A Bíblia tem sido a grande protagonista todos os domingos no Ponto SJ através do PRIXM. Num momento em que interrompemos, por algumas semanas, a publicação desta proposta da responsabilidade dos Frades Dominicanos da École Biblique et Archéologique Française de Jerusalém, republicamos ao longo das próximas três semanas textos sobre a Bíblia publicados originalmente na revista Mensageiro.
Saber se aquilo que a Bíblia diz é verdade é uma questão essencial! Só assim poderemos decidir o grau de confiança a atribuir aos seus textos. Porém, é necessário compreender que não buscamos uma verdade “jornalística” mas sim o desvelar de algo que aconteceu na história humana e nos torna mais autênticos.
No Antigo e no Novo Testamento há numerosos elementos que nos ligam à história dos homens: datas, lugares, personagens individuais ou colectivas! No caso de Jesus podemos afirmar com certeza histórica que existiu, que se referiu a Deus como seu Pai, falando d’Ele com autoridade através de parábolas e realizando sinais e prodígios, mesmo que isso quebrasse o preceito do Sábado. Sabemos que se aproximou dos pecadores e perdoou os pecados em nome próprio. Da mesma forma se aproximou dos doentes e marginalizados sem medo da “impureza ritual”. Jesus reuniu uma comunidade de discípulos e enviou-os em missão. Por fim, foi julgado pelas autoridades judaicas, condenado e executado pelas autoridades romanas. Podemos também afirmar que os discípulos confessaram a sua ressurreição e por essa verdade de fé deram a vida.
Se é essencial reconhecer a capacidade que a linguagem metafórica tem para nos ajudar a captar as verdades existenciais, é indispensável uma “arte de interpretar”. A recta interpretação da Escritura é uma necessidade, não uma arbitrariedade.
Então, o essencial daquilo de que a Bíblia fala acontece na História e no planeta Terra, não numa fábula imaginária na “terra do nunca”… Contudo, na Escritura existe também poesia, prosa ou textos apocalípticos que nos falam de uma realidade sobretudo interior e espiritual, através de lugares e personagens não históricos, mas sim destinados a ajudar-nos a crescer espiritualmente, encontrando o nosso lugar na História. Se é essencial reconhecer a capacidade que a linguagem metafórica tem para nos ajudar a captar as verdades existenciais, é indispensável uma “arte de interpretar”. A recta interpretação da Escritura é uma necessidade, não uma arbitrariedade. Fazemos uma interpretação correcta tomando em conta aquilo que os autores humanos quiseram dizer e aquilo que Deus quer dizer. A tradição católica foi amadurecendo alguns critérios de interpretação que nos ajudam a buscar o verdadeiro sentido dos textos: prestar atenção ao conteúdo e unidade de toda a Escritura; ler a Escritura na tradição viva da Igreja; atender à coesão das verdades da fé entre si e no projecto total da Revelação. A verdade da Bíblia é a sua capacidade de semear e fazer crescer a verdade na nossa história!
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.