O P. Hans Zollner, sj é presidente do Centro de Proteção de Crianças da Universidade Gregoriana, em Roma, que em setembro passará a ser designado como Instituto de Antropologia e Estudos interdisciplinares em Dignidade Humana e Cuidado. Este novo estatuto reforçará as possibilidade académicas e de formação deste organismo, como formação em Psicologia e Teologia. O jesuíta alemão é também membro da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores (PCPM)
Numa entrevista gravada aquando da sua recente vinda a Portugal, Hans Zollner reconhece o que já foi feito no nosso país com vista ao desenvolvimento de políticas de proteção, mas diz que “Portugal está ainda no começo do processo de lidar com o passado e de reconhecer que poderá haver mais situações de abuso daquelas que foram conhecidas até agora”. O sacerdote jesuíta é claro quanto ao que falta fazer: “o mais importante de tudo é criar um ambiente de confiança. As pessoas aproximam-se para falar de experiências traumatizantes apenas se se sentirem suficientemente seguras. É preciso comunicar com clareza que estas pessoas são bem-vindas e que há disponibilidade para acompanhá-las de verdade, uma vez que tomem a decisão de falar sobre o assunto.”
Nesta conversa, são também referidos alguns exemplos de países que geriram bem estes processos. Nomeadamente, são apontadas as comissões independentes cridas pelos bispos da Áustria e da França e que têm ajudado a responder de um modo mais adequado ao que é pedido pelas vítimas. Hans Zollner fala também da necessidade da conversão espiritual e dos cuidados que se deve ter no processo de seleção de religiosos e sacerdotes e no seu acompanhamento ao longo de toda a vida: “Uma coisa que também concluímos, de forma algo surpreendente, é que os religiosos e padres abusadores têm em média à volta de 40 anos. O que significa que este é um tema de formação permanente. É importante que as pessoas aprendam a lidar com a sua solidão.” Por outro lado, é também mencionado o que deve ser feito pela Igreja no acompanhamento dos abusadores para evitar que voltem a reincidir nessa prática.
De um modo algo inquietante, é reconhecido nesta entrevista que, durante o tempo da pandemia, “a proteção de crianças mereceu muito pouca preocupação por parte dos diferentes governos e instituições. As crianças foram basicamente esquecidas pela sociedade.” O presidente do Centro de Proteção de Crianças da Universidade Gregoriana refere ainda com preocupação o aumento muito significativo de formas de abuso online durante o tempo da pandemia, em toda a sociedade e em diversas partes do mundo.
O P. Hanz Zollner salienta ainda a importância das recentes alterações ao Código do Direito Canónico e termina a entrevista referindo-se ao trabalho desenvolvido pelo Instituto a que preside na Universidade Gregoriana.
Captação de Imagem e som: ©️ António Lopes Edição de vídeo: ©️ João Pedro Filipe