Ágora: visita poética a uma exposição

O livro Ágora de Ana Luísa Amaral é a sugestão da Brotéria para esta semana. Podemos ver esta experiência como uma espécie de visita guiada poética a uma exposição de 33 obras de arte, maioritariamente de teor bíblico.

O livro Ágora de Ana Luísa Amaral é a sugestão da Brotéria para esta semana. Podemos ver esta experiência como uma espécie de visita guiada poética a uma exposição de 33 obras de arte, maioritariamente de teor bíblico.

Ágora, espaço de encontro, dá nome ao último livro da premiada poetisa, tradutora e professora Ana Luísa Ribeiro Barata do Amaral, nascida em. 1956, editado em novembro de 2019, pela editora Assírio & Alvim.

É, de facto, de encontros que esta obra é feita, por cada poema se fazer acompanhar de uma obra de arte gráfica (em diversas técnicas como pintura a óleo, aguarela, desenho, cerâmica, mosaico, gravura, iluminura). Este diálogo interdisciplinar é a maior riqueza da obra, uma vez que somos convidados pela poetisa a acompanhá-la no que, em parte, foi a sua inspiração para as palavras escolhidas. Somos transportados para obras do passado, que influenciaram os poemas presentes, que por sua vez espelham percepções de futuro. Podemos ver esta experiência como uma espécie de visita guiada poética a uma exposição de 33 obras de arte, maioritariamente de teor bíblico.

Através das personagens e episódios da Bíblia, Ana Luísa Amaral deixa transparecer algumas inquietações relativas a Deus, fazendo-se chegar a um público ainda maior.

Através das personagens e episódios da Bíblia, Ana Luísa Amaral deixa transparecer algumas inquietações relativas a Deus, fazendo-se chegar a um público ainda maior. Propõe-nos uma Maria anunciada hesitante, por ainda se “olhar ao espelho”, mas também uma Verónica que se faz próxima de Jesus, cuidadosamente escolhendo o lenço de uma arca com “perfume de sândalo / e incenso” com que limparia Aquele que era “o rosto de todos os / que habitam os restos / e rasto da justiça”.

Havendo, como é normal, certos poemas cujo significado nos parece impossível de o alcançar sem a ajuda da autora, outros compensam por nos revelar, através de cada verso, um novo pormenor na obra de arte, que sozinhos provavelmente não apreciaríamos. Para além disso, muitos dos temas escolhidos desafiam-nos a ir investigar sobre eles, para melhor perceber a ideia de cada poema, ficando o leitor, assim, conhecedor de mais personagens e episódios que influenciaram a nossa cultura ocidental. Do confronto entre as obras de arte gráficas e a poesia de Ana Luísa Amaral, ambas as partes saem vencedoras, pois servem uma à outra, enriquecendo-se mutuamente. Contudo, é ao leitor que é generosamente oferecido o prémio desta dupla vitória: a experiência de uma leitura que não deverá ser rejeitada.

“ÁGORA” de  Ana Luísa Amaral I Assírio e Alvim 2019

144 páginas., (19.90€) – comprar aqui.

Imagem que ilustra o artigo: Gérard David, Anunciação (pormenor).

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.


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Esta secção é da responsabilidade da revista Brotéria – Cristianismo e Cultura, publicada pelos jesuítas portugueses desde 1902.

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