Foi no dia 8 de setembro de 1958 que Domingos Monteiro da Costa entrou na Companhia de Jesus. Há 60 anos, quando decidiu ser jesuíta, o pároco da Mexilhoeira Grande não adivinhava que, em 1975, três anos depois de ser ordenado padre, seria enviado para o Algarve e, muito menos, que aí construiria a obra social e pastoral da sua vida, reconhecida por entidades públicas e eclesiásticas, dado o seu impacto no desenvolvimento da região.
Foi precisamente num dos pontos chaves dessa obra – a Aldeia de São José de Alcalar – que o P. Domingos, natural de Celorico de Basto, decidiu fazer aos 78 anos a celebração e comemoração dos seus 60 anos de jesuíta. No sábado, dia 8 de setembro, familiares, amigos, companheiros, colaboradores da paróquia e entidades oficiais juntaram-se para homenagear este dinâmico jesuíta e com ele festejar esta data tão importante.
Os festejos começaram pelas 18.00 com um momento de acolhimento aos convidados onde o P. Domingos começou por agradecer a presença de todos e tudo o que foi recebendo ao longo da sua vida de padre, no encontro com tantas pessoas e situações distintas. Num ambiente de proximidade e convívio, destacou ainda os que já faleceram mas não podiam ficar esquecidos nesta celebração, e agradeceu a presença dos representantes autárquicos: a presidente da Câmara Municipal de Portimão, a vereadora para a Ação Social e o executivo da junta de freguesia.
Coube ao P. Nuno Tovar de Lemos, sj, superior da comunidade da Nossa Senhora da Estrada, a que o P. Domingos pertence, proferir algumas palavras. O sacerdote agradeceu sobretudo o facto de ter escolhido a Companhia de Jesus: “é um privilégio ter o P. Domingos como companheiro jesuíta, pelo seu dinamismo e sobretudo pela sua vida.” Fez ainda questão de mencionar que muitos jesuítas não puderem estar presentes, entre eles o provincial, P. José Frazão Correia, sj que no mesmo dia presidia aos últimos votos de dois Jesuítas em Braga. O padre provincial enviou uma mensagem de apreço ao companheiro jesuíta, e D. Manuel Quintas, Bispo do Algarve, endereçou também palavras de estima e estímulo ao P. Domingos por este aniversário e pelo trabalho desenvolvido na diocese.
Na sua intervenção, a presidente da Câmara de Portimão aproveitou para recordar o voto de louvor aprovado, por unanimidade, pela autarquia. Isilda Gomes fez questão de destacar a obra e a sensibilidade social do P. Domingos, afirmando que o trabalho na Mexilhoeira Grande “é uma referência social para o Algarve”. Referiu-se à Aldeia de São José de Alcalar como “uma obra única, talvez até a nível mundial.”
“Ninguém escolhe nada. Tudo é dom.”
Neste dia de festa foi também celebrada uma eucaristia de ação de graças. Durante a homilia, o P. Domingos partilhou com todos as razões de ser cristão, padre jesuíta e pároco da Mexilhoeira Grande. Ao explicar as razões da sua fé cristã, sublinhou: “Ninguém escolhe nada. Tudo é dom. A minha graça foi ter nascido e crescido numa família e numa paróquia profundamente cristãs, a quem me sinto imensamente agradecido, por terem sido os meus primeiros e maiores bem-feitores!” O ser padre, acrescentou, “também não é mérito meu”, enfatizando: “Dependemos sempre – para o melhor e para o pior – de outros! A mim coube-me a responsabilidade de estar atento a ‘sinais’, que me vieram – soube-o posteriormente – de Deus, através de outros.”
Quanto ao facto de ser jesuíta, o P. Domingos recordou o início da sua vocação. “Foi o Senhor que me levou à Companhia de Jesus, servindo-se de dois rapazes, um pouco mais velhos do que eu, um dos quais era meu vizinho, com quem e em cuja casa eu brincava aos domingos, de tarde. Andavam os dois na Escola Apostólica, em Macieira de Cambra. Foram eles que fizeram o contacto com o P. Abel Guerra, que era o reitor. Foi uma enorme alegria, quando soube que ele me visitaria, na tarde de um domingo de agosto de 1953, para me examinar. Quando, após umas perguntas, sobre geografia, matemática, português e história, me disse que me admitia, respondi-lhe: ‘Os meus pais não podem pagar a mensalidade! Venha a nossa casa ver a nossa pobreza!’ E ele respondeu-me: ‘Nem eu nem o Senhor queremos o teu dinheiro! Queremos-te a ti!”
Foi o Senhor que me levou à Companhia de Jesus.
Quanto ao facto de ser pároco, explicou: “Também não fui eu que escolhi a Paróquia da Mexilhoeira Grande, há 43 anos, nem ela que me escolheu, como pároco! Devemo-nos uns aos outros e todos a Deus, que veio e vem até nós, através de outros.” O P. Domingos terminou a sua homilia citando Santo Inácio de Loiola: “Ninguém sabe o que Deus faria de nós, se não opuséssemos tantos obstáculos à Sua graça”.
Depois da missa, houve um jantar convívio em que participaram mais de cem pessoas.
ENTREVISTA
“Fazer parte de um corpo dá-nos uma força interior fantástica”
Uns dias antes da festa de 60 de jesuíta, o Ponto SJ conversou com o P. Domingos sobre o significado desta data. Durante vários anos, o jesuíta foi acompanhado na sua missão no Algarve pelo P. Arsénio Silva, sj que morreu em maio de 2012, e que desenvolveu a sua ação em Portimão. Mas desde sempre que Domingos sonhava com a abertura de uma comunidade apostólica da Companhia de Jesus no Algarve. O que veio a acontecer em setembro de 2016 com a abertura da Comunidade de Nossa Senhora da Estrada, em Portimão. A alegria por esse facto fica bem patente nesta pequena entrevista.
Que significado têm estes 60 anos como jesuíta?
Tem sido um tempo maravilhoso e de muita luta, de adversidades e vitórias, de frustração em alguns momentos da minha vida. Mas, agora, também muito consolado, sobretudo porque foi possível que com a nova comunidade (aberta em 2016) a Companhia de Jesus «regressasse» ao Algarve 216 depois de ter sido expulsa do Colégio de Portimão.
Com a nova comunidade e o seu dinamismo tem sentido mais companhia?
Com certeza. Já antes sentia essa necessidade de ter companheiros com quem pudesse partilhar e dialogar. E isto tem trazido uma enorme riqueza para as paróquias da Mexilhoeira Grande e de Nossa Senhora do Amparo.
Ao assumir esta missão no Algarve de um modo mais decidido e ligada a paróquias, a Companhia também se voltou para as periferias.
Como foi possível alimentar a pertença à Companhia de Jesus (mesmo tendo perto o P. Arsénio), vivendo “tão sozinho”?
Isso entrou-me por osmose pela formação da Companhia de Jesus desde o noviciado. Mas a educação da minha família também ajudou. Tive uma educação muito austera, a Companhia reforçou isso, e o ter estado na Alemanha também me ajudou a consolidar uma boa disciplina. Assim, para além da disciplina interior que aprendi com os exercícios espirituais, aprendendo a ver Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus, tenho a consciência de fazer parte de um corpo e isso dá-nos uma força interior fantástica. E foi isso que me alimentou e me manteve na esperança de que um dia se faria luz. E fez-se luz, a Companhia acabou por se converter. Sabemos que as paróquias andaram um pouco na periferia da Companhia. E nesse sentido, ao assumir esta missão no Algarve de um modo mais decidido e ligada a paróquias, a Companhia também se voltou para as periferias.
O que mais agradece e que testemunho gostaria de deixar destes anos de vida religiosa?
Agradeço o facto de ser jesuíta e peço aos que vão começando este caminho que não desistam de lutar, lutem sempre.
O P. Domingos Monteiro da Costa entrou na Companhia de Jesus a 8 de setembro de 1958. Natural de Celorico de Basto, foi ordenado sacerdote em 1972 e, três anos depois, foi enviado para o Algarve onde tem desenvolvido grande parte da sua ação pastoral. Em especial, na Paróquia da Mexilhoeira Grande, onde a sua ação como pároco ficou marcada pelo desenvolvimento de diferentes estruturas socais que tiveram um enorme impacto no desenvolvimento da região.