O Verão sempre foi para mim aquele período excepcional em que o ano muda de ciclo – em que algo já acabou e algo está na iminência de começar. Um interregno ao longo do qual se desfruta do que passou e se projecta a esperança no que virá. E, por isso, dias de liberdade e de descoberta, mas também de contemplação e serenidade.
Entrego a banda-sonora de muitos desses dias aos Mono, uma banda japonesa que me acompanha e que cruza o post-rock com elementos de música clássica, atribuindo uma dimensão cinematográfica à sua sonoridade. Para estes dias de Agosto, recomendo particularmente uma das suas canções, “Where We Begin”, que consta de um dos seus discos mais inesperadamente luminosos (“The Last Dawn”, de 2014). Trata-se de uma canção relativamente longa (7:25 minutos), na qual uma mesma melodia arranca serena e vai ganhando intensidade, até atingir o ponto alto em que termina, repleta de amor, força e confiança – o ponto onde o “nós” começa. Não tem voz nem letras, mas também não precisa: é uma canção que enche a alma.
Esta canção serviu também de tema (e banda-sonora) para uma curta-metragem de época (dançada) com o mesmo nome, Where We Begin (2015), da realizadora independente Mitsuyo Miyazaki. Nessa premiada curta-metragem, a música dos Mono e a dança contam a história de uma mulher que, no final da vida, olha para o passado e revive o seu grande amor, do qual foi separada pela guerra. Uma elegante e belíssima história sobre como o amor liberta e dá sentido à vida.
Uma versão reduzida da canção (com 3:20 minutos) foi editada para as rádios, sendo o videoclip correspondente composto por cenas da curta-metragem. Um aperitivo imperdível, mas que não dispensa os originais – tanto a canção na sua versão extensa, como a curta-metragem.
Versão videoclip aqui.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.