O Relógio da Família: casais mais leves, para um mundo melhor

O Relógio da Família foi para nós um momento para parar, descobrir e redefinir a essência de nós como o casal e a família que somos e que queremos ser.

“O Relógio da Família foi para nós um momento para parar, descobrir e redefinir a essência de nós como o casal e a família que somos e que queremos ser. (…) E verificamos a necessidade real que um casal tem para parar e alinhar as suas cabeças e corações para que sejam os dois a escolher a Vida que querem viver, e não apenas a sobreviver na vida que o mundo nos obriga”. Estas são palavras da Carlota e do José (Torres Novas), acerca da sua participação numa das edições de “O Relógio da Família”, projeto a que nos temos dedicado desde 2013, e dão conta da liberdade para a descoberta que ali encontraram.

Essa é uma das principais marcas de “O Relógio da Família”, uma proposta em que o discernimento individual é o grande motor do encontro a dois, num caminho percorrido pausadamente em 7 tempos, distribuídos por dois fins-de-semana, e que tem a espiritualidade inaciana como grande matriz inspiradora. Isto significa que os participantes não são confrontados com a transmissão de conhecimentos por parte de casais formadores, antes sim encontram diferentes desafios em forma de interrogações que buscam eco no interior de cada um e, depois, acolhimento na intimidade do casal. Conforme afirmam a Maria João e o Abel (Coimbra), outro casal que já fez o percurso proposto, aquele foi um tempo que permitiu “um redesenhar das nossas convicções e a projetar a nossa individualidade, mas também o entendimento que temos sobre o nosso matrimónio e o que queremos providenciar como exemplo para os nossos filhos”.

Enquanto observadores privilegiados de tantas vidas que já escolheram “O Relógio da Família” – mais dos olhares e dos silêncios de cada um, mas também das palavras trocadas em plenário – a cada novo encontro reforçamos a certeza de que, no melhor e no pior, é na família que adquirimos as principais marcas do nosso ser e agir perante os outros e o mundo. É aí que podemos aprender a viver o afeto de um modo equilibrado; a nos relacionarmos com quem nos rodeia no respeito e liberdade pelo seu próprio eu; a acolher a diferença e, até, a ajudar a promovê-la; a viver e gerir os inevitáveis conflitos com a firmeza convicta de que a relação não está em causa; a rir e a chorar com a mesma naturalidade e certeza de acolhimento; a convidar o outro a mostrar-se tal qual é, sem que sinta medo de o fazermos sentir ridículo ou tonto; a perceber que a humildade é muito mais do que apenas disfarçar a vaidade; a compreender em profundidade, bem no centro do nosso eu, que o amor exige firmeza de decisão e acolhimento do dom do outro; e a construir em nós tantos outros aspetos da nossa própria humanidade. Mas também é na família que podemos ficar marcados por medos profundos, que dificilmente nos abandonarão ao longo da vida; por modos de relacionamento em que a dominação, mesmo que sub-reptícia, é a lógica que comanda; pela incapacidade de vivermos de e na realidade, que queremos sempre ver distorcida pelos nossos desejos e caprichos; por uma afetividade impulsiva, à flor da pele, atrofiada pela centralidade do próprio umbigo; pela dificuldade tremenda de perceber que uma vida excessivamente centrada em “eu e os meus”, mesmo que parecendo ilusoriamente altruísta, é também uma vida comandada pelo egoísmo. Tudo aspetos que deixam marcas que nos tornam a vida bem mais difícil e infeliz, sendo muito custosas de encarar e, mais ainda, de curar.

Para além disso, se é evidente que as crianças aprendem o que vivem, o modo como os seus pais se relacionam acaba inevitavelmente por ser a sua principal escola e o molde mais importante para o seu modo de ser e de estar. Isto é, uma relação pai/mãe afinada, profunda, livre, gratuita, atenta, feita de dádiva, acaba por ser o determinante maior na construção de pessoas felizes e, por conseguinte, de famílias felizes.

Destas duas convicções, da centralidade da relação do casal na família e do papel determinante da família na construção equilibrada de cada um dos seus membros, nasce a certeza de que famílias melhores ou, se quisermos ser mais específicos, famílias mais capazes de arriscar na busca e prática do amor gratuito, são a garantia de construção de um mundo melhor, porque feito por pessoas melhores, em saída de si mesmas. Assim, quem tem participado n’ “O Relógio da Família” acaba por reforçar a intuição que desde o início tivemos acerca do acerto do modo de proceder proposto, que busca uma maior leveza desta relação fundamental. A Diana e o Miguel (Braga), deixam clara esta noção da centralidade do casal, quando elogiam a “oportunidade de fugir da rotina, esquecer as fraldas e os brinquedos por uns instantes, para nos voltarmos a centrar em Nós, no nosso casamento, na relação e no quão importante é tê-la cuidada para que tudo o resto tenha sustentação”.

E é este tempo privilegiado para uma maior descoberta de quem de facto somos enquanto pessoas e casal, sem equívocos, que permite olhar a realidade tal qual é. Conforme dizem a Rita e o Nuno (Lisboa), “apercebemo-nos também das muitas ideias erradas sobre o que o outro pensava, bem como aspetos e acontecimentos sobre os quais nunca nos tínhamos debruçado.

Mas este diagnóstico da realidade não é a maior força de “O Relógio da Família”, ainda que desempenhe um papel fundamental. O discernimento aprofundado que é proposto é o primeiro passo para a concretização de um objetivo certeiro, de ação, materializado na construção concreta do projeto de família (de cada casal e de mais nenhum), definindo assim o modo como, a dois, se propõem viver todos os aspetos da sua realidade conjugal e familiar, desde a tomada das pequenas e grandes decisões, à gestão de conflitos, à sempre difícil relação com o trabalho, à interação da família com o mundo ou às formas como querem passar juntos os tempos-livres. Um projeto que é, normalmente, muito mais intuído por cada um, com os equívocos que isto pode trazer, do que decidido pelos dois, mas que aqui é moldado cuidadosamente a quatro mãos. Nas bonitas palavras da Isabel e do Pedro, participantes de Lisboa: “Depois, ficando só os dois. Com dores e alegrias, com o silêncio e os olhares que não se conseguem transpor logo para o papel. E encontradas as palavras, as respostas às questões suscitadas, elas revelam-nos o que realmente somos agora, como casal e como família e o que queremos vir a ser. Um tesouro que nos foi dado, um dom, escondido, esquecido pelo sono da rotina, enterrado neste terreno onde contruímos o nosso projeto. O terreno pelo qual vendemos tudo e pelo qual vale a pena dobrar-se e ajoelhar, arrancar as ervas daninhas e reconstruir um novo caminho.

No fundo, n’ “O Relógio da Família” propomos que cada um pare e descubra a dois tudo aquilo que é preciso tirar para que a sua relação conjugal se torne mais fresca e apetecível, como a dança de duas bolas de sabão que, suspensas no ar e conscientes da sua fragilidade, mantêm uma incrível capacidade de refletir luzes coloridas e de se elevar, leves como nunca.

PS: “O Relógio da Família” tem equipas a trabalhar ativamente nas zonas de Braga (Soutelo) e de Lisboa (Rodízio e Palmela) e é uma proposta aberta a todos quantos, crentes e não-crentes, desejam uma maior leveza na sua relação conjugal.

Paralelamente foram já criados pela mesma equipa dois outros projetos, também de inspiração inaciana: a “Arte do Encontro”, um sábado, em casal, para redescobrir o encanto do outro; e “Amores (im)perfeitos”, uma série de 3 encontros (o Amor; a Comunicação; o Compromisso) para namorados que querem aprofundar a relação e/ou confirmar a vocação.

Todas as informações práticas aqui.