A Brotéria de janeiro tem uma cara nova, mas o desejo de olhar, em profundidade, para a atualidade política, religiosa e cultural mantém-se o mesmo.
Dois textos retomam dois debates essenciais sobre a reforma do Estado: Manuel Braga da Cruz explica-nos a história do método português de eleger deputados e propõe audaciosamente como reformá-lo (“O impasse da reforma do sistema eleitoral”). Depois, Cristina de Azevedo olha criticamente para a descentralização em curso e dá soluções para ganharmos eficiência no serviço que o Estado presta à população (“Descentralizar o Estado para servir melhor”).
Abrindo a revista, um ensaio corajoso de Viriato Soromenho-Marques, onde o autor questiona “onde estiveram as universidades durante as décadas em que esta crise ambiental e climática foi acumulando gravidade até atingir a presente e dantesca escala que ameaça esmagar o planeta e a história humana?”. Num outro texto de fundo, Maria Luísa Ribeiro Ferreira revisita o Livro de Rute numa perspetiva feminina, não feminista, de habitar a bíblia. Já os padres Francisco Mota SJ e Vasco Pinto Magalhães SJ refletem respectivamente sobre “Verdade e Tradição: velhas questões, novas respostas”; e sobre “O descanso em tempo real”.
A quem sempre achou a palavra brotéria um vocábulo incompreensível, Francisco Malta Romeiras explica quem foi Brotero e porque é que os jesuítas lhe dedicaram a sua revista (“De Brotero à Brotéria”) e quem se interroga sobre o subtítulo da revista, “Cristianismo e Cultura”, responde o Editorial (“Fé, cultura e cidade”, escrito por António Júlio Trigueiros SJ, diretor da Revista). O caderno principal contém ainda uma declaração de amizade do Nuno Malheiro Sarmento a Luiz Pacheco, o editor que descobriu Herberto Hélder e traduziu Tckékhov, mas que continua a ser mais conhecido por ter riscado “a vermelho na vida por cima de muito daquilo que considerava palha” (“Luiz Pacheco: o resultado de querer ser livre em português”). Finalmente, Teresa Chow oferece uma visita guiada à antiga biblioteca da Brotéria através das suas fotografias e Manuel Cardoso SJ interroga-se: “Porque vemos séries?”.
Dos dezasseis textos do caderno cultural, não se pode deixar de ler Samuel Silva sobre o inesperado Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso (“A marca faz o território: Dois museus, o mesmo chão”) e a apreciação exigente de Joaquim Sapinho ao mais recente filme de Scorsese, “O Irlandês”.