-1971, Provincial 1933-40) que, em 1934, transferiu a Cúria para Lisboa, Rua da Lapa, onde esteve até 1985, ano em que passou para o Lumiar, junto ao Colégio de S. João de Brito.
A partir de 1848 o APSI conserva:
– Documentos relativos ao governo e administração da Companhia de Jesus em geral e da Província Portuguesa em particular. A correspondência com Roma contém, para além de Relatórios específicos, as cartas Ânuas e a História das Casas.
– Documentos relativos às residências e colégios: documentação oficial, diários, correspondência, relatórios, programas de academias literárias e científicas, etc., revistas dos colégios e livros da distribuição de prémios.
– Documentos relativos às Missões: África (Moçambique e Angola), Brasil, Macau, China, Timor e Índia. Esta documentação inclui, para além da correspondência, Relatórios; Estudos socioculturais, científicos, linguísticos e missiológicos.
– Documentos relativos às Obras e comissões de trabalho.
– Espólios, fotografias, catálogos, livros de registos, atas das congregações provinciais e das consultas; “Cartas Edificantes da Província de Portugal, S. J.” (1909 – 1936) e “Ecos da Província de Portugal”.


* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.