Entrei para o projecto Rabo de Peixe Sabe Sonhar (ainda não era associação) em 2011.
Já conhecia o projecto, a minha família estava envolvida na organização do grande Arraial em Lisboa e alguns primos e irmãos já tinham feito colónia de férias, lembro-me que me fascinava a entrega e a dedicação das pessoas durante as atividades de angariação de fundos e a forma apaixonada como falavam sobre Rabo de Peixe.
Em 2011 depois de alguns anos a ajudar em algumas atividades de angariação de fundos, tinha finalmente idade para entrar no projecto.
No primeiro ano surgiu-me um imprevisto e não pude fazer colónia de férias, por isso a minha espera para conhecer aquela vila teve de se estender mais um ano.
Em 2013, finalmente parti para a tão ansiada colónia de férias. Foram necessários alguns voluntários para ir mais cedo e eu tive a sorte de ser um desses voluntários. Quando cheguei a Rabo de Peixe lembro me de sentir um misto de excitamento e medo… finalmente iria conhecer a vila que de formas tão apaixonadas tinha ouvido falar mas ao mesmo tempo tinha medo de não ser capaz de fazer a colónia (será que as crianças me iam obedecer, será que iam gostar de mim, será que ia aguentar o cansaço?)
Quando finalmente cheguei à vila lembro-me de ser surpreendido, esperava um sítio feio, sujo, e com pessoas com olhar desconfiado (não me perguntem porquê mas era o que imaginava quando me diziam que era um sítio pobre).
Lembro-me das reações quando chegávamos a cada rua e a cada casa, um acolhimento e uma alegria que nunca tinha visto em toda a minha vida, a nossa chegada significava que se estava a aproximar o mais esperado momento do verão “A colónia”.
Ver as crianças na rua a brincar era sentir toda a vida que havia naquela vila, e quando vinham brincar connosco era descobrir que havia sempre mais uma para nos saltar para as costas…
Lembro-me das portas abertas para nos receberem em suas casa e a alegria para nos apresentarem os bebés que tinham nascido durante o ano ou para nos mostrarem como as crianças tinham crescido durante o ano.
A generosidade e alegria das pessoas simples e humildes confirmavam que a espera tinha valido a pena.
Lembro-me que tivemos uma atividade de formação para os adolescentes que nos iriam ajudar a animar na colónia e ouvir os seus testemunhos e ver a sua dedicação mostravam-me como aquela semana marcava a vida dos participantes da colónia. Mais tarde descobri que também marcava a vida dos que a organizavam.
Ter conhecido a vila de Rabo de Peixe e ter animado a sua colónia de férias, tornou-me uma pessoa que procurava viver a vida com simplicidade, os momentos que lá se viviam faziam presenciar os ensinamentos de Jesus que nos manda ambicionar as coisas simples. Naqueles oito dias sentia que se construía o reino de Deus.
Acho que o grande desafio durante a colónia foi estar centrado na minha Missão. O que estava lá a fazer não era para me fazer sentir o preferido das crianças, estava ali para capacitar, para formar, era mais fácil fechar os olhos a uma traquinice de uma criança do que me zangar com ela por o ter feito, mas ajudo-a mais se me zangar e ensinar que não o deve fazer, esses eram os verdadeiros contributos ao seu crescimento (isto torna-se mais desafiante quando são várias traquinices, várias crianças e vários dias), mas no fim vale a pena. Acho que muitos dos grandes amigos que lá fiz foram aqueles com quem me zanguei mais, aqueles de quem tive de correr atrás quando se zangavam e corriam para “fugir da colónia”, porque no fim eles reconheciam que o que fazíamos era porque os queríamos muito e queríamos que conseguissem o melhor de si próprios.
Uns anos mais tarde voltei a Rabo de Peixe, mantinha contacto com algumas das crianças que tinha animado e que facilmente descobri que já não eram crianças quando lá cheguei… Contudo, a nossa entrega e as experiências que lhes tínhamos transmitido estavam cravadas na sua maneira de se relacionar com os outros, com as suas namoradas(os), maridos, mulheres, alguns já com os seus filhos. Durante o tempo em que estive envolvido no projecto, descobri a expressão de Santa Rafaela Maria “Educar com ternura e firmeza”, a colónia era para mim o exemplo mais concreto dessa expressão.
Luís Gaivão, atualmente integra o Conselho da Associação.