Páginas de Serviço

O objetivo último do estudo é sempre fazer com que a pessoa saia da vida académica mais rica. E isto não significa que se torne melhor do que as outras, mas que se reconheça mais como ela própria.

“Tenho de trabalhar!”

Neste tempo em que parece que o que fazemos é sempre contra o relógio, os estudantes repetem esta frase exaustivamente, quase como tónica de motivação para os “afazeres” diante da secretária.

É engraçada a forma como, para muitos, tudo depende de que aquele exame, aquele trabalho ou apresentação sejam feitos e bem feitos. Parece que o Juízo Final chegou antes do tempo justo. Não quero com isto dizer que as coisas do estudo não tenham a sua importância – têm; mas pode surgir um problema, quando realmente são tiradas da medida certa e se tornam “sopra-valorizadas”.

O determinante no estudo, como em tantas coisas da vida, é a forma como olhamos para ele – e creio que, no final de tudo, também isso influencia os resultados finais, desta ou daquela disciplina, muito embora isso não seja o mais importante. Por isso, a oportunidade de poder ver no estudo uma forma de serviço é um desafio, mas ao mesmo tempo um caminho para ver bons frutos futuramente.

Já dizia Aristóteles que o fim de determinada ação já se encontra no princípio. Então, a primeira coisa a fazer é clarificar as razões porque estudo. E, só o facto de a pessoa se dispor a pensar nisso, já faz uma diferença brutal. Porque a resposta nunca será “para ter boas notas” (embora isso também seja importante à sua medida), mas será sempre uma finalidade além do estudo: possivelmente para fazer alguma coisa com a vida. Os trabalhos académicos e os testes não são para ficar na escola, até porque todos queremos sair de lá, para ir trabalhar para algum sítio, o mais rapidamente possível. Portanto, tudo na vida académica passa, o que fica é sempre uma estrutura de bons hábitos e também alguns conceitos que depois serão, de facto, usados nos trabalhos futuros. De qualquer forma, diria que duas coisas são fundamentais para vermos no estudo uma oportunidade de crescimento e não um suplício, sobretudo para aqueles que não gostam de estudar. Isto é: viver o momento e rever-me naquilo que faço.

Viver o momento é o mesmo que dizer que os “fretes” não levam a lado nenhum, seja diante de uma cadeira que detesto, seja diante de uma que me dá o maior gozo intelectual. Aprender a investir é uma sabedoria prática, é uma questão de atitude interior no final de contas. O fim nobre de fazer qualquer coisa com a vida justifica um olhar de confiança sobre a vida, estudo e tudo dependerá disto. As coisas que leio, releio, memorizo ou escrevo terão sucesso, na medida da própria dedicação e o “ser bem sucedido” não significa ter a melhor nota de todas, mas o perceber o que é que daquele trabalho todo vai comigo para a frente. Diz-se que, de tudo o que se memoriza, escreve ou faz para os testes, fica apenas 7%, após a vida académica. Não sei se é verdade ou não! Mas sei que se o mínimo dos mínimos me tiver ajudado a desenvolver métodos de trabalho e competências e me tiver dado, pelo menos, uma ou outra noção fundamental, já se pode dar por certo de que não foi tempo perdido.

Uma outra lente para ver o estudo é o “rever-se naquilo que se faz”. Aqui, mete-me diante de tudo o que são as questões dos interesses pessoais, do descobrir-me a mim mesmo, do fazer um caminho de integração pessoal e de crescimento. Diante disto, é fácil perceber que os frutos virão de certeza. É preciso ter paciência! Será sempre, a partir da pessoa que se encontra consigo mesma, que se poderá vir a contribuir com qualquer coisa para os outros. O objetivo último do estudo é sempre fazer com que a pessoa saia da vida académica mais rica. E isto não significa que se torne melhor do que as outras, mas que se reconheça mais como ela própria.

Finalmente, fica a motivação para nos atirarmos para o meio das páginas dos estudos e fazer alguma coisa com isso. No final, tudo dependerá da forma como encaramos as coisas. Se a nota foi conforme às expectativas, isso pode passar ao lado; mas o que fica daquilo que se fez, que foi um trabalho sério e com cabeça e coração, isso sim, será uma boa coisa a reconhecer.

Portanto, em frente!!!

 

 

Foto: Alfons Morales, Unsplash