1. Ouve
De onde vêm e quem são?
A Companhia de Jesus – Jesuítas – é uma ordem religiosa da Igreja Católica de padres e irmãos. Foi fundada por Sto. Inácio de Loyola e seus companheiros em 1540. A sua finalidade geral é a procura do maior serviço a Deus e à Igreja, colocando-se inteiramente à disposição do Papa. Assim, toda a atividade dos jesuítas visa a evangelização do mundo e, mais concretamente, a defesa da fé e a promoção da justiça em permanente diálogo cultural e inter-religioso. A finalidade particular da Companhia de Jesus para cada membro é que atinja a perfeição cristã numa identificação crescente com Jesus Cristo e que se dedique com a mesma intensidade à perfeição dos outros. Para tal, o caminho proposto é o da espiritualidade inaciana. Ou seja, um modo de viver, estar e trabalhar que estejam imbuídos da pedagogia e sabedoria espiritual contidas nos Exercícios Espirituais segundo Sto. Inácio de Loyola.
O maior segredo dos jesuítas encontra-se numa história de amor que nós gostamos de contar. Uma história de amor com Deus que começou com Sto. Inácio de Loyola que logo a transmitiu a outros. Desde o início, esta história iluminou a vida de muitas pessoas com quem Inácio tinha contacto. Com a naturalidade que caracteriza as coisas de Deus, acabou por juntar amigos, ganhar corpo e transformar-se numa ordem religiosa. Surgiu a Companhia de Jesus. De então até ao presente, nos seus quase quinhentos anos de história, o que move a Companhia de Jesus não é senão repetir e revivificar essa história de amor contando-a a outros e iluminando as suas vidas assim como ilumina a de cada jesuíta. A espiritualidade inaciana, afinal, não é senão uma narrativa viva que, quando transmitida e posta em contacto com a vida concreta das pessoas de hoje, lhes dá sentido, significado e visão no meio deste mundo fragmentado por tensões.
Tudo começou pela experiência pessoal de Inácio de Loyola, um jovem da nobreza basca do séc. XVI. Pouco dado às coisas espirituais e mais dado a sonhos mundanos, Inácio foi notando estados interiores diferentes: quando pensava nas coisas do mundo, sentia um contentamento momentâneo mas depois acabava e sentia-se vazio e insatisfeito; quando pensava nas coisas de Deus, elas deixavam em si um rasto persistente de ânimo.
Percebeu então que Deus se tornava próximo e se manifestava através de sinais interiores. E dispôs-se a procurar a vontade de Deus até às últimas consequências. Com o tempo, foi aprendendo que esta procura se fazia em ambiente de conflito e de movimentos interiores contraditórios. E teve que aprender a distinguir os sinais de Deus. Com a experiência ganha, foi registando e sistematizando regras para o ajudar nesta interpretação. E pôde começar a ajudar outros a fazer o mesmo. Foi assim que surgiu o pequeno mas denso livro dos Exercícios Espirituais: o coração da espiritualidade inaciana traduzido em palavras.
A sede de “salvar as almas” levou a que Sto. Inácio e, depois, toda a Companhia de Jesus, fossem propondo os Exercícios Espirituais a um número cada vez mais alargado de pessoas: um método com passos bem medidos, normalmente concretizado em retiro de silêncio de vários dias, com vista ao encontro com Deus, para melhor o conhecer, mais o amar e, em sintonia com a Sua vontade, melhor o seguir. Se nos inícios os frutos eram evidentes, hoje não é diferente: os tempos são outros mas as tensões interiores são as de sempre. Basta olhar para a Companhia de Jesus mas também para todo um conjunto de institutos religiosos e muitos grupos de leigos que surgiram numa forte identificação com a espiritualidade inaciana e que, nos dias de hoje, se continuam a alimentar dessa fonte inesgotável. Os Exercícios Espirituais continuam assim a ser a matriz que estrutura e alimenta a forma como os jesuítas simultaneamente aprofundam a relação com Deus e olham e intervêm no mundo. E com eles, muitas pessoas que bebem da espiritualidade inaciana.