“Ao nome de Jesus” reúne 600 composições do P. Manuel Simões, sj

Trata-se do espólio de música sacra composta pelo P. Manuel Simões, a maioria cânticos para uso litúrgico, mas também muitas outras peças de música popular (de Natal e Páscoa, por exemplo) e cânticos compostos para concertos de música sacra

Trata-se do espólio de música sacra composta pelo P. Manuel Simões, a maioria cânticos para uso litúrgico, mas também muitas outras peças de música popular (de Natal e Páscoa, por exemplo) e cânticos compostos para concertos de música sacra

Foi publicado, esta semana, o livro com a obra completa de música sacra do P. Manuel Simões, sj. Com o título «Ao nome de Jesus» esta obra, publicada pelo Secretariado Nacional de Liturgia, em estreita parceria com a Província Portuguesa da Companhia de Jesus, traz à luz cerca de 600 cânticos, reunidos em cerca de 1100 páginas, muitos deles desconhecidos do público em geral. Trata-se do espólio de música sacra composta por M. Simões, na sua maioria cânticos para uso litúrgico, mas também muitas outras peças de música popular (de Natal e Páscoa, por exemplo) e cânticos compostos para concertos de música sacra.

Muitos não conhecerão o nome do P. Manuel Simões, sj, e talvez se questionem de quem falamos. Outros conhecê-lo-ão por «M. Simões» e por terem visto algumas das suas melodias mais conhecidas por ele assim assinadas. Outros conhecerão este nome por via da literatura, da poesia ou até de escritos espirituais. E, por isso, perguntar-se-ão qual desses poderá ser o Manuel Simões a que nos referimos. Na verdade, todos “esses” são o mesmo M. Simões.

O P. Manuel Simões nasceu em 1924, em Pousaflores (Ansião), e entrou na Companhia de Jesus a 7 de setembro de 1942. Depois dos estudos que são parte da formação jesuítica (noviciado, estudos filosófico-humanísticos e teologia), regressou a Portugal para a comunidade do Colégio S. João de Brito e, depois, para o Instituto Nun’Alvres (hoje parte do Colégio das Caldinhas). Nestes tempos dedicou-se ao ensino da Língua e Literatura Portuguesa. A partir de 1982, fez parte do Corpo Docente da Faculdade de Filosofia de Braga (UCP) e foi titular da disciplina de Cultura Portuguesa até 1995.

Homem de cultura, e grande perito em Cultura Portuguesa, o P. Simões era um dos grandes especialistas em Camilo Castelo Branco e, por isso mesmo, a ele se deve o crescimento da Casa de Camilo, da qual foi diretor até 1982. Foi também diretor cultural e bibliotecário da Fundação Cupertino de Miranda e fundou o Centro de Estudos Camilianos.

Publicou diversos volumes na Editorial do Apostolado da Oração, entre os quais se contam o Elucidário Espiritual (1993), Em Espírito e verdade (1990), Liturgia e vida (1988) e Livro de orações coligidas dos escritores portugueses (1957). Publicou também livros com poesia sua: Canções da Vida Breve (1958), A Flor do Tempo (1962), Diálogo com a esfinge (1973), Amor situado (1974) e As raízes da noite (1976).

No campo do serviço da liturgia, o M. Simões chegou a ser diretor do Secretariado Nacional de Liturgia (que agora publica o seu livro) e membro ativo do Serviço Nacional de Música Sacra. Fez igualmente parte da equipa da Nova Revista de Música Sacra e colaborador de inúmeras publicações de caráter litúrgico e musical do nosso país. Entre elas, e dando uso aos seus conhecimentos no campo literário, contam-se as traduções para português dos textos litúrgicos que compõem o nosso lecionário e a liturgia das horas. A ele devemos as traduções de alto nível literário e poético dos salmos que escutamos na eucaristia e na oração da Igreja.

Sem estudos formais em música, o P. Manuel Simões deixou-nos uma vasta e muito variada obra musical, quase totalmente composta por peças para o uso litúrgico, mas entre as quais se contam, também, obras pensadas para concerto sacro e harmonizações e arranjos de canções populares e até de espirituais e canções de mensagem.

O livro «Ao nome de Jesus» recebe este título por vários motivos. O primeiro é, claro, a centralidade de Jesus na vida e na obra do p. Manuel Simões, e, por isso mesmo, a sua identidade profundamente jesuíta. Além disto, esta escolha sublinha a primazia da liturgia e dos textos litúrgicos na sua composição, por se tratar do início da antífona de entrada da missa de Santo Inácio (cf. Fil 2, 9-11) e também o título de um dos seus cânticos mais conhecidos.

Em qualquer obra artística, podemos encontrar traços do seu criador e o caso da música e do p. Manuel Simões não são uma exceção. Ao viajar pelo espólio que nos deixou, agora reunido nesta obra, podemos reconhecer seis traços que nos falam da sua obra.

O primeiro é a centralidade da Palavra e das palavras na sua música. Encontramos isto muito evidente ao longo das páginas deste livro, já que na sua música, e como mandam as normas litúrgicas, a «música é escrava da Palavra» e não o contrário. Percebemos claramente a sua veia literária e poética, nesta caraterística.

O segundo é o sentido frásico que destaca a centralidade do texto. Isto revela-se, por um lado, através da escolha pertinente e rica dos textos, uns sagrados, outros poéticos e da sua própria autoria. Por outro, a própria construção da melodia, que realça o sentido frásico de cada verso, criando um sentido musical lógico que destaca claramente a primazia do texto em relação à música.

O terceiro traço é o da simplicidade melódica, que define muito bem o padre Simões como um bom melodista. Sem nunca perder o sentido de cada verso, antes querendo sempre enfatizá-lo, a música deste compositor é caracterizada pela criação de melodias simples, acessíveis e fáceis de repetir à primeira audição.

Outro traço evidente é o da preocupação com o acompanhamento harmónico. Apesar de ser um ótimo melodista e de, na verdade, a maioria dos cânticos do autor funcionarem em uníssono, o compositor sentiu sempre a necessidade de deixar escrita a harmonia, como que para nos transmitir toda a robustez que tinha em mente ao imaginar aquele cântico a ser executado.

Um quinto traço muito próprio da música de M. Simões é o seu  reconhecimento da herança cultural e popular. Reconhecem-se seu conhecimento e estima pela nossa cultura e herança musicais na quantidade de harmonizações e arranjos de canções populares próprias de diferentes tempos litúrgicos: do Natal, do tempo da Paixão, do tempo Pascal, a Nossa Senhora ou ao Santíssimo Sacramento. Há ainda um vasto repertório popular, de caráter profano, também selecionado pelo padre Simões: mas este não consta da obra que agora é publicada.

Por fim, há um um sentido profundamente pastoral e livre que podemos encontrar na sua música, que se traduz num espírito prático na escolha dos textos e na sua composição musical. Isto significa que se identifica na sua música um caráter de funcionalidade que se percebe intencional: o que mais ajude a viver a celebração e o momento concreto, o que mais seja acessível e mais congregue, o que mais confira beleza sem que se torne exibição, mas sempre litúrgico no seu verdadeiro sentido (serviço do povo).

O «Ao nome de Jesus» está já disponível para compra, seja na livraria do Apostolado da Oração, dos jesuítas, seja na livraria do Secretariado Nacional de Liturgia, que a publica. Esta obra representa o justo e merecido reconhecimento da obra musical do Padre Manuel Simões, vinte e oito anos depois da sua morte. Mas também a possibilidade de dar à música deste nosso companheiro o seu sentido mais profundo e de permitir que possa cumprir o fim para que foi criada: o maior serviço e louvor de Nosso Senhor.

 

(Sede a rocha do meu refúgio, Senhor (M. Simões)

 

(Santa Maria, Senhora da luz (M. Simões)

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.