O setor das viagens e turismo contribuiu, em 2021, com 6,1% para o PIB global e empregou 289 milhões de pessoas em todo o mundo (WTTC, 2022). Considerando a importância deste setor em termos de impactos económicos, sociais e ambientais, a aposta deve naturalmente passar pelo desenvolvimento sustentável dos destinos, para garantir a sua sobrevivência a longo prazo, conservar o património e a biodiversidade, promover o bem-estar social e o desenvolvimento económico dos mesmos e das comunidades de acolhimento.
Verifica-se, no entanto, resistência à adoção de práticas sustentáveis, resultando frequentemente da opinião da indústria de que o turismo sustentável requer um compromisso de rentabilidade, onde os custos adicionais associados à sustentabilidade não compensam o aumento dos rendimentos económicos. Mas, na realidade, os turistas sustentáveis gastam mais, pelo que estes são um mercado de viagens a ser considerado no âmbito do marketing turístico e dos negócios, sendo que a combinação do seu comportamento pró-sustentável com o aumento dos gastos indica que este é um segmento de que os destinos podem beneficiar.
Este desenvolvimento sustentável do turismo requer a participação informada de todos os intervenientes, sendo relevante neste processo o papel das instituições e organizações governamentais, devido à importância que têm na cadeia de valor do turismo. Um exemplo de uma boa prática foi lançado pelo Turismo de Portugal, denominado “+ Turismo Sustentável 20-23”. Sob o lema “Mais do que um desafio, é o caminho”, este plano pretende posicionar Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos, seguros e sustentáveis no mundo.
Este desenvolvimento sustentável do turismo requer a participação informada de todos os intervenientes, sendo relevante neste processo o papel das instituições e organizações governamentais, devido à importância que têm na cadeia de valor do turismo.
No entanto, todas as iniciativas só trarão resultados se os próprios turistas estiverem empenhados e realmente comprometidos com a sustentabilidade, seja em termos de atitude, seja em termos de comportamento consciente, no qual as questões de sustentabilidade façam a diferença na escolha de um destino ou de uma empresa.
De acordo com o Inquérito Climático 2020 conduzido pelo Banco Europeu de Investimento, 82% dos cidadãos europeus concordam que as alterações climáticas têm impacto na vida quotidiana, sendo provável que os mesmos ajustem as suas férias para combater as alterações climáticas: 78% farão férias no seu próprio país ou num país próximo; 68% preferem comboios a aviões para viagens que demoram cinco horas ou menos; 63% voarão menos; 50% estão dispostos a sacrificar a viagem dos seus sonhos para um destino longínquo, e 40% compensarão as emissões de carbono do seu voo (um esquema voluntário em que as pessoas podem pagar para compensar as emissões de carbono que os seus voos produzem).
No que diz respeito a turistas portugueses, num estudo conduzido em 2021 (Salazar e Cardoso, 2022), a importância da sustentabilidade ambiental obteve uma média de 4,45 (escala de 1 a 5). No entanto, no que toca a decisões na escolha do destino, a influência das práticas de sustentabilidade apresenta uma média de 3,01 e, nas decisões sobre alojamento, esta média é de apenas 2,96. Ainda assim, 85,6% dos inquiridos disseram que pretendem alterar os seus comportamentos relacionados com a sustentabilidade ambiental, e 91,1% estão também perfeitamente conscientes de que poderiam fazer muito mais para melhorar o ambiente. Além disso, 60,1% considera que as pessoas só mudarão se houver consequências económicas; 69,5% considera que esta alteração de comportamento só acontecerá se as pessoas forem obrigadas; e 87,7% afirma que deve haver um maior esforço de comunicação sobre as questões da sustentabilidade.
Estes resultados indicam que, apesar da atitude dos turistas ser manifestamente favorável à sustentabilidade ambiental, e sendo a mesma vista, desde há muitos anos, como uma tendência relevante que influencia o comportamento dos turistas, a verdade é que os comportamentos estão desfasados relativamente à atitude, podendo ser apontadas algumas razões para os mesmos: a falta de opções sustentáveis, a falta de conhecimento das opções existentes, a não existência de recompensas quando escolhemos opções sustentáveis, ou a crença de que as opções sustentáveis são mais caras.
Muitas abordagens no sentido de mudar o comportamento ambiental significativo dos indivíduos têm sido experimentadas: abordagens religiosas e morais que apelam a valores e visam mudar visões e crenças do mundo; educação e formação para mudar atitudes e fornecer informação; esforços para mudar a estrutura de incentivos materiais do comportamento, fornecendo recompensas monetárias e outros tipos de recompensas ou penalidades; e gestão comunitária, envolvendo o estabelecimento de regras e expectativas partilhadas.
Com base na necessidade de práticas efetivamente sustentáveis, o desafio é assim alterar tanto os comportamentos dos turistas, como os destinos e as práticas de gestão das empresas.
Com base na necessidade de práticas efetivamente sustentáveis, o desafio é assim alterar tanto os comportamentos dos turistas, como os destinos e as práticas de gestão das empresas. Sendo a comunicação extremamente relevante para influenciar as perceções e os comportamentos, a interação entre os incentivos e a informação é assim vista como a combinação mais eficaz para que essa mudança aconteça.
Seria de esperar que um setor tão relevante como o do turismo fosse também um exemplo de boas práticas em termos de sustentabilidade. No entanto, e de acordo com o atrás descrito, podemos concluir que entre o que dizemos e o que fazemos existe nitidamente um gap.
Termino, assim, colocando uma pergunta: Qual a importância que atribui à sustentabilidade ambiental nas suas escolhas de produtos e serviços? Muita importância? Alguma importância? Ainda bem.
Ainda outra pergunta: quando escolhe um destino ou um alojamento, considera os aspetos da sustentabilidade ambiental, no seu processo de decisão? Pois….
Concluindo: quando estamos de férias, parece que o comportamento sustentável também está…
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.