O Ponto SJ e a Editorial A.O. disponibilizam um excerto do livro A caminho com Inácio, do Superior Geral dos Jesuítas. Nesta introdução, o P. Arturo Sosa explica-nos o que podemos esperar desta obra lançada a propósito do Ano Inaciano e que consiste numa conversa com o jornalista Darío Menor. A edição portuguesa deste livro será lançada hoje, sexta-feira, às 18h30, nos claustros da Universidade de Évora, um lugar emblemático da presença da Companhia de Jesus em Portugal. O evento contará com a presença do P. Provincial, P. Miguel Almeida, e será transmitido em direto aqui no Ponto SJ.
INTRODUÇÃO – Um futuro esperançoso
Este livro supôs lançar-me numa aventura. Desejo que se transforme também em aventura para os seus leitores.
É uma leitura que se pode iniciar onde nos sintamos cómodos. Pode ser interrompida onde se encontrar fruto, onde surja a presença do Senhor e se perceba que a sua voz nos fala. O livro pode supor, para o leitor, empreender um caminho onde encontre Deus de maneira nova ou escute a voz de Deus na sua vida. Não se está perante um tratado erudito de espiritualidade ou de sociologia. É um convite a «sentir e gostar das coisas internamente» [Exercícios Espirituais, 2]. É um livro que procura ajudar o leitor a crescer, arrancando do momento em que se encontra, guiado pelo Senhor e avançando, passo a passo.
O leitor vai encontrar reflexões sobre o mundo de hoje, a Igreja e a Companhia de Jesus, com forte insistência nas suas Preferências Apostólicas Universais, juntamente com algumas sugestões para a reflexão e a oração. É o modo de o convidar a fazer-se também peregrino para percorrer o caminho da aventura de ser cristão neste mundo em mudança.
Inácio de Loiola, depois de ferido em Pamplona, em 1521, converteu-se em peregrino guiado pelo próprio Senhor. O título deste livro, A caminho com Inácio, é um convite a contemplar o caminho percorrido por ele, para também nós nos fazermos peregrinos e nos pormos a caminho, deixando-nos guiar pelo Espírito. Um
convite a abrirmo-nos à graça, que limpe o nosso olhar, para nos vermos a nós mesmos, os seres humanos e a natureza com o olhar do Senhor. Deus olha com amor, misericórdia e esperança. Um olhar que renova o mundo. Unidos a ele, descobrimos, com a sua graça, a sua presença amorosa na história humana e selamos o nosso compromisso no cuidado da criação [EE. 235-237].
A contemplação do processo que levou Inácio de Loiola a transformar completamente o seu olhar e a sua vida pode-nos servir de instrumento para examinar se os nossos processos de conversão pessoal, comunitário e institucional nos estão a abrir para a novidade de um futuro cheio de esperança.
A contemplação do processo que levou Inácio de Loiola a transformar completamente o seu olhar e a sua vida pode-nos servir de instrumento para examinar se os nossos processos de conversão pessoal, comunitário e institucional nos estão a abrir para a novidade de um futuro cheio de esperança. O meu desejo é que estas páginas contribuam para irmos ao fundo no nosso exame pessoal e de grupo.
Aquela batalha de Pamplona, que deixou Inácio ferido, serviu de catalisador para iniciar nele um processo de conversão, através duma luz nova para se entender a si mesmo e à sua missão no mundo. Os seus sonhos mesquinhos de fama e fortuna desfizeram-se, as suas ilusões despedaçaram-se frente aos seus pés. O Senhor ofereceu-lhe novos ideais, sonhos e ilusões que o fariam empreender caminhos muito diferentes dos que Inácio pobremente podia sonhar.
É o que também nos pode suceder a nós. Talvez a vida nos impulsione, suave ou dolorosamente, a abandonar os pequenos sonhos que fazemos acerca da nossa vida, para nos introduzirmos na dinâmica do
magis. Essa dinâmica do magis leva-nos a aceitar o convite de Deus a unirmo-nos ao seu sonho sobre a fraternidade humana. Não se trata de fazer mais coisas, aumentando a nossa tendência voluntarista para o ativismo. O Senhor convida-nos a partilhar o seu sonho sobre este mundo, e promete sustentar-nos nessa
aventura compartilhada.
Um livro como este é fruto de colaboração. O leitor esteve sempre presente na mente dos que trabalhámos
nele. Fizemos o esforço de partilhar com simplicidade os meus pontos de vista, com o maior respeito pela cultura, vocação e itinerário vital de cada um dos leitores. Oxalá o tenhamos conseguido.
Sem a generosa colaboração de Darío Menor não teria sido possível este texto, fruto de uma série de entrevistas bem preparadas. Para isso, reunimo-nos, semana após semana, ao longo de dois meses e meio. As suas perguntas estimulantes, a sua escuta paciente, o seu profissionalismo ao captar o sentido das minhas reflexões e ao pô-las por escrito foram a chave para obter este resultado. Mil vezes, obrigado!
Quero agradecer também a colaboração eficiente, a ajuda e os conselhos dos companheiros da Cúria Geral da Companhia de Jesus, especialmente a José Maria Bernal, John Dardis, Antoine Kerhuel e Jesús Zaglui. A Pierre Bélanger, as suas acertadas sugestões de fotografias e imagens. Cristian Peralta compôs as orações que encerram cada capítulo e que são um convite a aprofundar, pessoal e comunitariamente, naquelas dimensões a que faz referência cada uma das partes do livro. Sem a colaboração de Ramón Alfonso Díez Aragón e da equipa do Grupo de Comunicação Loyola, de Espanha, não teria visto a luz o livro que tens na mão.
Desejo a todos que se sintam peregrinos durante a leitura deste livro. Prepará-lo foi para mim uma graça, e ajudou-me a ampliar os meus horizontes.
Desejo a todos que se sintam peregrinos durante a leitura deste livro. Prepará-lo foi para mim uma graça, e ajudou-me a ampliar os meus horizontes. Espero que também te ajude a ti, leitor, a olhar o mundo que te rodeia, a Igreja, a Companhia de Jesus e a tua própria vida com olhos novos, cheios de frescura. Essa é a chave de todo o caminho de renovação.
Dedico este livro aos membros do corpo apostólico da Companhia de Jesus em todo o mundo e em particular aos da província da Venezuela. Neles encontrei, durante longos anos, todo o apoio de que precisei no meu itinerário como jesuíta: deles recebi a cura apostolica e a cura personalis apropriada em cada momento. Proporcionaram-me, por sua vez, inestimáveis oportunidades de lhes retribuir quanto tinha recebido.
Durante estes anos como Superior Geral, visitei muitos países e diversos continentes. Conheci tanto jesuítas como companheiros e companheiras de missão que enfrentam todos os dias situações de escuridão e de perigo. Pessoas capazes, todas elas, de colocar as suas mãos nas de Jesus. Maravilhou-me a sua confiança, senti-me consolado pelo seu amor, a sua esperança e a sua fidelidade. Este livro é um pequeno gesto de agradecimento a todos os jesuítas do mundo, também aos nossos companheiros e companheiras na missão. Vamos juntos em frente, in nomine Domini, pondo a nossa confiança naquele que nos chama e é fiel.
Arturo Sosa, SJ
Superior Geral da Companhia de Jesus
Roma, janeiro de 2021
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.