1. “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco” (Mc 6, 31)
Em nome do pai, do Filho e do Espírito Santo.
Ámen.
Evangelho segundo S. Marcos (Mc 6,30-34)
Naquele tempo, os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado.
Então Jesus disse-lhes: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer.
Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém.
Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles.
Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas.
Jesus tinha enviado os seus discípulos em missão, dois a dois e, agora, vemo-los regressar para partilharem com Ele as alegrias e os problemas, os sucessos e os fracassos. Não basta atuar, é também preciso partilhar o que se viveu.
O discípulo-missionário também precisa de tempo para contar a própria vida a Jesus e aos irmãos, de modo que tudo seja de todos, e avaliar o caminho percorrido, corrigi-lo, confirmá-lo, reorientá-lo para que corresponda cada vez melhor ao chamamento do Senhor.
Quando os viu regressar, Jesus fez, certamente, uma grande festa: acolheu-os com alegria, escutou-os com atenção, interessou-se pelos pequenos pormenores, alegrou-se com os sucessos, ajudou a discernir e a encontrar um sentido para os fracassos.
Sobretudo, preocupou-se com cada um, procurando que repousassem, pois regressavam cansados. Jesus queria os discípulos junto d’Ele para que descobrissem que Ele era o seu verdadeiro repouso: “Vinde a mim, todos os que andais cansados e oprimidos” (Mt 11, 28).
É por isso que Jesus os leva para um lugar isolado, como quando Deus conduziu o seu povo para fora do Egito para o fazer escutar a sua palavra, nutrir com o maná, saciar com a água do rochedo. É como se ouvíssemos Jesus repetir as palavras do profeta Oseias: “Ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração” (Os 2, 16).
Jesus tem por cada um de nós um amor de predileção. Ele quer estar com cada um de nós, saindo para um lugar isolado, onde nada nem ninguém possa perturbar a nossa comunhão, o colóquio secreto. Ele quer que lhe falemos de nós, que lhe contemos a nossa vida.
Como aconteceu com o povo no deserto, Jesus quer falar ao nosso coração, revelando-nos a sua palavra e a sua vontade, nutrir-nos com o maná da eucaristia, saciar-nos com a água viva da sua graça.
Como posso partir de novo a anunciar a vinda do Reino se não me renovo com a sua presença, se Jesus não me ilumina o caminho, sem ter a certeza de que ele está comigo?
[silêncio]
Jesus,
leva-nos para um lugar isolado,
a sós, contigo,
e torna-nos disponíveis e dóceis
ao teu convite.
Acolhe a nossa vida
com as alegrias e os sofrimentos de cada dia
que partilhamos contigo
e com os irmãos de missão.
Quem mais nos pode compreender verdadeiramente
e infundir luz e força?
Concede-nos a graça de apreciar a Tua presença
manifestando-nos os Teus desígnios sobre nós e sobre as multidões
de tal modo que, com a certeza da Tua presença
e apoiados na Tua ajuda,
possamos voltar para o meio das pessoas que esperam de nós
o pão da Tua Palavra e a segurança da Tua orientação.
Ámen!
[breve meditação para os restantes dias desta semana]
2. “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”
Parar não é fácil. Às vezes somos apanhados pelo turbilhão do trabalho e das atividades, como por uma engrenagem de que se perdeu o controlo. A sociedade impõe-nos, muitas vezes, um ritmo de vida frenético: produzir cada vez mais, subir na carreira, ser o primeiro…
Não é fácil enfrentar a solidão e o silêncio fora e dentro de nós. No entanto, são condições necessárias para escutar a voz de Deus, para confrontar a nossa vida com a Sua Palavra, para cultivar e aprofundar o relacionamento de amor com Ele. Sem esta linfa interior arriscamo-nos a andar à deriva e a nossa grande azáfama pode tornar-se inútil.
Daí a necessidade de períodos mesmo se breves – de descanso físico e mental, até para evitar o stress. Às vezes pode parecer-nos uma perda de tempo. Mas, também nisto, temos que ter confiança no convite de Jesus: “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”.
[silêncio]
Senhor, quero olhar hoje o mundo
com olhos cheios de amor,
ser paciente, compreensivo,
manso e prudente;
ver, além das aparências,
ver os Teus filhos como Tu mesmo os vês,
e assim não ver senão o bem em cada um.
Amen!
3. “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”
É verdade que o nosso amor pelos outros nutre, por sua vez, o amor a Deus e torna-o mais vivo e concreto, da mesma forma que a luz e o calor, através das folhas, robustecem as raízes. Amor a Deus e amor ao próximo são expressões de um único amor. A vida interior e a vida exterior são raízes uma da outra. Esta convida-nos, todavia, a cultivar com um cuidado especial a vida interior, sobretudo através do recolhimento, da solidão, do silêncio, de modo a aprofundar a nossa relação pessoal com Deus. Jesus repete agora a cada um de nós aquilo que, um dia, disse aos seus discípulos ao vê-los cansados de tanto se darem aos outros: “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”.
[silêncio]
Senhor, reveste-me da Tua beleza,
e que, no decurso deste dia,
eu Te revele a todos,
que a todos mostre o Teu amor.
Ámen!
4. “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”
O próprio Jesus, de vez em quando, afastava-se das suas muitas ocupações. Havia doentes para curar, multidões a quem instruir e matar a fome, pecadores para converter, pobres que era preciso ajudar e consolar, discípulos para orientar…
No entanto, embora todos O procurassem, Ele sabia retirar-se, sair da povoação e ir para uma montanha, a fim de estar só como Pai. Era como se regressasse a casa. No seu colóquio pessoal e silencioso encontrava as palavras que depois diria ao seu povo; compreendia melhor a sua missão; recuperava as forças para enfrentar o novo dia. E Jesus quer que também nós façamos o mesmo.
[silêncio]
Senhor, que eu seja tão bondoso e alegre,
que todos quantos se aproximarem de mim,
sintam a Tua presença.
Ámen!
5. “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”
Ao vermos uma árvore, admiramos a sua folhagem, as suas flores, e ficamos à espera dos seus frutos. Mas é das raízes que a árvore retira a vida. E o que acontece com cada um de nós. Somos chamados a dar, a amar, a servir, a criar relacionamentos de fraternidade, a trabalhar para construir um mundo mais justo. Mas são necessárias as raízes, ou seja, a vida interior da união com Deus, o nosso amor pessoal a Ele, que estimula e alimenta a vida de comunhão fraterna e o nosso trabalho no campo social.
[silêncio]
Senhor, fecha os meus ouvidos a toda a calúnia.
Guarda a minha língua de toda a maldade.
Que só de bênçãos se encha o meu espírito.
Ámen!
6.“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”
Jesus levou consigo os discípulos para que estivessem com Ele e, n’Ele, encontrassem descanso: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei-de aliviar-vos. (…) e encontrareis descanso para o vosso espírito”. O melhor descanso é arranjar tempo para “estar” com Jesus, deixando-se plasmar e guiar pela sua Palavra, procurando sempre amar.
[silêncio]
1. Senhor, dá-me um coração generoso
para curar os feridos, com o perfume da Tua misericórdia!
2. Senhor, dá-me um coração misericordioso
para dar a mão a quem precisa da minha ajuda.
3. Senhor, dá-me um coração firme
para não desistir nos momentos mais difíceis.
4. Senhor, dá-me um coração humilde
para viver o mistério da Tua Cruz, na carne de quem mais sofre.
5. Senhor, dá-me um coração forte,
próximo dos acusados, dos renegados e dos excluídos.
7. “Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco”
Podemos não ter muito tempo para estes momentos a sós com Jesus, pois as multidões aparecerão de novo e seremos tomados pela “compaixão”, fazendo nossos os seus sentimentos, as suas frustrações, as suas esperanças, os seus medos.
Somos convidados a espalhar palavras de vida que infundam esperança e a distribuir o pão que encha de força e encoraje para percorrer os caminhos da história. Mas não seremos capazes de nada, se nós próprios não tivermos saciado a nossa fome e a nossa sede em Jesus.
E, depois de termos partido, de termos realizado a missão, precisamos de regressar de novo, num constante jogo de solidão com Jesus e imersão na multidão, no meio da qual devemos encontrar também Jesus.
[silêncio]
Mãe que sempre espera e Senhora da esperança:
Ora pro nobis!
Mãe do sorriso e Senhora do silêncio:
Ora pro nobis!
Mãe sem fronteiras e Senhora do ardor:
Ora pro nobis!
Mãe do repouso e Senhora do caminho:
Ora pro nobis!
Mãe do bom conselho e Senhora do presente:
Ora pro nobis!
Mãe dos aflitos e Senhora da consolação:
Ora pro nobis!
Mãe do universo e Senhora do amor:
Ora pro nobis!
Mãe da ternura e Senhora da unidade:
Ora pro nobis!