Testemunhos
Acho que as palavras mais ditas da minha vida, de momento, devem ser “Rabo de Peixe”… quem me rodeia já nem me deve poder ouvir falar desta terra, meio perdida no atlântico.
Desde sempre que me lembro de ouvir falar de Rabo de Peixe, através de pessoas próximas a mim, como uma (tão especial) educadora primária que falava tantas vezes da colónia de férias que lá fazia. Acho que foi logo aí que o bichinho foi entrando.
E agora? Passados tantos anos, esta vila que me era distante, entrou pela minha vida e transformou-me. Pode parecer um cliché mas a verdade é que cada vez que lá estou, sinto que aprendo mais sobre a vida, sobre as pessoas e sobre mim mesma. Se há povo que me mostra que existem formas de felicidade que eu nem imaginava antes, são os Rabpeixinhos e sem dúvida que é algo que levo comigo todos os dias.
É impossível falar de Rabo de Peixe sem mencionar a força e a resiliência das suas pessoas, que enfrentam os desafios com coragem e determinação.
Além disso, a vila é um exemplo vivo de como as dificuldades se podem transformar em oportunidades e é, principalmente, nas crianças que vemos isto. São crianças talentosas, enérgicas e com tanta vontade de sonhar.
E é mesmo isso que tentamos fazer aqui.. Deixa-las sonhar!!
Para mim, estar em Rabo de Peixe é um lembrete diário de que a simplicidade pode ser extraordinária. Há algo único na forma como as pessoas valorizam o essencial: as conexões humanas, a natureza e as tradições. (Juro que ninguém festeja como eles!!)
É impossível sair de lá sem levar um pedacinho deste espírito no coração.
Rabo de Peixe Sabe Sonhar… sabe mesmo!!!
Ser Rabo de Peixe Sabe Sonhar vai muito mais além de uma função para mim, é um propósito de vida. Em 5 anos nesta Associação, vivi e vivo momentos de intensa emoção – aprendi, cresci e deixei-me encantar por esta Vila colorida.
Ser presidente é uma honra, mas é a experiência do dia a dia com esta comunidade que realmente me transforma.
A magia está em cada rosto que se ilumina com um sonho, em cada gargalhada que ressoa pelas ruas, em cada mão que se estende para ajudar. Aqui, redescobri o valor das coisas simples: brincar, cuidar e acreditar que sonhar está ao alcance de todos. É inspirador ver como o amor e a confiança podem impactar uma comunidade inteira e como a alegria de um porto cheio de esperança contagia todos os que por aqui passam.
Rabo de Peixe tem uma energia única, uma resiliência que nos relembra que crescer não precisa de ser sinónimo de abandonar o espírito infantil de querer voar.
Em cada projeto, decisão, visita à Vila, em cada sonho que vivo ao fechar os olhos todas as noites, reitero esta certeza: o meu lugar passa por aqui.
É desta associação e desta Vila, de tudo o que me ensinam continuamente todos os dias, que eu me quero encher e formar. Deixar que me molde pelos pilares da gentileza, generosidade, alegria, perseverança, Amor e serviço.
Levar comigo para sempre este quentinho no coração de ser Rabo de Peixe Sabe Sonhar.
Rabo de Peixe Sabe mesmo Sonhar, somos nós que aprendemos todos os dias com eles.
No meio de uma vila que pode por vezes ser muito agitada ou até confusa, no meio de ruas repletas de gente a falar alto, no meio de um porto cheio de crianças a correr e a nadar, no meio de docas cheias de peixe e barcos que partem de madrugada, no meio de casas cheias de irmãos, primos e tios, no meio de todos estes lugares há sorrisos, há entreajuda, há colo, há preocupação, há cuidado, há carinho, há abraços intermináveis, há olhares agradecidos, há olhos sorridentes, há amor.”
Escrevi estas palavras há cerca de cinco anos e agora, ao celebrar os 20 anos da Associação, senti necessidade de as repescar. A Associação surge após uma visita à Vila e toda a sua base, desde valores, objetivos e formas de atuar, foi inspirada neste encontro. Assim sendo, não podemos celebrar uma sem a outra. Pelo contrário, é curioso o facto de a Associação ter sido criada para contribuir para o desenvolvimento de uma Vila e ser esta mesma Vila que, a cada ano, lhe dá força e ânimo para continuar a fazer caminho.
O que é para mim a Associação? Tudo o que referi, alegria, entreajuda, preocupação e cuidado, carinho, gratidão e, acima de tudo, um ato de amor.
Mas, como sabemos, o amor implica também sacrifício. Foram e são ainda hoje muitos os desafios que a Associação enfrenta, há alturas mais exigentes em que sentimos a nossa confiança abalada. Eu senti isso várias vezes ao longo dos anos. No entanto, nesses momentos, era a própria Vila que renovava as minhas energias, das formas mais simples e inesperadas, mas que têm uma força e impacto inimagináveis.
De coração cheio de memórias e sonhos para o futuro, celebro esta ligação que Deus estabeleceu e confio que continuará a ser um contributo para a construção do Seu Reino.
Entrei para o projeto Rabo de Peixe Sabe Sonhar (ainda não era associação) em 2011.
Já conhecia o projecto, a minha família estava envolvida na organização do grande Arraial em Lisboa e alguns primos e irmãos já tinham feito colónia de férias, lembro-me que me fascinava a entrega e a dedicação das pessoas durante as atividades de angariação de fundos e a forma apaixonada como falavam sobre Rabo de Peixe.
Em 2011 depois de alguns anos a ajudar em algumas atividades de angariação de fundos, tinha finalmente idade para entrar no projecto.
No primeiro ano surgiu-me um imprevisto e não pude fazer colónia de férias, por isso a minha espera para conhecer aquela vila teve de se estender mais um ano.
Em 2013, finalmente parti para a tão ansiada colónia de férias. Foram necessários alguns voluntários para ir mais cedo e eu tive a sorte de ser um desses voluntários. Quando cheguei a Rabo de Peixe lembro me de sentir um misto de excitamento e medo… finalmente iria conhecer a vila que de formas tão apaixonadas tinha ouvido falar mas ao mesmo tempo tinha medo de não ser capaz de fazer a colónia (será que as crianças me iam obedecer, será que iam gostar de mim, será que ia aguentar o cansaço?)
Quando finalmente cheguei à vila lembro-me de ser surpreendido, esperava um sítio feio, sujo, e com pessoas com olhar desconfiado (não me perguntem porquê mas era o que imaginava quando me diziam que era um sítio pobre).
Lembro-me das reações quando chegávamos a cada rua e a cada casa, um acolhimento e uma alegria que nunca tinha visto em toda a minha vida, a nossa chegada significava que se estava a aproximar o mais esperado momento do verão “A colónia”.
Ver as crianças na rua a brincar era sentir toda a vida que havia naquela vila, e quando vinham brincar connosco era descobrir que havia sempre mais uma para nos saltar para as costas…
Lembro-me das portas abertas para nos receberem em suas casa e a alegria para nos apresentarem os bebés que tinham nascido durante o ano ou para nos mostrarem como as crianças tinham crescido durante o ano.
A generosidade e alegria das pessoas simples e humildes confirmavam que a espera tinha valido a pena.
Lembro-me que tivemos uma atividade de formação para os adolescentes que nos iriam ajudar a animar na colónia e ouvir os seus testemunhos e ver a sua dedicação mostravam-me como aquela semana marcava a vida dos participantes da colónia. Mais tarde descobri que também marcava a vida dos que a organizavam.
Ter conhecido a vila de Rabo de Peixe e ter animado a sua colónia de férias, tornou-me uma pessoa que procurava viver a vida com simplicidade, os momentos que lá se viviam faziam presenciar os ensinamentos de Jesus que nos manda ambicionar as coisas simples. Naqueles oito dias sentia que se construía o reino de Deus.
Acho que o grande desafio durante a colónia foi estar centrado na minha Missão. O que estava lá a fazer não era para me fazer sentir o preferido das crianças, estava ali para capacitar, para formar, era mais fácil fechar os olhos a uma traquinice de uma criança do que me zangar com ela por o ter feito, mas ajudo-a mais se me zangar e ensinar que não o deve fazer, esses eram os verdadeiros contributos ao seu crescimento (isto torna-se mais desafiante quando são várias traquinices, várias crianças e vários dias), mas no fim vale a pena. Acho que muitos dos grandes amigos que lá fiz foram aqueles com quem me zanguei mais, aqueles de quem tive de correr atrás quando se zangavam e corriam para “fugir da colónia”, porque no fim eles reconheciam que o que fazíamos era porque os queríamos muito e queríamos que conseguissem o melhor de si próprios.
Uns anos mais tarde voltei a Rabo de Peixe, mantinha contacto com algumas das crianças que tinha animado e que facilmente descobri que já não eram crianças quando lá cheguei… Contudo, a nossa entrega e as experiências que lhes tínhamos transmitido estavam cravadas na sua maneira de se relacionar com os outros, com as suas namoradas(os), maridos, mulheres, alguns já com os seus filhos. Durante o tempo em que estive envolvido no projeto, descobri a expressão de Santa Rafaela Maria “Educar com ternura e firmeza”, a colónia era para mim o exemplo mais concreto dessa expressão.
Fazer parte de um grupo com uma missão comum é para qualquer pessoa uma experiência enriquecedora. Ter o privilégio de pertencer a equipas de animadores compassivos e dedicados, cujo compromisso é para com outra comunidade, em especial para com as suas crianças, é verdadeiramente impactante e gratificante.
Durante 7 anos (2015-2022) dediquei-me ativamente a esta associação – quando o plano é capacitar e promover a esperança de um futuro melhor mas a aprendizagem e o crescimento são mútuos, estás a dispor do teu tempo e empenho no sítio certo.
Guardo as pessoas e os momentos vividos e, hoje, sinto que pertenço, para sempre, a esta associação, a esta família, a esta vila.
“Cheguei hoje à conclusão que a minha primeira colónia foi há 10 anos! Na altura em que entrei no projeto não sabia muito bem para o que é que ia… Tinha ouvido falar muitas coisas, mas Rabo de Peixe é uma realidade que não dá para explicar, só se percebe estando lá!
Fala-se muito da dura realidade de Rabo de Peixe, da violência, das drogas, da falta de amor e de princípios. Mas pouco se fala dos bons exemplos que há naquela vila. Dos pais que se esforçam todos os dias para que os filhos possam estudar e terem uma vida melhor do que as deles. Dos adolescentes que escolhem estudar em vez de estarem preocupados em arranjar um namorado e engravidar aos 16 anos. Das avós e tias que se encarregam das crianças porque os pais não o podem fazer. E, principalmente, da enorme alegria que há em todas aquelas pessoas!
Sim, Rabo de Peixe tem uma realidade difícil, mas tem também muitos “Heróis” com um coração enorme. Agora, passados 10 anos, sei de algumas crianças com quem tive, e que hoje já são jovem adultos, se deixaram contagiar pelos bons exemplos das pessoas que as rodearam…
Rabo de Peixe marcou a vida minha de uma forma especial. Guardo no meu coração cada dia que lá estive e cada sorriso que me proporcionou.
Pertencer à Associação Rabo de Peixe Sabe Sonhar é estar com os pés na terra, mas sonhar sem limite. É caminhar na direção da concretização dos sonhos. É aprender que existem diferentes formas de AMAR. É aprender que o AMOR não se transmite apenas pelo afeto, mas também pela nossa presença e constante dedicação.
Neste meu caminho conheci uma vila, no meio do oceano, onde a alegria, o abraço acolhedor se torna em abraço-casa.
Em equipa, como se nos conhecêssemos todos desde sempre, arregaçamos as mangas e trabalhamos com o objetivo de proporcionar o melhor às crianças e famílias que se cruzam no nosso caminho.
Cada vez que volto a Rabo de Peixe venho com um sorriso, uma felicidade e uma alegria incomparáveis.
Por fim, Rabo de Peixe sabe Sonhar; Amar; Acolher; Nadar; Dançar; Brincar… Sabe tudo!
Apesar de nunca ter ido à maravilhosa vila de Rabo de Peixe, sinto que já viajei até lá diversas vezes. Através de todas as feiras, atividades de angariação de fundos, convívio e partilha com tantas pessoas fantásticas que já viveram a experiência! É incrível como a saudade e o amor estão tão vincados nos seus discursos. É incrível como esta associação nos faz crescer e nos torna pessoas melhores, atentos às necessidades do outro. E, como não podia deixar de ser, é incrível como Rabo de Peixe me faz sonhar!