A notícia chegou esta manhã com muita surpresa, daquelas que não ajudam a começar o dia. O Diogo Jota partiu. E levou consigo o irmão André, num acidente de carro. Sei que esta notícia será vivida de forma muito diferente por cada um, mas para quem aprendeu a gostar de futebol, para quem vibra com este desporto, o Diogo não era indiferente. Não será óbvio mas, a par de Cristiano Ronaldo, o Diogo era o meu jogador de eleição. O que sinto, e sei que será partilhado por outros, é profundo e estranho, porque, afinal, não o conhecíamos pessoalmente. Mas como é que se explica esta dor por alguém que nos era, ao mesmo tempo, tão próximo e tão distante?
No futebol encontramos heróis improváveis, histórias de superação, de resiliência e de trabalho árduo. E é aqui que a figura do Diogo se eleva, mesmo na sua estatura modesta. Não era um jogador de físico imponente, mas a sua agilidade, a sua determinação, a sua capacidade de decidir jogos, de entrar com o espírito certo para ajudar a equipa, faziam dele um prazer de ver jogar. Era um daqueles que, mesmo não sendo titular indiscutível, sabia que o seu momento chegaria e que o agarraria com unhas e dentes. Era um homem de equipa, um exemplo de dedicação.
E é aqui que está a magia e, por vezes, a complexidade da nossa relação com estes atletas. Aprendemos a gostar deles, a admirá-los, a inspirar-nos nas suas qualidades. Vemos neles reflexos de virtudes que valorizamos: a perseverança, a humildade, a paixão, a capacidade de se levantar após uma queda (e o Diogo, fruto de lesões, teve muitas). O Diogo parecia ser um bom homem, e essa percepção, construída através da sua postura em campo e fora dele, alimentava uma proximidade que não era só relação fã-ídolo. Não se trata de idolatria cega, mas de uma admiração genuína pela pessoa que se revela através do seu trabalho.
Como é que criamos estas relações? Primeiro o gosto pela modalidade e depois porque, no fundo, procuramos modelos que nos inspirem a ser melhores. E no futebol, como em tantos outros desportos, encontramos a beleza do esforço humano levado ao limite, a alegria da vitória e a dignidade na derrota. O Diogo, com a sua simplicidade e eficácia, ensinava-nos que não é preciso ser o mais forte ou o mais alto para ser decisivo, para ser um exemplo. Ensinava-nos que a vontade e a inteligência podem superar muitas barreiras.
O que podemos tirar desta perda, além da tristeza? Nestas alturas Deus fala connosco de forma muito óbvia: “Vigiai pois não sabeis o dia, nem a hora”. Convida-nos a pensarmos sobre a fragilidade da vida, sobre a exigência de vivermos cada momento da melhor forma.
O Diogo, aliás, foi um uma demonstração de que há outros caminhos para o topo. Não passou pelas academias dos “grandes”, não seguiu o percurso mais óbvio. Começou no Gondomar, brilhou no Paços de Ferreira, e foi a partir daí que construiu a sua ascensão, passo a passo, com mérito e trabalho. Chegou à elite do futebol mundial sem ter de trilhar o “caminho igual a todos”, criando um motivo de orgulho para a sua terra natal e para todos os que acreditam que o talento e a dedicação podem abrir portas, independentemente do ponto de partida.
O que podemos tirar desta perda, além da tristeza? Nestas alturas Deus fala connosco de forma muito óbvia: “Vigiai pois não sabeis o dia, nem a hora”. Convida-nos a pensarmos sobre a fragilidade da vida, sobre a exigência de vivermos cada momento da melhor forma.
O Diogo e a Rute tinham casado há menos de duas semanas, pela Igreja. Que bom. Um testemunho de amor e de fé que, neste momento de dor, se torna ainda mais forte. Os seus filhos, a Rute, os pais do Diogo e do André, e os que hoje sentem este vazio, a todos incluo na minha oração e abraço. Que Nosso Senhor os console, os anime e os ajude a encontrar a força para viver uma vida feliz. Que a esperança e a fé os guiem, e que a certeza da vida eterna lhes traga algum conforto.
O Diogo vai fazer falta nos relvados, vai fazer falta na minha forma de olhar para o futebol, um desporto de que tanto gosto. Que a sua alma encontre a verdadeira paz eterna junto do Pai, onde o jogo tem prolongamento sem fim.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.